Folhetim de voto | O Governo descobriu armas de graça

24 abr, 08:00
Luís Montenegro na apresentação do programa eleitoral da AD (Lusa)

A campanha sai da Páscoa para o 25 de abril antes de chegar ao 1 de maio. Três fins de semanas prolongados ajudam a justificar dias quase vazios de política

O FAZ DE CONTA. Esta coisa de dizer que a despesa do Estado com a Defesa não vai sacrificar nada do que o Estado faz hoje tira-me do sério. É um truque de palavras mas não de números: o PSD e o PS concordaram na ativação do mecanismo de salvaguarda junto de Bruxelas para excluir do cumprimento das regras orçamentais uma parte relevante do investimento em Defesa. OK, mas a despesa vai lá estar na mesma. Bruxelas tolera-a, mas ela terá de ser paga e paga por impostos.

Das três uma: ou a AD e o PS estão a enganar os portugueses escondendo o custo real dessa despesa; ou o AD e o PS estão a enganar a NATO e a UE porque na verdade nenhum deles pretende aumentar grande coisa o investimento em defesa; ou a AD e o PS estão a enganar-se a si próprios e não têm ideia do que hão de fazer no futuro.

O próprio FMI disse-o esta semana: pediu aos países que vão aumentar a sua despesa em Defesa que elaborem planos de financiamentos credíveis. Como? Com aumento de impostos ou com cortes noutras despesa. Ora leia: “O aumento das despesas deve ser apoiado por planos de financiamento credíveis que especifiquem a forma como serão financiadas, incluindo a combinação prevista de medidas fiscais e de despesas”.

“Os aumentos permanentes das despesas com a defesa devem ser acompanhados de planos de financiamento credíveis que descrevam a forma como esses aumentos serão financiados gradualmente, juntamente com a combinação esperada de aumentos de impostos e cortes nas despesas, em função da margem orçamental disponível no país”. Relatório Fiscal Monitor do Fundo Monetário Internacional, apresentado esta quarta feira.

Em Portugal, está tudo a fazer de conta. É uma campanha eleitoral.

AS CONTAS CERTAS. Não há partido hoje em Portugal que não defenda contas certas. Ainda há dois dias André Ventura confrontava Mariana Mortágua sobre onde iria o Estado buscar dez mil milhões de euros para comprar empresas privatizadas como a Galp, a REN, a ANA e os CTT. Boa pergunta. E o que fez André Ventura no dia seguinte? Anunciou as pensões mínimas iguais ao salário mínimo nacional, promessa já feita há um ano, e então calculada num aumento de despesa de cerca de… dez mil milhões de euros.

O NÃO FAZ CONTAS. Há muitas propostas de vários partidos que nunca avançarão por falta de dinheiro, mas é impossível não isolar o Chega no campeonato dos delírios. O programa eleitoral apresentado ontem custa, por alto, mais de 5% do PIB, entre perda de receitas (como a descida do IVA e o fim das portagens) e aumento da despesa (desde logo, nas pensões). Está bem, abelha.

DE ONDE VEM O DINHEIRO? Em campanha eleitoral, vem sempre dos mesmos sítios: quase sempre do crescimento económico e muitas vezes do combate ao desperdício no Estado, à esquerda vem de taxar os ricos, à direita do combate à corrupção. Fácil, não é?

DIREITA FAVORITA. O Nascer do Sol desta quinta-feira traz-nos uma nova sondagem, que dá vitória à AD e possibilidade de maioria com a Iniciativa Liberal. É o sonho de Luís Montenegro e talvez também de Rui Rocha, cujas recentes intervenções já mostram sede em entrar no governo: fazerem um governo de maioria dispensando o Chega. Nesta sondagem, a direita tem perto de 58% das intenções de voto.

LISBOA DECIDE? A concentração de votos nas grandes cidades será, como sempre, essencial para converter percentagens de voto em deputados eleitos. Como partido mais urbano, a Iniciativa Liberal conta com isso para poder ascender. Mas Ventura parece ter outra ambição: a de ganhar em Lisboa. Isso mesmo disse ele há dias, de passagem, num debate televisivo, sugerindo que tem indicações de força do Chega na Grande Lisboa.

DEIXEM A FAMÍLIA EM CASA. Há um ano, Mariana Mortágua falou da sua avó num debate, como suposta vítima do mercado de arrendamento, e o feitiço virou-se contra o feiticeiro. Também no ano passado, Rui Tavares falou do seu filho fotografado na escola para criticar o Chega e a crítica fez ricochete porque a escola era privada. Este ano, também num debate, André Ventura compungiu-se sobre a sua pobre pequena casa que afinal não era assim tão pobre nem pequena e o tiro saiu pela culatra. Luís Montenegro passa a vida a falar dos filhos, supostamente prejudicados por serem filhos de quem são – e faz questão de o mostrar. Pedro Nuno leva o filho a comícios e publica fotografias com ele. Cada um faz o que quer, mas esta nova mania de os candidatos levarem casos familiares como exemplos representativos do país é não só irreal como, pelos vistos, perigosa para os próprios – e, já agora, para a exposição dos parentes que, por muito amor que nutram, não são figuras públicas.

Decisão 25

Mais Decisão 25
IOL Footer MIN