FMI antecipa “subida acelerada” das dívidas públicas. Portugal entre os mais endividados

ECO - Parceiro CNN Portugal , Luís Leitão
12 abr 2023, 14:35
Sede do FMI em Washington

FMI estima que nos próximos cinco anos a dívida pública mundial cresça a ritmo muito mais elevado face ao período pré-pandemia. Entre as economias desenvolvidas, Portugal é a sexta mais endividada.

Além de antecipar um abrandamento da economia mundial em 2023 e nos próximos anos, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta uma economia mundial cada vez mais endividada.

Segundo as últimas estimativas do FMI presentes no relatório “Fiscal Monitor”, apresentado esta quarta-feira, em 2028 a dívida pública mundial será, pela primeira vez, superior à riqueza criada no mundo.

Para Portugal esse cenário não é uma novidade. Desde 2010 que a dívida pública é superior ao PIB e, segundo estimativas do FMI, assim continuará até, pelo menos, 2026. Para este ano, depois de em 2022 ter fechado com um rácio de 113,9%, o Fundo prevê que Portugal registe uma dívida pública equivalente a 112,4% do PIB, cerca de 22,6 pontos percentuais acima da média da Zona Euro (89,8%).

Entre as economias mais desenvolvidas do mundo, Portugal surge na 6.ª posição entre os países mais endividados do mundo em 2023. Apenas é superado pelos EUA (122%), Singapura (134,5%), Itália (140%), Grécia (166%) e Japão (258%).

Depois de em 2021 e 2022 o rácio da dívida pública face ao PIB ter caído em grande parte dos países, após a pandemia ter atirado o nível de endividamento dos países para máximos históricos, o FMI estima que os “rácios da dívida voltem a subir em 2023 e continuem a aumentar em cerca de 1,25 pontos percentuais por ano, a médio prazo, até 2028”, refere Vítor Gaspar, diretor do Departamento de Finanças Públicas do FMI desde 2014.

No decorrer da conferência de imprensa realizada esta quarta-feira, no seguimento da apresentação do relatório “Fiscal Monitor”, o ex-ministro da Finanças sublinha que a dívida pública mundial deverá crescer a um nível mais acelerado do que antes da pandemia, que culminará em 2028 com uma dívida pública global “equivalente a cerca de 100% do PIB”.

Vítor Gaspar deu como exemplo os EUA, que deverão registar um aumento de cerca de 2,8 pontos percentuais por ano no rácio da dívida pública face ao PIB, entre 2023 a 2028. “Um ritmo duas vezes mais elevado do que antes da pandemia”, chegando a 2028 com um rácio de 135%, “ultrapassando o pico que atingiu durante a pandemia”.

Vítor Gaspar salienta também a evolução da dívida pública da China. Segundo as previsões do FMI, deverá atingir um valor equivalente a 105% do PIB em 2028 como consequência de um aumento anual médio de 4,5 pontos percentuais por ano no rácio da dívida pública face ao PIB.

No entanto, o diretor do FMI salienta que “excluindo os EUA e a China, os rácios da dívida pública no resto do mundo deverão cair, se bem que lentamente, entre 2023 e 2028“.

Num ambiente marcado por uma subida das taxas de juro, a contínua subida da dívida pública no mundo “torna a gestão da dívida mais complicada” e com um potencial “maior turbulência financeira dos países”, sublinha Vítor Gaspar.

No entanto, Vítor Gaspar afasta uma crise sobre a dívida soberana nos países desenvolvidos, notando que a probabilidade de isso acontecer é “muito baixa”. No entanto, o diretor do FMI salienta que “uma crise soberana em países desenvolvidos pode acontecer, como aconteceu em 2010-2013 e, por isso, é importante estar alerta com as movimentações nos mercados financeiros”.

Vítor Gaspar recorda que há seis meses “estávamos a discutir algumas turbulências no mercado dos títulos de dívida do Reino Unido (Gilts)” e que, em função disso, “claramente o risco [de uma crise da dívida] existe e tem de ser avaliado e evitado ao máximo”.

E, concluiu Vítor Gaspar, parte da tarefa para evitar tensão no mercado da dívida e reduzir o risco de uma nova crise soberana passa por um “reequilíbrio das finanças públicas” por parte dos países, nomeadamente no campo orçamental.

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