Regina Mateus foi a primeira mulher em Portugal a ser promovida a general, em 2018, e garante que nas Forças Armadas nunca se sentiu prejudicada por ser do sexo feminino
Foi a primeira mulher em Portugal a ser promovida a general nas Forças Armadas e garante que nunca se sentiu prejudicada por ter um papel de poder numa área que esteve longos anos vedada ao sexo feminino. Regina Mateus, 58 anos, está hoje na reserva e assegura que não se revê no grupo de pessoas que critica o meio militar e o acusa de não dar as mesmas oportunidades às mulheres.
“Ao longo dos anos nunca senti discriminação por ser uma mulher nas Forças Armadas. Tive as mesmas oportunidades do que os homens”, diz Regina Mateus que fez a sua carreira na Força Aérea, contrariando, assim, a ideia, que muitas vezes surge em debate, de que há falta de representação de mulheres - como foi o caso recente da economista Susana Peralta, que escreveu no X que “A defesa da Nação não é assunto para gajas”. Isto para comentar uma fotografia da última reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional, a 8 de julho, onde à volta da mesa com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que preside a este órgão, só havia homens - tendo em conta que não se encontravam as duas únicas mulheres que ali têm assento por inerência do cargo (a ministra da Administração Interna e a ministra do Ambiente).
Mas a mulher que em 2018 se tornou na primeira general do país adianta que a realidade que viveu na estrutura militar durante os longos anos que ali esteve foi muito diferente deste cenário de discriminação. Regina Mateus assegura mesmo que nunca notou qualquer obstáculo de parte dos colegas homens de quem era superior e a quem dava ordens. “Sempre senti que me respeitavam. Não por ser ou não mulher, mas por ser general.”
Lembra-se bem do dia em que foi promovida e que todos à sua volta "achavam espetacular” vê-la a tornar-se a primeira militar a assumir aquele posto no país. Mas Regina Mateus garante que não sentiu nada de especial, mas apenas estar num momento natural da sua progressão. “Foi uma coisa normal”, considera.
Um emprego para a vida
Regina Mateus nasceu em Moçambique e veio para Portugal com a família quando tinha oito anos. E foram precisamente as dificuldades que ela e os familiares passaram que a fizeram escolher a carreira militar.
“Era uma carreira que dava a garantia de segurança e estabilidade, pois dava acesso ao quadro permanente e eu não podia ser despedida”, conta à CNN Portugal, lembrando que o seu objetivo era nunca mais passar pelo que ela e a família tiveram de enfrentar quando regressaram de “África e ficaram perdidos” sem saber como viver.
Em 1993, já médica, entrou para a Academia Militar onde fez uma formação de três meses e em janeiro de 1994 entrou para a Força Área onde “fez o percurso igual a todos os homens”.
Foi colocada no antigo hospital da Força Aérea, tendo depois concluído o curso de medicina aeronáutica e passado por várias funções e participado em diversas operações internacionais, incluindo em situações de guerra. “Estive, por exemplo, no Afeganistão, onde era médica de apoio às esquadras nas missões."
No início de 2017 começou a frequentar o curso de promoção a oficial general no Instituto Universitário Militar e foi promovida em 2018, ano em que assumiu o cargo de diretora do Hospital das Forças Armadas. Decidiu ir para a reserva e continuar a sua carreira médica. Ter sido a primeira mulher em Portugal a chegar ao topo de uma carreira durante muitos anos reservada a homens não é, garante, o mais importante, mas sim o que fez nas Forças Armadas.
Mas o ministro da defesa que a promoveu a general, João Gomes Cravinho, teve uma opinião bem diferente sobre o que Regina Mateus representou para o país. E isso mesmo deixou claro no comunicado que o Ministério da Defesa fez naquele dia, onde o momento foi classificado "de grande simbolismo” e a promoção vista como "um telhado de vidro que se quebra".