É uma corrida que requer uma impressionante mistura de força e resistência; uma corrida que leva os melhores dos atletas ao limite do que pensam ser possível.
E agora, depois de um arranque consistente, o fenómeno de fitness que é o HYROX encontrou finalmente o seu lugar.
O HYROX é uma corrida de fitness funcional que envolve uma corrida de oito quilómetros intercalada com oito estações de treino. Cada estação exige que os participantes executem um exercício diferente – SkiErg (simulação do gesto técnico do ski), sled push (empurrar o trenó), sled pull (puxar o trenó), burpee broad jumps (burpees com salto em comprimento), remo, farmer's carry (carregar kettlebells), sandbag lunges (lunges com carga às costas/”sacos” de areia) e as temidas wall balls (lançamento de bolas contra a “parede”).
Os participantes podem competir em equipas, pares ou sozinhos. Independentemente da idade ou da capacidade, o formato da corrida permanece o mesmo - a única diferença são os diferentes pesos utilizados nas estações.
O primeiro HYROX, em 2017, contou com 618 participantes. Atualmente conta com mais de 210.000 em 30 cidades.
A CNN falou com duas mulheres que estão na linha da frente do HYROX para descobrir como é a vida no topo da mais recente moda do fitness.
Meg Jacoby
Meg Jacoby é a recém-coroada campeã mundial, tendo arrasado a elite feminina nos Campeonatos do Mundo em Nice, França, em junho.
A americana foi a primeira mulher a completar uma corrida HYROX em menos de uma hora e só recentemente viu o seu recorde mundial individual ser batido pela compatriota Lauren Weeks.
Depois de ter cruzado a linha de chegada, cimentando o seu primeiro título mundial, Jacoby caiu no chão, em igual medida de exaustão e júbilo, onde foi saudada pela sua filha de nove anos.
“A minha filha sacrificou-se tanto se não mais do que eu, porque está a sacrificar muito tempo longe de mim para que eu possa fazer o que preciso de fazer e viver o meu sonho como atleta”, diz Jacoby à CNN Sport.
“Senti que tudo valeu a pena. Tê-la lá foi muito, muito especial. Ela pode ver tantas mulheres fortes, poderosas e incríveis, quando assiste às minhas corridas - não apenas a mim.”
Jacoby só ouviu falar do HYROX em 2022. Inscreveu-se na corrida de Nova Iorque no final desse ano e começou a trabalhar com o treinador de HYROX Rich Ryan.
Apesar de admitir ter cometido alguns erros durante a sua primeira corrida, Jacoby conseguiu um tempo impressionante em Nova Iorque. Quatro semanas mais tarde, apenas na sua segunda corrida, a americana bateu o então recorde mundial pro feminino em Chicago.
“Nessa altura, eu sabia que devia apostar tudo. Era uma loucura ter aquele tipo de sucesso tão rapidamente, mas parecia ser o desporto certo para mim”, conta Jacoby à CNN.
Apesar de ter, de certa forma, tropeçado no HYROX, Jacoby estava, sem saber, a preparar-se para o desporto há anos.
A sua veia competitiva era evidente desde tenra idade, com o desporto a desempenhar um papel importante na sua educação - o irmão de Jacoby é também um culturista profissional.
Na faculdade, foi uma impressionante corredora de média distância e, desde então, tem competido em provas de longa distância. Durante o confinamento devido à Covid-19, quando muitas das corridas de estrada foram suspensas, Jacoby voltou a sua atenção para o powerlifting (levantamento de peso).
Antes de descobrir o HYROX, quando lhe perguntavam o que estava a treinar no ginásio, a sua resposta era categórica: “Quero ser difícil de matar”.
Jacoby deixou agora o seu trabalho para se concentrar totalmente em ser uma atleta profissional.
Ela corre até sete vezes por semana e combina sessões de resistência com horas de treino no ginásio. Jacoby diz que treina duas ou três vezes por dia, mas está consciente de que isso pode parecer “intimidante” para outras pessoas.
“É possível ter muito sucesso nisto sem ter de fazer esse tipo de volume de treino”, afirma.
“É assim que estou e o que sei que funciona para mim e para as necessidades do meu corpo.”
Jacoby sabe a importância da dieta e da recuperação. Procura dormir pelo menos oito horas todas as noites e faz uma dieta rica em hidratos de carbono e proteínas.
“A minha dieta é muito aborrecida”, ri-se. “É muito frango e arroz. É um bocado rotineira, mas é assim a vida de um atleta. É repetitiva.”
Apesar de estar em forma como um gladiador, até Jacoby tem dificuldade em descrever a sensação de participar numa corrida HYROX.
“Acho que todos nós, a este nível, somos um pouco loucos”, diz ela, explicando porque escolheu um desporto tão exigente. “Temos muito gozo com a dor e o sofrimento.”
“Estou sempre a descobrir mais e mais sobre mim mesma como pessoa, a levar-me aos meus limites e como que a ver de que sou feita.”
Jacoby afirma que o sentido de comunidade é outra razão pela qual dedica a sua vida ao HYROX e diz que encontra inspiração em todos os cantos do desporto - nomeadamente em algumas das outras mães que conciliam os treinos com a gestão de uma família.
Ela também conhece outra atleta, de Londres, que se está a destacar no outro extremo da escala - com um apelido de durona a condizer.
A “Avó Durona”
Celia Duff, de 70 anos, foi recentemente coroada campeã mundial na categoria de 70-74 anos - um prémio que se junta ao título mundial de 65-69 anos que conquistou no ano passado.
Foi também duas vezes detentora de um recorde mundial, mas não deixa de salientar que ambos os seus recordes foram entretanto batidos.
“Tenho uma horta, tenho galinhas, tenho um cão. Ajudo com os netos, quando é preciso, e vou buscá-los à escola, etc. Estou muito ocupada a fazer pouca coisa”, diz Duff à CNN Sport, subestimando drasticamente os seus feitos surpreendentes a nível internacional.
Tal como Jacoby, Duff descobriu o HYROX um pouco por acaso. A filha de Duff foi uma das primeiras adeptas do fenómeno e um dia pediu à mãe que a acompanhasse num evento. Foi em outubro de 2022.
Duff sempre se manteve em forma - era uma boa remadora durante a juventude e intensificou a sua rotina de fitness durante os períodos de confinamento devido à Covid-19. Mas depois de concordar em competir no seu primeiro evento HYROX, Duff começou a ler sobre a corrida e rapidamente percebeu que ia ter um dia duro.
Incrivelmente, porém, conseguiu bater o recorde mundial da categoria 65-69, com um tempo que a qualificou para o Campeonato do Mundo de 2023 em Manchester, Inglaterra - uma corrida que também acabou por vencer.
Duff diz que há pouquíssimas pessoas da sua idade a competir no HYROX - o que talvez não seja surpreendente, dado o desgaste físico que provoca.
Mas para Duff, uma médica de saúde pública reformada, o desporto dá-lhe objetivos e o treino ajuda-a a manter-se jovem.
A avó corre três vezes por semana, variando o ritmo e a distância de cada sessão. Também trabalha com um treinador o seu treino de força e passa o tempo a praticar os movimentos exatos que tem de fazer nas estações de HYROX. O descanso, no entanto, é quase tão importante e Duff tira pelo menos um dia para permitir que o seu corpo recupere.
“É extremamente importante manter a mobilidade e a força à medida que envelhecemos porque, se não o fizermos, o ritmo a que nos deterioramos aumenta”, afirma, explicando o ‘porquê’ da sua participação.
“Quero ser forte e estar em boa forma física. Essa é a chave para o HYROX”.
Conhecida como “Avó Durona”, Duff não se sente muito confortável com o facto de dizerem que é uma “inspiração” para os outros, mas uma breve olhadela pelos comentários publicados no seu Instagram mostra o quanto ela está a motivar os outros a ficarem em forma.
“Sou genuinamente humilde e grata”, diz ela. “Se puder encorajar pessoas mais velhas ou qualquer pessoa, na verdade, a levantar-se e a tentar, então ótimo.”
Apesar da sua curta mas impressionante carreira como atleta de HYROX, Duff diz que seria “uma loucura” para ela continuar a correr devido ao trabalho desgastante envolvido.
No entanto, ela planeia competir com a filha numa prova de pares no final deste ano e quer continuar envolvida no desporto.
Aspirações olímpicas
Duff e Jacoby são a prova de que o HYROX está a ter sucesso.
A empresa foi criada em 2017 pelo organizador de eventos Christian Toetzke e pelo três vezes medalhado olímpico de hóquei Moritz Fürste.
Fürste diz que o conceito demorou algum tempo a ser compreendido pelas pessoas e que o negócio foi muito prejudicado pela Covid, que obrigou ao cancelamento de corridas em todo o mundo.
Agora, no entanto, o HYROX está a registar um crescimento exponencial e está a correr para dar resposta ao aumento da procura. Alguns ex-atletas também se colocaram à prova neste desafio, incluindo o antigo defesa da NFL Curt Maggitt e a antiga estrela do futebol John Terry.
“Demorou algum tempo a progredir, para chegar a um leque mais alargado de pessoas, para verem o que é e para sair da sombra”, diz o cofundador Fürste à CNN.
Com a sua crescente popularidade, o HYROX procura agora profissionalizar ainda mais o desporto, que tem aspirações olímpicas.
No início deste ano, foram introduzidas medidas antidopagem nos regulamentos de singulares e pares, o que significa que os atletas de HYROX estão agora sujeitos às normas da Agência Mundial Antidopagem (WADA).
“Ainda não chegámos a esse ponto, mas se um dia o HYROX se tornar um desporto olímpico, será a concretização do derradeiro objetivo e será uma coisa muito, muito fixe”, acrescenta Fürste.
No entanto, antes de se pensar em obter o estatuto olímpico, Fürste diz que seria necessário criar um órgão diretivo e federações nacionais - coisas que levam tempo a criar. Mas há certamente vontade por parte dos atletas, e Jacoby espera um dia representar o seu país.
“Até lá, não me vão ver a ir embora”, diz Jacoby quando questionada sobre a progressão do desporto para o estatuto olímpico.
“Ser um atleta olímpico é o nível mais alto que se pode atingir.”