Ultrapassagens ilegais, colisões, halos que salvam vidas, irreverências e absoluta loucura: 5 momentos de Verstappen vs Hamilton

13 dez 2021, 19:04
Lewis Hamilton e Max Verstappen em disputa no Grande Prémio de Fórmula 1 em Monza, Itália. Foto: AP

Confronto teve capítulos bem quentes, dignos da Era de Ouro do desporto

Foi com grande emoção que terminou mais uma época de Fórmula 1. E que bela foi. Ao contrário de boa parte das temporadas anteriores, a Mercedes teve oposição forte o ano inteiro, quase toda ela concentrada nas mãos de um jovem: Max Verstappen.

Com a vitória em Abu Dhabi, o neerlandês sagrou-se campeão do mundo pela primeira vez, sendo também o único a conseguir derrotar a marca alemã na era híbrida. Um feito monumental cujos cinco momentos capitais aqui revemos.

1. O aperitivo e aquela primeira travagem

O ano começou com um aperitivo do que seria o resto da temporada. A batalha entre Verstappen e Hamilton no Bahrain foi uma das mais renhidas, com a vitória a sorrir ao britânico após o piloto da Red Bull ser forçado a devolver a posição a poucas voltas do fim por uma ultrapassagem considerada ilegal.

Com um segundo lugar na Emilia Romagna, apesar de um pequeno acidente, e vitórias em Portugal e Espanha, Hamilton assumiu a liderança do campeonato. Mas o primeiro deslize veio logo a seguir, no Mónaco. Um acidente de Charles Leclerc na última qualificação do fim de semana impediu o piloto da Mercedes de fazer melhor que um oitavo na qualificação. Na corrida pelas ruas estreitas do principado, já se sabe, ultrapassar é missão quase impossível e Hamilton ficou bem distante do vencedor Verstappen, que, com o sétimo lugar do inglês, assumiu pela primeira vez o comando do campeonato.

A sexta ronda, Baku, não desapontou, como sempre. O rebentar de um pneu na reta principal atirou Verstappen contra as barreiras a cinco voltas do fim e espoletou uma bandeira vermelha. No recomeço, quando tudo se preparava para Hamilton vencer o Grande Prémio, eis que o britânico falha a primeira travagem e é engolido pelo resto do pelotão, com a vitória a sorrir a Sergio Pérez.

2. Absoluta loucura

As três corridas seguintes foram um “banho de bola” da Red Bull à Mercedes. Uma ultrapassagem na penúltima volta em Paul Ricard, bem como duas vitórias convincentes na Áustria, deram a Verstappen uma vantagem de 32 pontos na tabela, diferença importante num campeonato tão apertado. Mas (quase) tudo colapsou em Silverstone.

Numa meia volta de absoluta loucura, o neerlandês e Hamilton trocaram sucessivas vezes de posição até se tocarem em Copse, com o contacto a projetar Verstappen para as barreiras a alta velocidade. Max, que saiu ileso do acidente, via agora a diferença reduzir-se para apenas oito pontos. Contudo, o azar não ficou por aí.

Na corrida seguinte, na Hungria, o franco-atirador Valtteri Bottas disparou Lando Norris contra Verstappen, que ficou com o carro bastante danificado, não sendo capaz de ir além do nono lugar. Hamilton, esse, acabou somente atrás do surpreendente Esteban Ocon e recuperou o primeiro lugar do campeonato. Do nada, uma vantagem confortável esfumou-se e o neerlandês passou de caçado a caçador.

Colisão entre Verstappen e Norris, após toque de Valtteri Bottas no britânico (AP)

3. A colisão em Monza - e aquele halo

Certo é que Max lidou bem com os contratempos e foi capaz de vencer os dois grandes prémios seguintes: o polémico em Spa, em que não houve corrida sem ser atrás do safety car; em casa, no circuito de Zandvoort, para delírio do público neerlandês. Novamente com Verstappen a liderar a classificação, o mundial rumou a Monza. E muita tinta correu nesse domingo

Uma paragem muito lenta de Verstappen deu à Mercedes a possibilidade de colocar Hamilton à frente do piloto da Red Bull. O britânico, saído das boxes, e o neerlandês, vindo da longa reta da meta do templo da velocidade, chegaram à apertada primeira chicane lado a lado. Nenhum quis dar espaço. O contacto foi inevitável.

Acidente entre Verstappen e Hamilton no Grande Prémio de Itália (AP)

A troca de “galhardetes” subiu de tom a partir desse dia. Hamilton, que afirmou que o halo lhe salvou a vida, confessou ficar “surpreendido” com o facto de Verstappen não ter ido verificar se o seu adversário estava bem. Max ripostou: “Ele ficou bem. Ainda estava a tentar fazer marcha-atrás quando eu já estava fora do carro. Quando não estás bem, não fazes isso”.

Uma das rodas traseiras do carro de Verstappen quase atingiu a cabeça de Lewis Hamilton (AP)

4. O primeiro match point

Os líderes evitaram-se nas duas corridas seguintes, na Rússia e na Turquia, das quais saiu um balanço positivo para o neerlandês, que aproveitou uma penalização de Hamilton no Istanbul Park para reforçar a liderança na geral.

Em Austin, o britânico quase alcançou o piloto da Red Bull na última volta, mas Verstappen resistiu à pressão final e triunfou pela primeira vez em solo americano. No México, desfecho semelhante, com pouca história. Max tinha agora 19 pontos de vantagem à entrada dos quatro Grandes Prémios finais.

E eis que Hamilton descobre o rumo certo novamente. Uma excelente recuperação em Interlagos, após o último lugar na qualificação, e uma vitória relativamente tranquila no Qatar reposicionaram o piloto de Stevenage na luta pelo título. Na Arábia Saudita, o primeiro match point: se Hamilton não terminasse a corrida, bastava a Verstappen terminar na segunda posição para se sagrar campeão.

A corrida em Jeddah foi tudo menos desapontante, como muitos adeptos previam. Um circuito novo, desconhecido, e uma prova cheia de bandeiras vermelhas e safety cars. Na 37ª volta, depois de um cheirinho a contacto, Verstappen é obrigado a ceder posição a Hamilton. Ao tentar fazê-lo, os dois colidem, num incidente muito semelhante ao que envolveu o britânico e Vettel em 2017, no Azerbaijão.

“Ele fez-me um brake-test”, exclamou Hamilton pelo rádio. “Não faço ideia o que está a acontecer”, disse o engenheiro de Max, Gianpiero Lambiase.

A perplexidade estendia-se a todos os que estavam a ver a disputa surreal. A vitória acabou por sorrir a Hamilton, que, com os 25 pontos da vitória, mais o de bónus pela volta mais rápida, igualou o neerlandês no Mundial. Estava assim pronto o espetáculo para um dos finais mais renhidos da história da Fórmula 1.

5. Dramático

Esperava-se que as alterações feitas ao circuito de Yas Marina beneficiassem a Mercedes. A qualificação, porém, colocou Max Verstappen na pole position para a corrida mais importante da sua carreira até então.

Mas se a qualificação correu de feição a Max, não se pode dizer o mesmo do início da corrida. Hamilton assumiu de imediato a liderança após o arranque, não sem polémica à mistura logo na primeira volta.

Ao sofrer uma ultrapassagem de Verstappen na curva 6, o piloto britânico “atalhou” caminho e ganhou uma vantagem muito superior àquela que tinha antes da manobra do piloto da Red Bull. Perante os protestos da escuderia austríaca, os comissários são claros. “Não há investigação necessária” foi a comunicação que surgiu nos ecrãs, para incredulidade de muitos adeptos da modalidade.

Com o passar das voltas ficava cada vez mais claro quem estava melhor. Sergio Pérez ainda atrasou Hamilton o mais que pôde e fez com Verstappen se colasse de novo ao Mercedes. “O Checo é uma lenda”, comunicou o neerlandês por rádio. Assim que Pérez deixou de atrapalhar, contudo, o inglês voltou a distanciar-se. Tudo parecia bem encaminhado para o sete vezes campeão do mundo.

Na volta 53, o volte-face dramático. Nicholas Latifi despista-se e entra o safety car. Verstappen vai à boxe, Hamilton segue em pista. Quando tudo esperava que os dois gladiadores voltassem a estar juntos, o diretor de corrida Michael Masi anuncia que os carros entre Hamilton e Verstappen não têm autorização para se desdobrarem, isto é, passarem o safety car, dar uma volta ao circuito e reagruparem-se no final do grupo.

De forma inexplicável, porém, o australiano voltou atrás na decisão, mas parcialmente: só os cinco carros entre os dois líderes do campeonato poderiam desdobrar-se. Toto Wolff, homem forte da Mercedes, apressou-se a contestar a decisão, mas nada feito. O neerlandês, de pneus macios novos, tinha uma oportunidade de ouro para se sagrar campeão do mundo. E não a desperdiçou.

Max Verstappen celebra o título mundial de 2021 (AP)

Se merecia ou não ganhar esta corrida é assunto para outro artigo. Mas que Verstappen merecia o campeonato, isso não há dúvidas. Tirar um título à Mercedes (que ainda apresentou dois protestos, rejeitados) na era híbrida parecia uma tarefa impossível. Max põe agora o seu nome junto a figuras como Ayrton Senna, Alain Prost, Michael Schumacher e o próprio Lewis Hamilton. Muitos consideram-no irreverente, intragável e perigoso. Mas, acima de tudo isso, Max é o melhor piloto da atualidade e o campeão do mundo em título.

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