Esta fotografia de um urso polar está a ajudar a salvar o mundo - mas é preciso ter mais imagens assim

CNN , Cristina Mittermeier
8 dez 2021, 16:01
Fotografias de Cristina Mittermeier

Como fotografar e contar histórias podem transformar a apatia em luta contra as alterações climáticas. Começando por estas fotografias "deslumbrantes"

Passei grande parte da minha carreira a contar histórias através da utilização de imagens deslumbrantes e de mirabolantes histórias pessoais para mobilizar as pessoas. É da mobilização das pessoas que o planeta precisa para ser salvo. Não podemos continuar sem fazer nada, quanto mais regredir.

É comum sentirmos que a verdadeira ameaça das alterações climáticas seja arrebatadora ou distante, retirando-nos o sentimento de urgência que nos leva a fazer algo. Mas eu percebi que as histórias podem transformar a apatia em luta. Criar laços através das histórias é essencial para desbloquear a crucial luta contras as alterações climáticas nesta década.

Em 2017, publiquei uma fotografia de um urso polar emaciado numa tundra infértil no ártico como ponto de entrada para uma conversa sobre as alterações climáticas. Foi vista por milhões de pessoas e daí resultou um diálogo generalizado sobre as medidas necessárias para criar um movimento suficientemente abrangente que ativasse soluções.

Uma pequena parte da história desse urso polar foi suficiente para desencadear o interesse global que eu almejava, mas esse momento catalisador não chegava para ajudar a alimentar a mobilização coletiva necessária para salvar o planeta.

No ano passado, fundei a Only One Collective através de uma parceria, numa organização que potencializa a narração de incríveis histórias visuais para a construção de uma gigantesca base de apoio para a conservação dos oceanos e a luta contra as alterações climáticas. Trabalhamos com líderes locais, cientistas e inovadores que desenvolvem e implementam soluções cruciais, mobilizando a plateia que merecem e incitando a que tomem medidas.

Reuni-me com líderes mundiais na linha da frente da mudança e o entusiasmo e compromisso deles é contagiante. Tive oportunidade de aprender com um grupo de jovens da ilha de Mo’orea, no Pacífico Sul, que se intitulam de “Jardineiros de Coral” e têm em mãos a complexa tarefa de restaurar o recife da ilha.

Estive com comunidades indígenas na América Central, que combatem o gigantesco volume de plástico que lhes varre as costas marítimas onde vivem há séculos. São pessoas que lidam diariamente com graves problemas climáticos e que estão a desenvolver as soluções de que o mundo precisa. São estas pessoas que devemos escutar.

Soluções marítimas

Sabemos vagamente o que tem de acontecer se queremos salvar o planeta. Temos de reduzir as emissões de carbono para manter o aquecimento global na casa dos 1,5 °C e temos de fazer mais pela conservação das espécies e habitats que mantêm o planeta saudável, tentando proteger um mínimo de 30% dos oceanos até 2030.

A boa notícia é que as soluções marítimas podem ajudar a impulsionar mais de 20% das reduções necessárias em emissões. Os mangais são apenas um dos exemplos em como a vida marinha pode fazer o eficiente papel de “esponjas de carbono”, armazenando até 10 vezes mais carbono por hectare que uma floresta tropical. Números igualmente impressionantes aplicam-se aos mantos de ervas marinhas e outras formas de vegetação marinha. Mamíferos aquáticos como as populações de baleias e tubarões também absorvem imenso carbono, tendo um incrível potencial climático que só agora começamos a conhecer.

Créditos: Cristina Mittermeier

O que irá salvar o nosso clima é conseguir que mais pessoas reconheçam que o oceano não é apenas vítima das alterações climáticas, mas o caminho a seguir.

Temos o potencial para ver o verdadeiro impacto na nossa existência. Em 2030, podemos ter ressuscitado os ecossistemas marítimos para absorver perto de quatro mil milhões toneladas métricas de CO2 por ano, o equivalente a retirar das estradas dois mil milhões de carros por ano.

Mas esses esforços não têm tido os financiamentos necessários. Temos de investir em projetos de carbono azul como as ervas marinhas, algas e mangais, acelerando a adoção de projetos de energias marítimas renováveis.

Ainda está a ser avaliada a viabilidade de outras soluções de origem natural como a reflorestação de algas e a utilização de bactérias que digerem plástico, mas existe um potencial tremendo à espera de mais testes e apoios.

Chamar a atenção para o problema

Espero que voltar a tocar no assunto e chamar a atenção para o problema, para os riscos e para as soluções de elevado impacto que as comunidades na linha da frente desta luta e os líderes mundiais já levam a cabo, possa resultar em ganhos substanciais para a próxima década.

A fotografia e as histórias têm um papel crucial no impulsionamento do financiamento e promoção necessários, e estou grata por poder ter um papel ativo no apoio a estas importantes oportunidades.

Não é uma tarefa fácil e fotografá-la é igualmente desafiante. Captar uma imagem suficientemente poderosa que retrate de imediato a urgência em mãos é como tentar fotografar um tsunami em câmara-lenta. No início, é impercetível. A linha costeira sofre alterações e a temperatura sobe apenas uns graus no oceano. Depois, de repente, os furacões tornam-se comuns, deflagram incêndios descontroladamente e as paisagens marítimas transformam-se em cemitérios abandonados.

Vemos essas imagens quase diariamente, mas não estamos a estabelecer os paralelismos necessários. Está na altura de já não nos podermos dar ao luxo de ficar parados a debater os “ses” desta crise global.

O capítulo seguinte da vida na Terra definir-se-á pelas nossas ações no presente e os oceanos deverão estar no topo da lista de soluções de tudo o que for possível.

Nota de editor: Cristina Mittermeier é uma bióloga marinha e ativista pioneira no campo da fotografia de conservação. Foi uma das fundadoras da SeaLegacy em 2014, uma rede de contadores de histórias que alimenta uma comunidade concentrada no rejuvenescimento da saúde dos oceanos. Em 2010, Mittermeier anunciou a Only One, que utiliza o poder dos média para inspirar as pessoas a tomar medidas para reconstruir a vida nos oceanos e, este ano, juntou-se à iniciativa Rolex’s Perpetual Planet numa colaboração para a conservação da natureza. A Call to Earth é uma parceria entre a CNN e a Rolex. As opiniões expressadas nos anteriores comentários são da autoria da escritora.

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