Governo tem "mais do que uma suspeita: há praticamente uma certeza que não é a natureza que provoca estes incêndios"

18 set, 22:11

Ministro Manuel Castro Almeida promete novidades em breve sobre um apoio de fixação e atração de população para o Interior, o que considera ser chave para lidar com o problema

“Há freguesias onde as coisas já aconteceram e as pessoas precisam da ajuda do Estado”. É o próprio Estado, na figura do ministro Adjunto e da Coesão Territorial, que o admite.

Em entrevista à CNN Portugal, Manuel Castro Almeida, que está no terreno desde terça-feira a avaliar, em permanência, as necessidades da população afetada pelos incêndios.

Foi lá que ouviu, em diferentes paragens, que os meios não chegam, algo que considera ser “inevitável”, ainda mais numa dimensão de incêndios como aquela a que assistimos. “Nunca há meios suficientes”, afirma, garantindo que a sua intervenção se centra mais no pós do que no durante – essa missão é da sua colega da Administração Interna, Margarida Blasco.

Apoios a caminho

A fixação de população no Interior é, para Castro Almeida, condição quase imperativa para que este cenário seja evitado ao máximo.

O ministro reconhece que falta mais ação, que a floresta é “desordenada”, mas centra a sua preocupação na desertificação do Interior do país, ainda que grande parte destes incêndios – olhe-se para Águeda ou Gondomar – aconteça em zonas de distritos do litoral e onde até há uma densidade populacional considerável.

“Um caminho para minorar estes incêndios é criar condições para que as pessoas se fixem lá”, reitera, explicando que o objetivo do Governo passa não apenas por criar emprego para fixar, mas também para atrair mais pessoas.

Por isso mesmo, e sem levantar muito o véu, o ministro Adjunto e da Coesão Territorial fez uma espécie de pré-anúncio: o Governo vai incentivar e destinar apoios públicos “de forma preferencial” para as empresas que ocupem território de baixa densidade.

Crime? Sim. De quem?

Nas primeiras horas de intervenção no terreno houve uma coisa que foi constante para lá das queixas de falta de meios. Castro Almeida ouviu, sobretudo dos autarcas, insinuações de que os vários incêndios a que assistimos desde domingo têm uma causa muito maior do que apenas a natureza.

Alinhando com as palavras do primeiro-ministro, que falou mesmo em “interesses particulares” e anunciou uma equipa especial para combater este flagelo, o ministro Adjunto e da Coesão Territorial diz que ele próprio tem as suas “suspeitas”, ainda que não as tenha concretizado.

“Vários presidentes de câmara não resistiram em levantar o problema”, indica, confessando que lhe contaram “histórias de coisas que a natureza por si só não podia proporcionar, incêndios sucessivos com cadências a surgir durante a noite, 500 metros aqui, 500 metros mais além, com intervalos de 10 minutos".

"Evidentemente que se fica a suspeitar que não é a natureza que provoca estes incêndios. É mais do que uma suspeita: há praticamente uma certeza que não é a natureza que provoca estes incêndios", sublinha.

Frisando que o governo de 2017, na altura dos incêndios de junho e outubro, terá feito o melhor que conseguia, Manuel Castro Almeida diz que o Executivo está no terreno a tentar perceber o que correu menos bem nessa altura.

"Ainda hoje estive em contacto com várias pessoas que estiveram a atuar em 2017, justamente a pedir-lhes erros que foram cometidos, para não os cometermos", diz.

Avaliar e reconstruir

O Governo mobiliza-se, assim, para ajudar as populações, garantindo todo o cuidado com quem "queira abusar", para que não se repitam problemas de outras ocasiões, em que houve apropriação de fundos indevidos.

Por isso, diz o ministro, é preciso um equilíbrio: ajudar quem precisa, mas fazê-lo apenas com a burocracia indispensável, para que se garanta que há equidade e justiça.

Segue-se agora a avaliação, mas também a reconstrução, que vai passar, "necessariamente", fundos públicos, alguns do Orçamento do Estado, mas também fundos europeus.

Manuel Castro Almeida diz que é o apoio a dar às pessoas que passa pela sua pasta, lembrando que "há pessoas que ficaram sem casa, pessoas que ficaram sem emprego, agricultores que ficaram sem produções".

O ministro Adjunto e da Coesão Territorial destaca que é esse levantamento que está a ser feito, e que começou a ser feito logo no início, mesmo que ainda existam muitos incêndios a decorrer.

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