Deputada socialista Isabel Moreira queixou-se que Filipe Melo enviou-lhe beijos e fez-lhe gestos para se calar quando o deputado do Chega estava sentado na Mesa da Assembleia da República. O presidente do Parlamento, José Pedro Aguiar-Branco, remeteu a situação para a comissão da Transparência, onde Filipe Melo foi ouvido à porta fechada. A CNN teve acesso à transcrição
"Não, não foram beijos, naturalmente que não. Nem para a sr.ª deputada Isabel Moreira, nem para qualquer outra deputada eu teria tal comportamento, como é evidente, por variadíssimos motivos. Primeiro, porque não era uma situação própria e digna", afirmou Filipe Melo na comissão de Transparência. "Segundo, porque eu próprio não me permito isso, por uma condição pessoal, social. E até posso ir mais longe: sou casado e a minha mulher acompanha, com bastante orgulho, os trabalhos parlamentares e não seria de todo adequado eu fazer um gesto desses sabendo que provavelmente a minha esposa e os meus filhos estariam até a acompanhar o plenário, como fazem variadíssimas vezes. Importa também esclarecer que, para mim, é uma situação desagradável", afirmou, de acordo com a transcrição - a que a CNN Portugal teve acesso.
Filipe Melo considera que o episódio foi amplificado de forma injusta, assegurando que o movimento dos lábios foi mal interpretado. "Eu tive o cuidado de falar com uma pessoa amiga, que é um analista de expressões e de reações, e o que me foi transmitido foi que as imagens são claras. E essa pessoa, que é um especialista e conhecido no meio a nível nacional, disse-me que só conhece um ser vivo capaz de mandar beijos com a boca aberta, que é o sapo. Qualquer ser humano é incapaz de conseguir mandar um beijo com a boca aberta".
O deputado reconheceu ter errado ao reagir da mesa da Assembleia, mas garantiu que “jamais faria” o gesto descrito por Isabel Moreira. “Retratei-me em sede própria. Admito o erro, mas quem não erra?”, afirmou, defendendo que mantém condições para continuar a exercer o mandato.
Sobre Isabel Moreira - que acusa de agir de má-fé -, Filipe Melo garantiu que, "terminado o inquérito que o sr. presidente pediu para abrir, serei eu próprio que irei fazer uma participação do comportamento da Sr.ª Deputada Isabel Moreira".
"É desagradável eu chegar a casa e ver a minha esposa e os meus filhos a verem na televisão a minha cara e a perguntarem-se o que é ocorreu à sr.ª deputada em questão para dizer uma coisa daquelas, que seria uma coisa impensável", afirmou.
O deputado reconheceu, no entanto, que fez um gesto de “chiu” na direção de um elemento do Livre, algo que descreveu como “picardias normais” entre bancadas. "Houve, realmente - não devia ter acontecido, mas houve -, uma troca de sinais, por assim dizer, não verbais com um elemento da bancada do grupo parlamentar do Livre. Após picardias que, digamos, são normais entre as bancadas, houve por parte de um sr. deputado do Livre um comportamento um pouco mais agressivo, insultuoso, insinuoso para com o deputado André Ventura, ao que eu reagi e não devia ter reagido no sítio onde estava, na Mesa, isso é evidente. Mas, face ao que foi dito e depois dirigido também à Mesa da Assembleia, não sei se à minha pessoa ou não, houve uma troca de palavras menos saudáveis, digamos assim, e eu respondi sim com um 'chiu'."
O processo disciplinar interno foi aberto após a socialista Isabel Moreira ter acusado acusado Filipe Melo de lhe ter mandado “beijos” e feito gestos para se calar durante uma sessão plenária a 25 de setembro.