Ameaçou a Península Ibérica e afetou voos, mas acabou por cair no Oceano Pacífico. O que se passou com os destroços do foguetão chinês

4 nov 2022, 15:04
Trajetória prevista do fragmento do foguetão chinês

Os destroços de um foguetão lançado pela China na segunda-feira provocaram o caos nos aeroportos em Espanha. Mas este não é um caso isolado

O alerta foi dado às primeiras horas da manhã desta sexta-feira: os destroços de um foguetão chinês caíam de forma descontrolada, com a trajetória a incluir a Península Ibérica na rota de colisão.

O relatório da Agência Europeia de Segurança Aérea (EASA, na sigla em inglês) detalhou que o foguetão poderia afetar a ilha de Santa Maria e Lisboa (Portugal), as Ilhas Canárias, Madrid e Barcelona (Espanha), Marselha (França), Roma e Brindisi (Itália), Atenas (Grécia) e Nicósia (Chipre). Espanha foi a primeira a reagir, ao interromper o tráfego aéreo dos aeroportos da Catalunha e de Ibiza, durante cerca de uma hora. Vários voos tiveram de ser desviados ou até mesmo cancelados.

Portugal, por sua vez, não registou constrangimentos. À CNN Portugal, a ANA Aeroportos indicou que entrou em contacto com a NAV - que controla o tráfego aéreo em Portugal - que, por sua vez, adiantou que recebeu uma ordem da ANAC para reservar espaços aéreos em determinadas áreas do país. Também as companhias aéreas que operam em Portugal foram avisadas.

A Agência Espacial Portuguesa, que acompanhou a situação, adiantou à CNN Portugal que as últimas previsões estimavam que o fragmento reentrasse cerca das 10:20. Após ter deixado várias agências em alerta, os destroços acabaram, finalmente, por cair a nordeste do oceano Pacífico às 10:06 (hora de Portugal Continental).

A EASA retirou, entretanto, o alerta e o tráfego aéreo foi retomado gradualmente, mas podem ainda verificar-se perturbações ao longo do dia devido aos atrasos causados pelo encerramento de parte do espaço aéreo espanhol.

Detritos espaciais: China já tem antecedentes

Esta não é, contudo, a primeira vez que a China gera alarme global na sequência do lançamento de um foguetão que é parte do seu ambicioso programa espacial - o Long March-5B Y4, que colocou a última fase da sua estação espacial em órbita. Aliás, a sucessão de casos já levou a NASA a classificar a atitude chinesa como irresponsável. Isto porque, ao entrarem na Terra, podem cair ou lançar detritos em qualquer região.

A última vez que a China provocou um susto deste género foi a 30 de julho, quando grande parte de um foguetão se desintegrou no Sudeste Asiático. Em maio de 2021, os restos de um foguetão também colocaram em risco a Península Ibérica, embora tenham caído depois no Oceano Índico, perto da Índia e do Sri Lanka. E a NASA respondeu com uma declaração altamente crítica: "É óbvio que a China não está a cumprir os padrões responsáveis ​​em relação aos seus detritos espaciais".

A China respondeu às críticas, acusando os EUA de “exagerar nos medos” sobre a reentrada do foguetão.

Importa referir que os casos chineses não são os únicos detritos de equipamentos construídos pelo homem a caírem na Terra, mas a reentrada controlada dos foguetões, para minimizar o risco de cair numa zona povoada, é uma medida defendida por outras agências.

Segundo explica o EUSST, órgão de Vigilância e Rastreamento Espacial da União Europeia, o programa espacial chinês deliberadamente deixa cair uma parte dos foguetões Long March de forma descontrolada na Terra cada vez que são usados. 

O lixo espacial, como os satélites antigos, reentra na atmosfera terrestre diariamente, embora a maior parte passe despercebida porque arde muito antes de atingir o solo. Apenas os detritos espaciais maiores - como naves espaciais e partes de foguetões - representam um risco muito pequeno para humanos e para as infraestruturas no solo.

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