Do museu de Amiens à casa de Madonna: o mistério do quadro de Langlois que desapareceu durante a Primeira Guerra Mundial mas, afinal, pode ter sido comprado pela cantora

CNN Portugal , MJC
17 jan 2023, 23:01
quadro

Mesmo sem saber se o quadro de Madonna é o original ou uma cópia, a presidente da Câmara de Amiens, em França, pediu a pintura emprestada à cantora. E agora?

"Madonna, você provavelmente nunca ouviu falar de Amiens, mas há uma ligação especial entre si a nossa cidade", começa por dizer Brigitte Fouré, presidente da câmara de Amiens, cidade no norte de França, num vídeo que publicou no Facebook dirigindo-se à famosa cantora norte-americana. Fouré tinha um pedido a fazer a Madonna: quer que ela empreste à cidade uma das suas obras de arte, mais precisamente uma pintura que Madonna comprou em 1989 num leilão da Sotheby's de Nova Iorque por 1,3 milhões de dólares e que está agora pendurada na parede de sua casa, como foi possível ver em algumas fotos publicadas na imprensa e nas redes sociais.

Nessas imagens, percebe-se que a pintura é muito parecida à "Diana e Endymion", realizada em 1822 pelo pintor neoclássico francês Jérôme Marin Langlois (1779-1838). A pintura a óleo, encomendada por Luís XVIII para pendurar no Salão de Diane no Palácio de Versalhes, foi adquirida pela república francesa em 1873. E foi exibida no Musée des Beaux-Arts - agora Musée de Picardie – em Amiens desde 1878. Mas, até há pouco tempo, acreditava-se que tinha sido destruída quando a cidade foi bombardeada, durante a Primeira Guerra Mundial.

Em março de 1918, na tentativa de romper as linhas aliadas, os alemães bombardearam Amiens durante 28 dias e 28 noites, destruindo grande parte da cidade, incluindo parte do museu. Muitas das pinturas foram retiradas para um local seguro. Quando foram devolvidas a Amiens após a guerra, o Langlois estava desaparecido. Foi classificado, primeiro, como “não rastreável desde o regresso das obras removidas em 1918”, e, depois, como “destruído pela queda de uma bomba no museu”.

Na altura em que Madonna adquiriu o quadro, ninguém em França reconheceu a obra pintada por Langlois, mas em 2015 um curador de Amiens reparou nela no fundo de uma fotografia de Madonna em sua casa publicada na revista Paris Match. Foi então que comçeram as dúvidas.

Poderá a obra de Madonna ser mesmo a pintura original? Um artigo recente no jornal Le Figaro sugere que sim. Apesar de alguns especialistas afirmarem que as medições mostram este quadro tem menos três centímetros de altura do que o original, outros contrapõem que essa parte pode ter sido cortada para eliminar a data e a assinatura do autor.

Entretanto, o museu entrou com uma ação legal contra “pessoas desconhecidas” pelo roubo da pintura. Fouré garante que Madonna não tem de se preocupar com estas ações. “Claramente, não contestamos de forma alguma que tenha adquirido este trabalho legalmente”, diz a presidente da câmara na sua mensagem. Mas Fouré acredita que se trata da obra original e, por isso, a única coisa que pede é que a cantora empreste a pintura à cidade se ela ganhar candidatura a capital europeia da cultura em 2028. "Os nossos habitantes poderiam redescobrir este trabalho e apreciá-lo", argumenta a autarca. 

“O meu objetivo inicial era fazer algo um pouco humorístico para pôr as pessoas a falar da minha cidade, principalmente nesta altura, em que decorre a candidatura para capital europeia da cultura [o resultado só será anunciado em dezembro]", explicou Brigitte Fouré ao jornal The Guardian.

"Diana e Endymion" de Jérôme Marin Langlois (DR)

“Achei que seria uma boa ideia perguntar a Madonna se nos poderia emprestar esta pintura que não vemos desde a Primeira Guerra Mundial. A pintura foi vendida num leilão perfeitamente legal; ela comprou-a e é dona dela. Não estou a pedir que nos ofereça a obra, mas que a empresta apenas durante algumas semanas."

Fouré diz ainda que a cidade gostaria de receber a visita de Madonna. “Seria incrível se ela viesse aqui, mas não acredito que isso possa acontecer", disse. Apesar disso, está contente porque agora "toda a gente está a falar de Amiens!". 

No entanto, alguns especialistas já advertiram que se a obra chegar a solo francês, provavelmente não poderá mais sair do país, primeiro porque existe uma ação legal e, depois, a confirmar-se que este é o quadro original, fica abrangido pela legislação que dita as obras pertencentes ao Estado francês não podem ser vendidas.

 

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