Os maiores falhanços tecnológicos de 2021

CNN , Rachel Metz
31 dez 2021, 11:00
Facebook. Créditos: Adobe Stock

Para muitos, 2021 foi um misto de esperança e desafio. A disponibilidade das vacinas tornou-se mais generalizada, mas a pandemia arrastou-se durante mais um ano. E apesar de a tecnologia ter continuado a manter-nos entretidos durante a pandemia, também tornou as nossas vidas muito mais difíceis.

Houve alturas este ano em que a tecnologia falhou ou não funcionou de todo. Desde falhas gigantescas da internet a ataques debilitantes de ransomware e uma série de problemas para a Meta, a empresa anteriormente conhecida como Facebook. Aliás, foram tantos que é a única empresa que vamos referir duas vezes neste artigo.

Eis a lista da CNN Business com algumas das catástrofes tecnológicas mais notáveis de 2021:

Facebook e LinkedIn sofrem enormes fugas de dados

Em abril, especialistas em cibersegurança disseram que os dados pessoais de 500 milhões de utilizadores do Facebook, incluindo números de telefone, datas de nascimento e endereços de e-mail, foram publicados num website usado por hackers. A Facebook disse na altura que os mesmos dados tinham anteriormente sido declarados como recolhidos dos perfis das pessoas por “intervenientes maliciosos” em 2019, e que o problema que permitiu isso foi resolvido no mesmo ano. O incidente revelou mais uma vez a que ponto as empresas que recolhem quantidades gigantescas de dados pessoais estão vulneráveis a criminosos.

Também em abril, a LinkedIn confirmou que dados disponíveis publicamente dos perfis de cerca de 500 milhões de utilizadores tinham sido colocados à venda no website de um hacker. A Linkedin disse na altura que a base de dados à venda era "na verdade uma agregado de dados de uma variedade de websites e empresas". A empresa disse também que “não foi uma fuga de dados da LinkedIn".

Aplicação Citizen identifica erradamente um suposto incendiário

Em maio, a Citizen, uma startup cuja aplicação envia alertas de crime em tempo real, ofereceu uma recompensa de 30 mil dólares por ajuda para determinar quem tinha deflagrado um incêndio florestal em Los Angeles. As pistas, incluindo a foto de um homem publicada na Signal, levaram a polícia a deter um suspeito. Houve apenas um problema (muito grande): afinal, ele foi erradamente identificado.

A empresa tinha usado um novo produto na sua aplicação, chamado OnAir, para divulgar as informações sobre o suspeito, mas diz que não seguiu o seu protocolo de verificação antes de pôr a informação a circular.

Ataques de ransomware tornam-se um grande problema

Este ano, os ataques de ransomware – nos quais os hackers adquirem acesso a um sistema informático e, basicamente, fazem uma empresa refém a troco de dinheiro – aumentaram abruptamente, especificamente os que foram dirigidos a empresas e infraestruturas cruciais. Um dos ataques principais em maio destacou a vulnerabilidade das infraestruturas norte-americanas a estes crimes: o oleoduto Colonial Pipeline.

Sendo um dos maiores oleodutos de combustível nos Estados Unidos, o Colonial Pipeline foi obrigado a parar de funcionar quando a sua rede foi alvo de um ciberataque que, aparentemente, foi possibilitado porque os hackers acederam a uma password enfraquecida. Mais tarde, o CEO do Colonial Pipeline admitiu ter pago um resgate de 4,4 milhões de dólares para a rede da empresa poder voltar a funcionar. Em junho, investigadores do Departamento da Justiça dos EUA dizem ter recuperado 2,3 milhões de dólares em criptomoedas pagas aos hackers que estiveram por detrás do ataque ao Colonial Pipeline.

Duas falhas desligam (brevemente) grande parte da internet

Aconteceu duas vezes em menos de duas semanas: grandes secções da internet foram abaixo, afetadas por falhas em empresas tecnológicas de que a maioria das pessoas nunca ouviu sequer falar. As falhas foram rapidamente detetadas e de curta duração, mas sublinharam o nosso grau de dependência da internet e a precariedade que a mesma pode ter.

Primeiro, a 8 de junho, inúmeros websites incluindo Reddit, CNN, Amazon e muitos outros ficaram às escuras devido a uma falha na Fastly, uma rede de entrega de conteúdos. Depois, a 17 de junho, um problema numa empresa semelhante, a Akamai Technologies, desligou websites incluindo os que pertencem à Southwest Airlines, United Airlines, Commonwealth Bank of Australia, e à Bolsa de Valores de Hong Kong.

A falha da Fastly foi detetada no espaço de um minuto e durou menos de uma hora para a maioria dos websites afetados. Já a Akamai avisou os clientes do problema numa questão de segundos e conseguiu corrigi-lo em quatro horas (e a empresa disse que a maioria dos clientes afetados ficou offline apenas alguns minutos).

Estas não foram as únicas grandes falhas da internet este ano: em dezembro, o serviço de cloud computing da Amazon sofreu três falhas que levaram a problemas para a Disney+, Slack, Netflix, Hulu e muitos outros. Também perturbou as operações logísticas da Amazon durante a importante época natalícia.

O dia horrível da Facebook

Segunda-feira, 4 de outubro, foi um dia horrível em várias frentes para a empresa que em breve seria rebatizada como Meta.

Na noite anterior, a denunciante da Facebook, Frances Haugen, revelou a sua identidade num segmento do "60 Minutos", ao afirmar que a empresa sabia que as suas redes sociais eram usadas para difundir desinformação, discurso de ódio e violência.

Haugen foi anteriormente a fonte anónima que divulgou milhares de páginas de documentos internos ao The Wall Street Journal, que resultaram, com início em setembro, numa série de notícias prejudiciais, conhecidas como Ficheiros Facebook.

Depois, na segunda-feira, uma grande falha desligou o Facebook, WhatsApp e Instagram durante horas. A empresa atribuiu a culpa a “alterações de configuração”. As suas ações caíram a pique nos mercados enquanto a empresa se viu a braços com os problemas das falhas e os efeitos da participação televisiva de Haugen. E preparou-se para um maior escrutínio regulatório, pois Haugen iria depor no dia seguinte perante os membros do Congresso. E também foi nesse dia que a empresa pediu a anulação de uma queixa por monopólio que tinha sido apresentada contra ela pela Comissão Federal de Comércio.

Esse dia foi um prenúncio do que ainda viria nesse mês. Em finais de outubro, um consórcio de 17 organizações noticiosas dos EUA começaram a publicar notícias baseadas em documentos incluídos em revelações feitas à Comissão de Valores Imobiliários e fornecidos rasurados ao Congresso pelo advogado de Haugen. O consórcio, que inclui a CNN, analisou as versões rasuradas recebidas pelo Congresso. As notícias incluíram pormenores sobre como grupos coordenados usam o Facebook para fomentar a violência (como aconteceu na insurreição de 6 de janeiro), e sobre como traficantes de seres humanos usam a rede social para explorar pessoas. A Facebook tem tentado repetidamente desacreditar Haugen, e disse que o depoimento dela e as notícias sobre os documentos representam erradamente os atos e esforços da empresa.

Zillow aprende uma dura lição sobre calcular o preço de casas com IA

Em novembro, a Zillow anunciou que ia pôr fim ao seu negócio de vendas de casas, Zillow Offers. A empresa indicou que a “imprevisibilidade na previsão dos preços de casas ultrapassava em muito” as suas expectativas.

A notícia foi uma espantosa admissão de derrota para a empresa do ramo imobiliário, que realizou uma alienação de 304 milhões de dólares dos seus ativos no terceiro trimestre, viu as suas ações caírem a pique, e disse estar a planear demitir duas mil pessoas, um quarto dos seus funcionários.

Mas também assinalou uma grande reviravolta quanto ao início do ano, quando a empresa parecia tão confiante na sua capacidade de usar IA para calcular o valor das casas que disse que a sua "Zestimate" iria servir, em algumas situações, como uma oferta inicial de compra. Pelos vistos, além de ser difícil comprar e vender casas para ter lucro, também é muito complicado usar IA para tomar decisões no mundo real.

Modo de “condução totalmente autónoma” da Tesla assusta condutores

Há muito que o CEO da Tesla, Elon Musk, promove o software de “condução totalmente autónoma” da construtora de veículos elétricos. No entanto, em finais de 2021, ainda não é completamente autónomo. Em vez disso, oferece ajudas ao condutor que exigem que os utilizadores concordem manter-se atentos ao volante caso tenham de assumir o controlo. Além disso, apenas um pequeno número de condutores de Teslas puderam até aqui experimentar este modo, incluindo um grupo de clientes que pagaram 10 mil dólares cada um pela versão “beta” da funcionalidade.

E apesar de a funcionalidade poder parecer fantástica, os condutores que a usaram disseram à CNN Business em novembro que, tirando o fator espanto, muitas vezes não sabem o que o carro vai fazer. É uma perspetiva horrível quando vamos ao volante de uma viatura que pesa milhares de quilos. Em novembro, a CNN Business experimentou a funcionalidade num Tesla Model 3 nas ruas de Nova Iorque e os resultados foram, por vezes, assustadores: o software tentou atirar o carro contra uma carrinha de entregas para evitar um ciclista, tentou conduzir do lado errado da estrada e quase atingiu uma vedação, entre outros problemas.

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