"Não dou mais para o peditório" dessa "coisa panfletária", diz Nuno Melo sobre a flotilha. Montenegro pede menos "extremismo na forma como se expõem opiniões"

Agência Lusa
6 out, 13:07

Líder do CDS, que é também ministro da Defesa, diz que os quatro portugueses detidos por Israel andaram por "Ibiza" e "Tunísia" antes de serem detidos. Líder do PSD, que é também primeiro-ministro, diz que "respeita" o que Mariana Mortágua fez. Montenegro assume ainda que PSD e CDS têm posições diferentes sobre a Palestina

O primeiro-ministro afirmou esta segunda-feira que o Governo português fez tudo para repatriar os ativistas detidos por Israel. “A verdade é que o Governo fez tudo aquilo que estava ao seu alcance para que os portugueses pudessem ser repatriados o mais rápido possível, num clima de normalidade e tranquilidade. E creio que foi isso que aconteceu.”

Questionado sobre expressões do líder do Chega e do CDS-PP para classificar a receção no aeroporto dos ativistas – Ventura falou “em palhaçada” e Nuno Melo em “flotilha panfletária” -, Montenegro disse não querer entrar nesse tipo de considerações.

“Nós, na democracia, temos de respeitar as opiniões de todos. É consabido que, da minha parte, com a líder do Bloco de Esquerda, a Mariana Mortágua, há muitas divergências, mas isso não significa que nós não tenhamos as nossas responsabilidades e não tenhamos que acompanhar os portugueses, sejam eles quem forem, respeitando a manifestação da sua opinião, da sua expressão, e sobretudo dando-lhe o tratamento que é devido a qualquer compatriota”, disse.

O primeiro-ministro defendeu o equilíbrio da posição do Governo quanto à questão de Gaza e defendeu ser necessário que todos se “saibam respeitar uns aos outros e que não haja extremismo na forma como se expõem as ideias e as opiniões”.

“Eu não gostei de ver uma estação de comboios ser invadida e haver uma perturbação da vida normal das pessoas, acho que não é necessário chegar a esse ponto para exprimir uma posição. Acho que há muitos instrumentos para se ouvir a voz de quem tem uma opinião, seja ela qual for”, afirmou. A estação de comboios a que se refere é da estação do Rossio, em Lisboa.

Questionado se ficou surpreendido com o número de pessoas que foi receber os ativistas ao aeroporto, o chefe do Governo disse não querer fazer “sequer uma avaliação sobre isso”. “As pessoas são livres em Portugal de se manifestarem, de darem voz às suas ideias e às suas preocupações. E nós respeitamos, independentemente da escolha, da forma como se expressa a opinião, mas é da democracia perceber isso.”

Já sobre as críticas ouvidas à chegada dos ativistas, onde se inclui a líder do BE Mariana Mortágua à ação do Governo no conflito do Médio Oriente, Montenegro disse ouvir todas as críticas para concluir que a posição do executivo é equilibrada. “Eu ouço estas críticas e ouço depois as outras, que é que o Governo foi demasiado longe nas posições que tomou, o que revela o equilíbrio da posição do PSD, do CDS e do Governo como um todo.”

O primeiro-ministro reconheceu que PSD e CDS-PP têm posições diferentes quanto ao reconhecimento do Estado da Palestina neste momento, mas sublinhou que “Portugal esteve na linha da frente do movimento de reclamação do respeito pelo direito humanitário”.

“Nós interviemos há um ano e meio para garantir que a Autoridade Palestiniana tinha o regime de membro de pleno direito da Assembleia Geral das Nações Unidas”, salientou.

Neste ponto, deixou críticas ao Bloco de Esquerda, que apoiou parlamentarmente os anteriores executivos do PS na fase inicial.

“Aqueles que reclamam uma posição do Governo, a verdade é que quando tiveram responsabilidades governativas ou quando contribuíram para a formação da vontade do Governo, é o caso do Bloco de Esquerda que esteve ligado com o PS, vamos dizer aqui a verdade, mas nunca fez aquilo que nós fizemos agora”, afirmou.

Montenegro apontou que há sempre nos extremos “quer de um lado do espetro, quer do outro, posições que são antagónicas”. “Nós somos criticados por uns por fazer pouco e por outros por fazer demais.”

Nuno Melo diz que não vai "fazer mais" "contribuições" para a "coisa panfletária" dos quatro portugueses detidos por Israel

O presidente do CDS-PP disse em Ponte de Lima que não vai “dar mais para o peditório” do que apelidou “número” dos ativistas portugueses da flotilha humanitária e aconselhou-os a concentrar-se nas eleições autárquicas.

“Não vou dar mais para esse peditório. Os ativistas já fizeram o seu número, já pararam em Ibiza, já pararam na Tunísia, chegaram a Israel, passados dois dias foram devolvidos a casa. Já fizeram a sua coisa panfletária. Não resolveram nada do ponto de vista humanitário”, afirmou Nuno Melo durante uma visita à feira quinzenal de Ponte de Lima.

Os quatro portugueses que fizeram parte da flotilha humanitária Global Sumud, incluindo a líder do BE, Mariana Mortágua, e que foram detidos pelas forças israelitas aterraram cerca das 22:30 de domingo, no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa.

Para o líder do CDS-PP, os ativistas portugueses devem concentrar-se, “também, um pouquinho nas eleições autárquicas” (…) “importantíssimas para o povo português, não para o outro lado do Mediterrâneo”.

“É aqui mesmo, em Portugal. Por isso estou focado nas autárquicas locais, no que interessa às pessoas. Conquistar mandatos e a colocar o CDS-PP ao serviço do povo português. É isso que estamos a fazer todos os dias. De resto não temos de contribuir mais para as campanhas panfletárias do Bloco de Esquerda. Há muito quem o faça, eu não vou fazer mais”, afirmou Nuno Melo, ladeado por Vasco Ferraz, candidato do CDS-PP à Câmara de Ponte de Lima, no distrito de Viana do Castelo.

Questionado pelos jornalistas sobre as afirmações, no domingo, do ex-ministro das Finanças de que o Governo está a retroceder os direitos dos trabalhadores, o líder do CDS-PP disse que os socialistas “não aprenderam nada com as últimas eleições legislativas”.

Nuno Melo apontou “o desemprego que desceu, a dívida diminuiu, crescimento, ‘superávites’, e a resolver, todos os dias problemas sociais muito importantes”. 

“Esta é a realidade. Depois podem confabular o que quiserem, mas por alguma razão o PS caiu para terceira força política em Portugal”

Para o líder do CDS-PP “seria importante” que o PS “aprendesse com os erros e se focassem no essencial”. 

“Bem sei que estamos em campanha eleitoral e em campanha eleitoral as pessoas têm de arranjar motivos para argumentar as suas diferenças. Eu, no caso do PS, escolhia outras”. 

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