O clássico de Taça da Liga começou de comboio e descarrilou várias vezes

27 jan 2023, 09:07
FC Porto-Sporting

Sporting e FC Porto decidem neste sábado o primeiro título da época, no sexto confronto na competição. Não falta enredo a esta final, alimentado pelos cinco confrontos anteriores. Dos quais ficaram muitas histórias, e muita confusão

A final deste sábado é o sexto encontro entre FC Porto e Sporting com a Taça da Liga por palco e há muitas histórias para contar desses duelos. Mas também não falta enredo ao confronto que aí vem. O primeiro título da época joga-se entre velhos conhecidos, com contextos bem diferentes.

O FC Porto procura o único troféu que nunca venceu em Portugal, em 15 edições e quatro finais perdidas, duas delas já com Sérgio Conceição no banco. E o Sporting vai em busca do terceiro título consecutivo, que seria o quinto em absoluto, tendo no banco um verdadeiro talismã. Rúben Amorim tem o incrível total de nove Taças da Liga no palmarés. Venceu seis como jogador, cinco pelo Benfica e uma pelo Sp. Braga. E mais três como treinador, a primeira em Braga e as duas últimas no Sporting.

O ascendente histórico está todo do lado do Sporting. Formalmente, os cinco jogos anteriores, quatro deles em Alvalade e um em Leiria, saldaram-se em duas vitórias dos leões e três empates, mas dois deles valeram apuramentos, um na meia-final de 2017/18 e outro na final da época seguinte. Nem sempre foram bem jogados, mas tiveram emoção com fartura. E confusão, também. Esta história começa com o FC Porto a viajar de comboio para Alvalade e mete ameaças de não comparência, comunicados, protestos e testes covid.

Sporting-FC Porto, 4-1

4 fevereiro 2009

Meia-final 2008/09

Era a segunda edição da Taça da Liga. No ano anterior, o Sporting tinha chegado à final, ganha nos penáltis pelo V. Setúbal, e o FC Porto tinha sido eliminado pelo Fátima nos penáltis na terceira eliminatória. Agora já havia uma fase de grupos. Aliás, houve duas. E confusão com fartura. V. Guimarães e Belenenses terminaram empatados em pontos e nos critérios de desempate o regulamento falava em «goal average». E o que queria aquilo dizer? Pois, esse foi o problema. A Liga defendeu que era a diferença de golos e, como ela não existia, avançou para o segundo critério, mais golos marcados, que colocava o Vitória na meia-final com o Benfica. E o Belenenses protestou. Estava-se nisto a poucos dias das meias-finais. E sobretudo a uma semana do clássico de Liga entre FC Porto e Benfica, crucial na luta pelo campeonato, quando os dragões lideravam com um ponto de vantagem sobre as águias.

Face à probabilidade de o Benfica-V. Guimarães ser adiado, o FC Porto ameaçou não ir a Lisboa para a meia-final com o Sporting. E o Benfica criticava a incerteza em torno do calendário, anunciando que jogaria sob protesto. Mas na véspera do jogo houve fumo branco: o Conselho de Justiça da Federação rejeitou o protesto do Belenenses. Portanto, as duas meias-finais jogaram-se na quarta-feira.

Não ficou por aqui. O FC Porto foi, mas não era o FC Porto do costume. Mantendo a lógica de dar minutos às segundas linhas, e em assumida gestão antes do clássico com o Benfica, Jesualdo Ferreira deixou no Olival a maior parte dos titulares. Foi sem Helton, Fucile, Bruno Alves, Rolando, Cissokho, Lucho, Meireles, Lisandro, Fernando e Cristian Rodríguez, numa convocatória com cinco juniores e o reforço Andrés Madrid, que o FC Porto se pôs a caminho de Lisboa. De comboio.

Pois. Para tornar tudo ainda mais peculiar, os responsáveis portistas decidiram que a equipa não só não pernoitava em Lisboa, como não iria de autocarro, mas sim numa carruagem do Alfa. E foi assim que se assistiu à insólita imagem da equipa portista a embarcar no cais da estação de Campanhã. E depois a chegar a Santa Apolónia, onde alguns adeptos do Sporting e do Benfica a receberam com vaias.

Quanto ao jogo, o Sporting também geriu a equipa, mas ainda assim tinha em campo seis habituais titulares. O FC Porto alternativo até entrou na frente em Alvalade, num golo de Tarik Sektioui, mas depois o Sporting deu a volta. Hélder Postiga, que na época anterior tinha trocado o Dragão por Alvalade, teve um golo não validado, e depois foi através de duas grandes penalidades, convertidas por Leandro Romagnoli, que o Sporting passou para a frente. A goleada ficou selada com um bis do ex-portista Derlei. 4-1, o FC Porto voltava para casa eliminado. Agora de avião. Jesualdo Ferreira nem foi à sala de imprensa, em vez dele apareceu o adjunto José Gomes, a criticar a Taça da Liga. Paulo Bento dizia que a Taça da Liga lhe merecia todo o respeito e congratulava-se com nova presença na final. Seria aquela final do Algarve, ganha pelo Benfica nos penáltis depois de muita polémica e da medalha atirada ao chão por Pedro Silva.

Sporting-FC Porto, 0-0

29 dezembro 2013

1ª jornada Grupo B 2012/13

Desta vez o clássico aconteceu ainda na fase de grupos, logo na primeira jornada do Grupo B. E teve poupanças dos dois lados. Antes do jogo, Leonardo Jardim tinha assumido que iria fazer «uma mudança por sector». Paulo Fonseca não assumiu nada, porque não fez antevisão do encontro, como foi hábito no FC Porto em relação à Taça da Liga durante os primeiros anos.

Os dragões desvalorizaram desde o início a competição, criada numa altura em que a cúpula portista estava de costas voltadas com a Liga. Em campo, Vítor Pereira já tinha mudado em parte a abordagem à Taça da Liga por essa altura, apostando mais em primeiras opções, como constatava o Maisfutebol na antevisão do jogo. Agora, Paulo Fonseca ficava a meio caminho: não usou uma equipa alternativa em Alvalade, mas ainda assim também fez várias mudanças. Para os dois técnicos tratava-se de gerir a equipa entre as várias competições, numa altura em que FC Porto, Sporting e Benfica estavam na luta pelo título, todos em igualdade pontual na frente à 14ª jornada.

Em outubro, o FC Porto tinha vencido o Sporting no Dragão para a Liga por 3-1. Mas este clássico de Taça da Liga foi bem menos intenso. Teve em destaque o guarda-redes Fabiano, que assumiu a baliza do FC Porto, e ficou marcado pela expulsão de Carlos Eduardo perto do final.

Até aqui tudo mais ou menos tranquilo. Foi mais tarde que as coisas azedaram. O apuramento decidiu-se na última jornada, onde FC Porto e Sporting chegaram com os mesmos pontos. Os jogos do grupo deviam realizar-se à mesma hora, mas só o Penafiel-Sporting começou à hora marcada. No Dragão, o início da partida com o Marítimo só aconteceu mais tarde. Dois minutos e 43 segundos mais tarde, para ser preciso. Já tinha acabado em Penafiel, onde o Sporting venceu por 3-1, e o jogo ainda durava no Dragão. O FC Porto acabou por vencer o Marítimo por 3-2 com um penálti convertido por Josué nos descontos e garantiu o apuramento.

O Sporting protestou, reclamou-se vencedor e ameaçou passar a jogar a Taça da Liga da época seguinte «com os juniores e os juvenis» se não lhe fosse dada razão. O caso acabou por terminar com uma multa para o FC Porto, que ficaria pelo caminho na prova na meia-final, perdida nos penáltis para o Benfica.

Sporting-FC Porto, 0-0 (4-3 gp)

24 janeiro 2018

Meia-final 2017/18 (Final Four Braga)

O primeiro encontro de Sérgio Conceição com o Sporting para a Taça da Liga era o segundo de nada menos que cinco clássicos nessa época entre os dois clubes – ainda haveria as meias-finais da Taça de Portugal o duelo da segunda volta. Por esta altura, o FC Porto liderava a Liga e o Sporting de Jorge Jesus era segundo, a quatro pontos de distância.

A antevisão do encontro entre dois treinadores que se conheciam bem, desde que Jesus lançou Conceição no Felgueiras, foi tranquila, com troca mútua de elogios. Mas em campo o jogo foi bem menos cordial.

Jesus manteve as principais apostas, enquanto Sérgio Conceição fez apenas alterações pontuais, entre elas o regresso de Iker Casillas à baliza, ele que por essa altura tinha perdido a titularidade na Liga para José Sá. As duas equipas protagonizaram um jogo, quezilento, violento – teve mais de cinquentas faltas. Acabou sem golos e decidiu-se nas grandes penalidades, onde a sina do FC Porto nos penáltis se traduziu nos remates perdidos por Herrera, Aboubakar e Brahimi, os dois primeiros defendidos por Rui Patrício. Casillas ainda segurou os penáltis de Coates e William, mas o Sporting levou a melhor, com Bryan Ruiz a bater a grande penalidade decisiva.

No fim, Jorge Jesus aproveitava a qualificação para desafiar os críticos, enquanto Conceição desvalorizava a eliminação, dizendo que o impacto que teria no FC Porto era aumentar a vontade de ganhar o campeonato e a Taça de Portugal.

No fim, as coisas dividiram-se. O FC Porto foi campeão nacional, mas seria eliminado pelo Sporting nas meias-finais da Taça de Portugal. E os «leões» venceram a Taça da Liga, mas saíram derrotados do Jamor, depois da final com o Desp. Aves que se jogou no meio do choque do ataque à Academia.

FC Porto-Sporting, 1-1 (1-3 gp)

26 janeiro 2019

Final 2018/19, em Braga

A primeira e única final de Taça da Liga entre FC Porto e Sporting, antes de 2023, voltou a sorrir aos «leões» nas grandes penalidades. Marcel Keizer, o treinador que tinha chegado apenas em novembro a Alvalade, conquistava o seu primeiro troféu, Sérgio Conceição perdia a sua primeira final.

O treinador neerlandês não esteve na antevisão do encontro, ausente devido à morte de um familiar, enquanto Conceição assumia a importância da vitória para o FC Porto.

As duas equipas tinham-se defrontado semanas antes para a Liga, num nulo em Alvalade. Depois, chegaram à final da Taça da Liga após duas meias-finais intensas e marcadas por muita polémica em torno do VAR e das decisões de arbitragem, em que os dragões bateram o Benfica e os leões levaram a melhor sobre o Sp. Braga nos penáltis.

Na decisão, FC Porto e Sporting voltaram a repetir um jogo muito disputado, que só teve golos perto do final. Fernando Andrade adiantou o FC Porto aos 79 minutos e Bas Dost empatou já nos descontos, de penálti.

Lá vinha de novo o desempate da marca dos 11 metros. E de novo o Sporting a levar a melhor. Desta vez, só Alex Telles conseguiu converter um penálti para o FC Porto, o primeiro. Quando Felipe atirou à barra, estava consumada a vitória do Sporting.

No final, o Sporting festejou. E o FC Porto não ficou em campo para assistir à consagração do vencedor. «Basta os jogadores do Sporting para levantar o troféu, não é preciso os jogadores do Porto, acho eu», atirou Conceição na sala de imprensa.

O FC Porto de Sérgio Conceição voltou a ficar do lado dos derrotados frente ao Sporting de Marcel Keizer meses depois, na final da Taça de Portugal, de novo no desempate por penáltis.

Sporting-FC Porto, 2-1

19 janeiro 2021

Meia-final 2020/21 em Leiria

De confusão em confusão. Em janeiro de 2021, o mundo vivia sob a ameaça da pandemia, que continuava a provocar enorme impacto também no futebol. E foi pretexto para aquecer mais um clássico de Taça da Liga, de novo com um lugar na final em jogo.

A questão andou em torno dos testes à covid-19. Nuno Mendes e Sporar deram positivo, mas o Sporting veio defender que houve um erro e se tratava de «falsos positivos». O FC Porto acusou os leões de «atentado à saúde pública», os dois clubes trocaram acusações e ambos os jogadores acabariam por ficar de fora da meia-final, tal como Neto e Tabata, estes com positivos-mesmo-positivos. Tal como Otávio, Díaz, Evanilson e Sérgio Oliveira, baixas do lado do FC Porto por causa da covid-19.

Era o quinto frente a frente entre Rúben Amorim e Sérgio Conceição. O agora treinador do Sporting tinha vencido os dois primeiros confrontos quando estava em Braga, entre eles a final da Taça da Liga de 2019/20. Como treinador do Sporting, esta seria a sua primeira vitória sobre o FC Porto, ao fim de três jogos.

Sem público nas bancadas, o jogo arrastou-se sem golos até perto do final e foi o FC Porto que marcou primeiro, num golo de Marega. Mas depois Jovane Cabral saiu do banco para vestir a pele de herói e bisou. 2-1, o Sporting seguia para nova final, que venceria, frente ao Sp. Braga.

No final, nenhum dos treinadores foi à sala de imprensa, onde apenas apareceu o presidente do Sporting, a falar dos falsos positivos.

Sporting

Mais Sporting

Patrocinados