Haverá gente a voar a partir desta quinta-feira: os festivais voltaram (já podemos ser completamente felizes ou ainda não?)

9 jun 2022, 08:00
The National, Queens of the Stone Age e Two Doors Cinema Club atuam no Alive

A temporada de festivais arranca esta quinta-feira com o Primavera Sound, no Porto. Depois há Alive, Rock in Rio, Super Rock, Paredes de Coura, Sudoeste e afins. A música vai dar asas, explicamos porquê - e em que condições, isto numa fase em que a pandemia continua por resolver e em que há uma guerra em curso

"As pessoas costumam entrar no festival correndo, este ano vão entrar voando." A frase é de Roberto Medina, o fundador do Rock in Rio, e retrata bem o entusiasmo que se vive por estes dias no Parque da Bela Vista, enquanto se prepara mais uma edição do festival em Lisboa. "Quase que temos de nos beliscar para ter a certeza de que isto está mesmo a acontecer", comenta Álvaro Covões, o promotor do Nos Alive. Depois de dois anos de adiamentos devido à pandemia de covid-19, 2022 é finalmente o ano do regresso dos festivais de verão. 

"O ser humano é um animal do relacionamento. Todos sentimos as mazelas psicológicas destes dois anos. É normal que haja uma grande vontade de estarmos juntos de novo", afirma ainda Álvaro Covões, que está confiante em relação a este "regresso à normalidade".  Em 2021, a Everything Is New devolveu bilhetes no valor de cerca de 10 milhões de euros. "As pessoas desistiram por medo, ninguém sabia muito bem o que ia acontecer no futuro."

O Rock In Rio Lisboa, que é bienal, realizou-se pela última vez em 2018. Quando a edição de 2020 foi cancelada o desalento foi enorme: nessa altura já tinham sido vendidos em média 60 mil dos 80 mil bilhetes disponíveis para cada dia. "Mas só 9% das pessoas desistiram, isso foi incrível. O nosso público acreditou muito", conta a vice-diretora do evento, Roberta Medina. 

No Nos Primavera Sound a fidelização em relação a 2021 foi de cerca de 90%. "Mas as desistências foram rapidamente compensadas com a venda de bilhetes para este ano", afirma José Barreiro, diretor da Pic-Nic, promotora do festival, revelando que as vendas para 2022 já superaram as de edições anteriores. "Vamos voltar com muita força", promete.

"Assim que as autoridades anunciaram o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras, a venda de bilhetes aumentou", explica Roberta Medina. "O público começa agora a acreditar à medida que vê as máquinas a trabalharem no terreno, os palcos a serem montados. As pessoas querem vir mas queriam ter a certeza de que isto vai mesmo acontecer", confirma Luis Montez, da promotora Música no Coração, responsável, entre outros, pelos festivais Super Bock Super Rock e Sudoeste, mas que antes desses começa a temporada com três festivais diferentes em três cidades diferentes no primeiro fim de semana de julho. "A expectativa é de que as pessoas venham matar as saudades de estarem juntas a ouvir música."

O regresso não se faz sem dores. Com custos mais elevados devido à inflação e à falta de várias matérias-primas. Isto sem falar dos fornecedores - "alguns desapareceram, não conseguiram sobreviver, todos estão descapitalizados, a precisar de avanços nos pagamentos", diz Montez.

Além disso há equipas "destreinadas" e alguns problemas no que toca a gestão de recursos humanos, uma vez que algumas das pessoas que trabalhavam nesta área acabaram por procurar outras atividades durantes a pandemia, sublinha Medina. É preciso recuperar rotinas e formar equipas. "Há algum nervosismo, até parece que é a primeira vez", diz Montez.

“Foi quase um reaprender a trabalhar. Um festival destes envolve muita gente e estas ligações foram-se perdendo com estes anos de pandemia. Foi um desafio muito grande preparar esta edição mas ao mesmo tempo aliciante porque é bom coisas boas começarem de novo”, afirma José Barreiro.

"Quando achávamos que estávamos a sair da pandemia, começou a guerra. E há esse constrangimento, sentimos que não podemos ser felizes com tudo isso a acontecer no mundo. Mas temos de o fazer. Não vamos ignorar os problemas que existem mas precisamos ter confiança no futuro", declara Roberta Medina.

Por isso, a palavra de ordem para este verão é: libertem-se. Para ir aos festivais não é preciso apresentar o resultado de nenhum teste à covid-19 nem é obrigatório levar máscara. Os organizadores confiam na responsabilidades dos festivaleiros e na imunidade já adquirida pela população. "Já todos sabemos o que devemos saber", afirma Álvaro Covões.

Nos Primavera Sound

9, 10 e 11 de junho, Parque da Cidade, Porto

Os passes de três dias “estão esgotados há mais de um mês”. Para esta quinta-feira e sábado também já “não há bilhetes” e sexta-feira está “perto de esgotar”. 

Na sua nona edição, o Primavera orgulha-se de ser um festival com muitas pessoas (35 mil bilhetes por dia) mas pouca confusão. "Queremos que quando lhe apeteça fazer alguma coisa, seja ir à casa de banho, tomar uma bebida ou ir para outro palco, as pessoas não tenham de ficar 15 a 20 a minutos numa fila", explica José Barreiro, acrescentando: "Cuidamos de todos os pormenores. O nosso lema é 'tornar o feio bonito' e queremos continuar assim".

Embora a organização tenha tentado “não mexer muito no que era um festival já com a sua marca, o seu sucesso”, as obras de "ligação" do Parque da Cidade ao mar, recentemente concluídas, “forçosamente mexeram com o ‘layout’ do festival”. “Mas é mais na zona de entradas, de alimentação, de acesso aos palcos principais. Porque a localização dos [cinco] palcos é praticamente a mesma que existia até 2019”, explica José Barreiro. Entre as novidades da organização destaca-se a criação de um parque para bicicletas à porta do recinto.

“O cartaz foi sendo adaptado, mas cerca de 80% das bandas mantêm-se" desde o anúncio feito em 2021, garante José Barreiro, sublinhando que o alinhamento passa sobretudo pela pop e por uma música mais urbana. Isto significa que vamos ter, entre outros, Nick Cave & the Bad Seeds e Tame Impala, Beck e Pavement, Gorillaz e Interpol. 

Nick Cave

Revelando que mais de 15 mil bilhetes foram vendidos no estrangeiro, José Barreiro não tem dúvidas sobre a importância do Primavera para o turismo da cidade. "O Porto vai estar lotado este fim de semana", diz. Isso acontece porque "os nossos artistas fazem com que as pessoas achem que vale a pena a viagem, aproveitam para vir ao festival e ao mesmo tempo passear".

Rock In Rio Lisboa

18, 19, 25 e 26 de junho, Parque da Bela Vista, Lisboa

Neste momento ainda há bilhetes para os vários dias do Rock In Rio, mas isso não deixa Roberta Medina preocupada: "É um espaço muito grande, podemos receber 80 mil pessoas por dia. E nós estamos habituados a vender bilhetes mesmo até ao dia", comenta a responsável pelo evento, que explica que este regresso está a ser preparado com "muita alegria" e "com atenção a todos os pormenores": "Aproveitámos este tempo extra para revisitar aquilo que já tinha sido planeado para 2020 e ver onde é que poderíamos fazer melhor", conta.

Mais do que um festival de música, o Rock In Rio é um evento para toda a família, com atividades muito diversas, onde as pessoas são convidadas a ir cedo e a aproveitarem o dia no parque. Entre as novidades deste ano está o "Continente Chef's Garden" - um restaurante com 400 lugares sentados onde é possível provar a comida dos chefs Justa Nobre, Miguel Castro e Silva, Noélia Jerónimo e Vítor Sobral, tendo como foco a sustentabilidade. "Eles vão fazer comida deliciosa com produtos locais e sazonais", promete Roberta Medina. Mas será um espaço também com um palco com convidados musicais e debates.

Rock In Rio

No total serão oito os palcos, com a já tradicional "Rock Street" este ano transformada em "Rock Your Street" e com um foco muito grande na diversidade, "seja a diversidade de género, de raças, de culturas, de gerações". E muitas atividades pensadas mesmo para os mais pequenos: "O Rock In Rio sempre foi um festival para as famílias e nós queremos estimular isso, as crianças podem vir e vão ter balões, mágicos, palhaços, muitas coisas para fazerem e não se cansarem até à hora dos concertos". No final da noite, todos os caminhos vão dar ao Palco Mundo, por onde passam as maiores atrações.

Os Foo Fighters cancelaram recentemente a sua apresentação. Mas Roberta Medina confessa que está muito contente com o cartaz deste ano e por ter conseguido que "cada dia tenha um perfil muito forte". No primeiro dia, mais pop, há Muse, The National, Liam Gallagher e os (já habituais) Xutos & Pontapés. No segundo dia há mais rock, com Black Eyed Peas, Elie Goulding, Ivete Sangalo (outra presença habitual) e David Carreira. No terceiro dia, a nostalgia fala mais alto, com Duran Duran, A-Ah, UB-40 e Bush (e no palco ao lado José Cid, Delfins, Ney Matogrosso). Finalmente, no quarto dia, a música urbana com Post Malonde, De Rulla e  Anitta.

Nos Alive

6, 7, 8 e 9 de julho, Passeio Marítimo, Algés

O Nos Alive vai receber 55 mil pessoas por dia e neste momento já há dois dias (8 e 9) completamente esgotados.

O festival, que existe desde 2007, "tem já os seus clientes habituais", como diz Álvaro Covões. "Vamos sempre melhorando, de ano para ano, mas não fazemos grandes alterações. Isto é como uma grande superfície comercial - se nos mudarem o lugar do leite e do arroz, ficamos zangados." A variedade na oferta é uma das marcas do Alive, como reconhece o promotor. "Há sempre qualquer coisa a acontecer e o ideal é que as pessoas vão procurando aquilo de que mais gostam em cada horário. Não tem de estar toda a gente no palco principal, pelo contrário. Para viver bem o festival o melhor é mesmo ir circulando."

São sete palcos, cada um com uma identidade distinta. O Palco Nos é o principal, o Heineken é o secundário. Depois há ainda o WTF Clubbing, onde as noites terminam com dança. E os já tradicionais palcos de Comédia e de Fado, o Coreto (com uma programação de música portuguesa da responsabilidade da Arruada) e o Pórtico (onde se apresentam bandas ainda no início de carreira).

Este ano, o grande acontecimento do Alive é o concerto dos Da Weasel. Tal como diz a letra da música: "Adivinha quem voltou". O grupo português tinha anunciado o regresso para 2020, assinalando os dez anos do fim do grupo. Afinal, só voltam este ano mas mantêm que será "um concerto único e exclusivo". Carlão, Virgul, Jay, DJ Glue, Quaresma e Guilherme Silva juntaram-se para voltar tocar temas como "Re-tratamento" ou "Duía".

Da Weasel

Álvaro Covões destaca ainda um outro momento especial: "DJ Vibe Presents a Paradise Called Portugal", uma maratona de música programada pelo famoso DJ português no palco WTF Clubbing, no dia 9 de julho. 

Entre os nomes internacionais, e em relação ao que estava previsto para 2021, perdeu-se Taylor Swift e Billie Eilish mas entraram Metallica e Imagine Dragons. Além destes, os grandes destaque são The Strokes e The War on Drugs, Florence + The Machine, Jorja Smith e Alt-J, Stormzy, Royal Blood, MIA e St. Vincent, Haim, Two Door Cinema Club, Phoebe Bridges e Parcels.

Super Bock Super Rock

14, 15 e 16 de julho, Meco, Sesimbra

Entre as novidades para este ano Luís Montez destaca um balão de ar quente que vai levar "alguns felizardos" a sobrevoarem o Meco para terem um olhar mais abrangente sobre o festival e poderem tirar belas fotografias. Além disso haverá um supermercado num recinto, transporte gratuito para a praia e uma zona de estacionamento "muito bem iluminada e identificada". Para facilitar a saída dos festivaleiros e evitar filas, após o último concerto no palco principal haverá sempre a atuação de djs para aqueles que queiram ficar mais tempo no Super Rock.

O cartaz é dominado por rock, hip hop e música eletrónica e tem como grandes destaques ASAP Rocky, Leon Bridges, Metronomy, da Bay, Hot Chip, Foals, Jamie xx e Wodkid, embora seja também de sublinhar o contigente de artistas latinos - como C. Tangana, Boy Pablo ou Nathy Peluso. Além destes, Luís Montez chama ainda a atenção para o momento "Daft Funk Live", que homenageia os Daft Punk (no primeiro dia), e para o concerto que vai juntar Capitão Fausto e Martim Sousa Tavares (no último dia).

"A nossa ideia é ter artistas muitos diferentes no mesmo dia para que as pessoas comprem o passe e fiquem cá nos três dias", explica Montez.

Meo Sudoeste

3, 4, 5 e 6 de agosto, Zambujeira do Mar

É um festival de música mas para muitos o Sudoeste é também sinónimo de uma semana de férias com amigos - há campismo, praia e noites que terminam em festa. Luís Montez tem consciência de que o público deste festival é mais jovem e a seleção musical vai ao seu encontro: Pedro Sampaio, "o fenómeno do momento", Major Lazer, Lewis Capaldi, Timmy Trumpet, Steve Aoki, Masego, Ckay e Rex Orange County são os cabeças de cartaz deste ano. 

Vodafone Paredes de Coura

16, 17, 18, 19 e 20 de agosto, Praia Fluvial do Taboão, Paredes de Coura

São esperadas 25 mil pessoas por dia neste festival que conta já com 29 anos de existência e que tem como atrativo, além do cartaz, o facto de se realizar junto a uma praia fluvial, com possibilidades de dar mergulhos e dormir uma sesta à sombra. Geralmente ao ritmo de um rock mais alternativo, Paredes de Coura conta este ano com Pixies, Beach House, Turnstile, Idles, King Gizzard & The Lizard Wizard e Arlo Parks, entre muitos outros. 

O primeiro dia será completamente dedicado à música portuguesa, com nomes como Sam The Kid e Orelha Negra, Mão Morta, Linda Martini, Samuel Úria, Benjamin.

♦♦♦

Organize a sua agenda. Este é o calendário dos principais festivais de verão:

Relacionados

Música

Mais Música

Patrocinados