Detritos de foguetão chinês podem cair em breve na Terra. Saiba onde é mais provável

CNN , Kathleen Magramo, Katie Hunt e Kristin Fisher
28 jul 2022, 13:32
Wentian. Li Gang/Xinhua/Getty Images

Os destroços do enorme foguetão chinês que entregou um novo módulo à sua estação espacial na segunda-feira devem cair na Terra no início da próxima semana, segundo o Comando Espacial dos EUA, que está a rastrear a trajetória do foguetão.

O foguetão Long March 5B, de 23 toneladas, que transportava o módulo de laboratório Wentian, descolou da Ilha de Hainan às 14h22, hora local, no domingo, 24 de julho, e o módulo atracou com sucesso no posto avançado orbital da China.

Tendo concluído o seu trabalho, o foguetão iniciou uma descida descontrolada em direção à atmosfera terrestre e não se sabe bem onde cairá. A descida descontrolada marca a terceira vez que o país é acusado de não lidar adequadamente com os detritos espaciais dos seus foguetões.

“É um objeto metálico de 20 toneladas. Embora se vá desfazer ao entrar na atmosfera, vários pedaços - alguns deles bastante grandes - atingirão a superfície”, disse Michael Byers, professor da Universidade da Colúmbia Britânica e autor de um estudo recente sobre o risco de vítimas dos detritos espaciais.

Os detritos espaciais representam um risco bastante reduzido para os seres humanos, explicou Byers, mas é possível que pedaços maiores possam causar danos se caírem em regiões habitadas. Byers disse que, devido ao aumento do lixo espacial, essas pequenas probabilidades estão a tornar-se cada vez mais prováveis, especialmente na região Sul do planeta, segundo a pesquisa publicada na revista “Nature Astronomy”, havendo cerca de três vezes mais probabilidades de os corpos dos foguetões caírem nas latitudes de Jacarta, Daca e Lagos do que nas latitudes de Nova Iorque, Pequim ou Moscovo.

“Esse risco é completamente evitável, já que agora existem tecnologias e projetos que podem proporcionar reentradas controladas (geralmente em zonas remotas dos oceanos) em vez de descontroladas e, portanto, completamente aleatórias”, disse ele via e-mail.

Holger Krag, responsável pelo Gabinete de Detritos Espaciais da Agência Espacial Europeia, disse que a melhor prática internacional é realizar uma reentrada controlada, visando uma zona remota do oceano, sempre que o risco de acidentes for muito elevado.

Ele acrescentou que a zona de reentrada do foguetão estava geograficamente limitada entre as latitudes de 41 graus a Sul e 41 graus a Norte do equador.

O Comando Espacial dos EUA afirmou que irá rastrear a entrada do foguetão chinês na Terra, de acordo com um porta-voz.

Devido às condições atmosféricas variadas, o ponto exato de entrada dos detritos do foguetão na atmosfera da Terra “não pode ser identificado até poucas horas antes da reentrada”, disse o porta-voz, mas estima-se que volte a entrar na atmosfera terrestre por volta do dia 1 de agosto.

O 18º Esquadrão de Defesa Espacial, o ramo das Forças Armadas dos EUA que rastreia as reentradas, também fornecerá atualizações diárias sobre a sua localização.

A CNN pediu comentários à Agência Espacial Tripulada da China.

Jonathan McDowell, um astrónomo do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, disse que os detritos espaciais que pesam mais de 2,2 toneladas são normalmente forçados a cair num local específico na sua primeira órbita da Terra.

“A questão é que objetos tão grandes não costumam ser postos em órbita sem um sistema de controlo ativo”, disse ele.

Na verdade, “sem um sistema de controlo ativo e sem um motor de reinicialização que o impulsione de volta à Terra... vai simplesmente cair na órbita e acabar por arder devido ao atrito com a atmosfera”, disse McDowell à CNN.

A China foi fortemente criticada, no ano passado, pela forma como lida com os detritos espaciais, depois do lançamento de outro módulo num foguetão semelhante. Os destroços caíram no Oceano Índico, perto das Maldivas, 10 dias após o lançamento.

A NASA disse que a China falhou no “cumprimento dos padrões de responsabilidade”.

“As nações que exploram o Espaço devem minimizar, para as pessoas e as propriedades na Terra, os riscos das reentradas de objetos espaciais e maximizar a transparência em relação a essas operações”, disse o administrador da NASA Bill Nelson, na altura.

A China respondeu às críticas acusando os EUA de “exagerar os medos” sobre a reentrada do foguetão e acusou os cientistas norte-americanos e a NASA de “agirem contra a sua consciência” e de serem “anti-intelectuais”.

Em 2020, o núcleo de um foguetão chinês - que pesava quase 20 toneladas - fez uma reentrada descontrolada na atmosfera da Terra, passando diretamente sobre Los Angeles e o Central Park, em Nova Iorque, antes de acabar por cair no Oceano Atlântico.

O lixo espacial, como os satélites antigos, reentra na atmosfera terrestre diariamente, embora a maior parte passe despercebida porque arde muito antes de atingir o solo.

Apenas os detritos espaciais maiores - como naves espaciais e partes de foguetões - representam um risco muito pequeno para humanos e para as infraestruturas no solo.

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