Fernando Daniel vai abrir escola de música, mas não teve apoio de autarquias: "Prometeram, prometeram e nada”

Agência Lusa , CNC
23 mai 2023, 09:50
Fernando Daniel (JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA)

Fernando Daniel planeia abrir uma escola de música e o seu próprio estúdio ainda este ano. O cantor está também em processo de edição de um novo álbum, que afirma que terá um novo registo musical.

O cantor Fernando Daniel está a recuperar as antigas instalações da discoteca Pildrinha, no Furadouro, concelho de Ovar, onde vai instalar os seus estúdios e uma escola de música com cariz social, que conta abrir no outono deste ano.

Fernando Daniel nasceu e cresceu em Estarreja, também no distrito de Aveiro, mas é no concelho vizinho que vive atualmente, mais precisamente na praia do Furadouro. Foi aí que decidiu pôr em prática duas vontades: ter os estúdios perto de casa e abrir uma escola de música.

“Havia uma oportunidade de me estabelecer e ter um espaço para poder trabalhar as minhas coisas e não estar dependente de outros. A partir do momento em que monetariamente isso foi possível, tentei primeiro procurar apoio junto das câmaras municipais locais, mas sem sucesso. Infelizmente, a cultura ainda não é vista como algo importante. Prometeram, prometeram e nada”, contou, em entrevista à Lusa, em Oeiras.

Sozinho, acabou por encontrar um espaço, as antigas instalações da discoteca Pildrinha, “que, curiosamente, estava à venda”.

“E de repente, começo a perceber que estava ao meu alcance, e começo a trabalhar com algumas marcas parceiras, que também se interessaram neste projeto”, disse.

Uma parte do edifício irá acolher os estúdios. “Vou ter um museu com os meus galardões, os meus prémios, e os mais que eu quero ganhar. Vou ter uma cozinha, um tipo de alojamento que não é aberto ao público, só para as pessoas que poderão ensaiar e usufruir do espaço. Um ginásio também”, elencou.

Naquela zona haverá três régies: duas de música – a do próprio músico e uma de apoio, “que será também para alugar” - e uma de vídeo, “para fazer videoclipes”.

A sala de ensaios, com cerca de 100 metros quadrados, servirá também “para fazer ‘workshops’ e sessões fotográficas”.

“Quero ter ali o maior número de serviços possíveis. A minha ideia é não ficar dependente de ninguém”, disse.

A outra parte do edifício irá acolher um espaço que é, para Fernando Daniel, “o mais especial”: “a escola de música, essa sim aberta ao público”.

O músico confessou que já queria, “antes de ter os estúdios, ter uma escola”.

“A minha ideia aqui é, consoante as dificuldades das crianças e das famílias em apoiar os sonhos delas, ajustar os preços das aulas. Ou seja, há aulas que poderão ser de graça”, explicou o cantor, para quem “não se deve perder um possível grande músico, um possível grande artista por não haver dinheiro em casa”. “E se eu puder ajudar, ajudo”, sublinhou.

Os músicos que habitualmente o acompanham “vão ser os professores”.

Entre as crianças que frequentarem a escola haverá as que “não pagam”, as que “irão pagar metade” e as que “pagarão a totalidade” do valor das aulas.

Na altura em que percebeu que a música era o caminho que queria seguir, os pais e Fernando Daniel não tinham a possibilidade de lhe pagar aulas, “porque as aulas de música são efetivamente caras”.

Fernando Daniel conta conseguir ter os estúdios e a escola a funcionar no outono deste ano, de modo a apanhar o início do próximo ano letivo.

O cantor vai ainda editar na sexta-feira “V.H.S Vol.1”, álbum com uma assumida inspiração nas décadas de 1980/90 e no qual explora uma nova identidade, mas sem esquecer o registo que o caracteriza.

 

 

Fernando Daniel fala em “V.H.S Vol.1” como “um novo caminho para os próximos dois anos”, que conta “com uma inspiração muito mais retro, muito mais ‘vintage’”. Em entrevista à Lusa, o músico contou que o recuo às décadas de 1980 e 1990 foi impulsionado pela estreia na paternidade, no final de 2021. Nessa altura, decidiu rever fotografias suas de quando era bebé e foi-se sentido “um bocadinho inspirado a voltar a ouvir coisas dos anos 1990, finais dos anos 1980”.

Dos dez temas que compõem o álbum, “Dona da Razão” destaca-se por ter uma sonoridade “um bocadinho diferente” da dos dois álbuns anteriores do músico. Ter sido escolhida para abrir o novo álbum “foi propositado”.

“Quero que as pessoas percebam que há aqui uma identidade nova, elementos novos, referências novas”, disse.

“V.H.S Vol.1” “acaba por ser uma viagem”: “vem dos anos 1980/90, mas vou pondo, com o passar das músicas, cada vez mais elementos atuais”.

“A ideia foi casar um bocadinho esta nova influência com aquilo que eu já apresento. Então, à medida que as músicas vão avançando, vamos sentindo o Fernando Daniel de que as pessoas gostam”, referiu.

O título do álbum também remete para algo que quem nasceu já depois do ano 2000 dificilmente reconhecerá: o ‘Video Home System’ (Sistema de Vídeo Doméstico, em português), um sistema de gravação analógica em videocassetes.

O regresso ao passado não está apenas na sonoridade e no título do álbum: “os vídeos têm elementos retro, há imagens captadas com uma ‘handycam’ [pequena câmara de vídeo lançada em 1985], a série que estou a lançar no Youtube, da digressão, é toda filmada com uma ‘handycam’, na capa do disco estou a segurar numa ‘handycam’, e tenho um novo visual”.

O novo trabalho é todo composto por originais, com exceção de “Rama”, uma versão da canção popular do Alentejo “Ó rama, ó que linda rama”, que cria uma espécie de divisão em “V.H.S 1”.

“O disco começa com músicas um bocadinho mais generalistas - coisas da minha imaginação, coisas que nos sentamos e ‘agora vamos falar sobre este assunto’ -, e a partir da música que não é minha entra num registo muito mais pessoal”, explicou Fernando Daniel.

Em “Prometo”, o cantor dirige-se à filha, em “Início meio e fim” para a companheira – “a pessoa que está lá sempre, que estava lá antes de tudo isto aparecer” -, e em “Vocês” para os fãs – “por todo o carinho, todo o apoio, todos os quilómetros que fazem”.

A promover um novo álbum, que irá apresentar em várias datas pelo país fora, Fernando Daniel está já a preparar os concertos da Altice Arena e da Super Bock Arena, “que vão ser exclusivos”.

 

Os dias 14 de outubro e 11 de novembro serão duas datas para celebrar, com quem o ouve na rádio, quem o acompanha nos programas de televisão – é atualmente, pela terceira vez, mentor no The Voice Kids, que é exibido na RTP1 –, e nos bares onde cantava.

“Estar ali, e espero esgotar as duas salas, é graças ao meu trabalho, mas também às pessoas que sempre estiveram lá. As pessoas que se juntam a este percurso, a esta minha história, têm que lá estar nesse dia, porque é uma celebração de todos”, afirmou.

Depois disso, virá mais um álbum. “V.H.S Vol.1” deixa antever uma sequela, que surgiu porque Fernando Daniel começou a ter muitas músicas das quais gostava e não queria que ficassem de fora.

“Se lançasse mais tarde, poderia sair fora já do contexto destes dois anos. Se deixasse as músicas muito espaçadas ia perder um bocadinho a lógica do disco, então decidi lançar um disco volume 1 e um disco volume 2”, contou.

O segundo volume, que deverá ser editado no final de 2023 ou início de 2024, terá “algumas músicas que já estão fechadas”, outras ainda por fechar e mais algumas que Fernando Daniel planeia compor ao longo deste ano.

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