GUERRA NA UCRÂNIA || O presidente ucraniano desafiou o líder russo a reunir-se "pessoalmente" em Istambul, mas "Putin não disse em lado nenhum que planeia encontrar-se" com Zelensky. Mas reúnam-se ou não, esta semana não acaba a guerra - nem isso acontecerá de maneira "rápida". Mas esta semana podem ser criadas condições sólidas em Istambul para o princípio do fim. E isso é melhor do que nada
A fasquia está mais alta do que nunca. Ao final de três anos e meio da invasão em larga escala da Ucrânia, mais de uma década depois de o regime de Vladimir Putin ter ordenado a anexação da península ucraniana da Crimeia, o primeiro encontro direto entre os dois lados beligerantes pode acontecer já esta semana.
É, pelo menos, nessa hipótese que vários líderes estão a apostar, a começar pelo presidente norte-americano, Donald Trump. “O presidente Putin da Rússia não quer ter um acordo de cessar-fogo com a Ucrânia, mas sim reunir-se na quinta-feira, na Turquia, para negociar um possível fim do BANHO DE SANGUE”, escreveu Trump na sua Truth Social no domingo. “A Ucrânia deve concordar com isto IMEDIATAMENTE! Pelo menos assim serão capazes de determinar se um acordo é possível ou não e, se não for, os líderes europeus e os EUA saberão como está tudo e podem proceder em conformidade!”
A proposta de Putin para um encontro com os ucranianos teve lugar nem 24 horas depois de uma nova reunião da chamada coligação dos países dispostos, incluindo França, Reino Unido Alemanha e Polónia, no sábado, na capital ucraniana, no final da qual propuseram a Moscovo um cessar-fogo "incondicional" de 30 dias sob pena de mais sanções ao governo de Putin.
Trump concordou com os aliados da NATO, ou antes, Keith Kellogg, o enviado de Trump à Ucrânia, concordou com os aliados da NATO, antes de o presidente americano fazer uso da sua rede social para pedir ao líder da Ucrânia que aceite a proposta de Putin para um encontro direto entre as partes. E Volodymyr Zelensky não perdeu tempo a aproveitar a deixa.
“Estarei à espera de Putin na Turquia na quinta-feira - pessoalmente”, escreveu o presidente ucraniano na X, ex-Twitter. “Espero que, desta vez, os russos não arranjem desculpas.” Mas por mais esperanças que se depositem no potencial encontro, o otimismo pode ser excessivo, indica à CNN Oleg Ignatov, sobretudo tendo em conta que “Putin não disse em lado nenhum que planeia encontrar-se com Zelensky”.
“Foi Zelensky quem propôs o encontro a Putin, em resposta à proposta deste último de iniciar conversações diretas entre representantes russos e ucranianos na Turquia”, ressalta o analista do International Crisis Group para a Rússia. “O Kremlin esclareceu que tenciona enviar representantes a Istambul. E os ucranianos também parecem estar a planear enviar representantes, de acordo com os meios de comunicação ocidentais. Mas não se fala de um encontro entre Putin e Zelensky.”
Turquia mediadora, cessar-fogo longínquo
A confirmar-se, o encontro terá lugar em Istambul, na Turquia, onde os líderes da NATO vão estar reunidos entre quarta e quinta-feira. Em preparação desta cimeira, o presidente turco ligou no fim de semana ao homólogo francês, Emmanuel Macron, para debater o “ponto de viragem histórico que foi alcançado nos esforços para acabar com a guerra entre a Ucrânia e a Rússia”, defendendo que esta é uma “oportunidade que tem de ser aproveitada”.
“A Turquia está pronta para fornecer todo o tipo de apoio, incluindo sendo anfitriã das negociações, para que se alcance um cessar-fogo e uma paz duradoura”, adiantou Recep Tayyip Erdogan na chamada telefónica, de acordo com o gabinete presidencial turco, já depois de ter falado ao telefone também com Putin. “A Turquia oferecerá toda a assistência possível para facilitar as conversações e os esforços destinados a alcançar uma paz sustentável”, disse Erdogan nessa conversa citado pelo Kremlin.
Sob o acordo dos aliados há alguns dias, o cessar-fogo “completo e incondicional” de pelo menos 30 dias deveria ter início esta segunda-feira, mas o dia amanheceu na Ucrânia com renovados ataques russos com drones, e a notícia de que Zelensky falou ao telefone com o novo líder da Igreja Católica, convidando Leão XIV a visitar o seu país e repetindo que está disponível para negociações “em qualquer formato, incluindo diretas”.
“A Ucrânia quer acabar com esta guerra e está a fazer todos os possíveis para isso”, adiantou Zelensky na chamada com o Papa americano. “Esperamos que a Rússia tome as medidas apropriadas. Concordámos em manter contacto e organizar um encontro pessoal num futuro próximo.”
Com todas as esperanças depositadas na cimeira desta semana em Istambul, nada é certo quanto ao possível arranque de negociações diretas entre Kiev e Moscovo. Logo após a invasão, Zelensky chegou a sugerir sentar-se à mesa com Putin para conversações, mas perante a rejeição liminar do inimigo, um decreto presidencial foi aprovado que, ainda em vigor, impede que os dois presidentes se reúnam. E a hipótese de um cessar-fogo a implementar em breve continua a ser uma miragem.
“Penso que as partes estão longe de um cessar-fogo total, Putin deixou claro que as negociações virão primeiro, só depois seguidas de um cessar-fogo se as negociações forem bem sucedidas”, sublinha Oleg Ignatov, do Crisis Group. “Na melhor das hipóteses, penso que assistiremos ao início de negociações diretas entre a Rússia e a Ucrânia - mas as posições das partes estão tão distantes que é improvável que essas negociações resultem num êxito rápido.”