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Presidente da Associação Happiness Camp

Sustentabilidade humana: talento, a chave para um Portugal Sustentável

26 ago, 12:21

Portugal encontra-se num paradoxo: temos, reconhecidamente, instituições académicas de excelência e uma qualidade de vida invejável, no entanto, somos um dos maiores exportadores de talento jovem. Esta contradição levanta a questão de como é possível que um país que oferece tanto não consiga reter o seu talento mais jovem e mais dinâmico.  A resposta exige uma análise profunda das políticas de sustentabilidade humana em Portugal.

A inegável crise de emigração jovem é impulsionada não só pela falta de oportunidades e baixos salários, mas também pela fraca perspetiva de progressão de carreira e pela elevada incidência de burnout e infelicidade corporativa verificada em Portugal. Sim, o nosso país é mesmo o líder do pódio da União Europeia quando se fala em risco de burnout.

Este panorama sublinha a necessidade urgente de Portugal reformular as políticas de sustentabilidade humana. A felicidade corporativa, por exemplo, muitas vezes mal compreendida e subvalorizada, é erroneamente associada apenas a momentos de lazer e prazer, relegando-a a um tema secundário. Contudo, o lazer e o prazer são decisivos entre a migração ou a fixação de talento e, por isso, a felicidade corporativa é condição fundamental para que o talento que existe,  perdure. Assim, ao reformularmos este conceito como "sustentabilidade humana", conferimos-lhe a seriedade e o rigor para que seja reconhecido como merece, destacando a sua importância no ambiente profissional.

A sustentabilidade humana nas empresas não se limita a benefícios superficiais ou temporários, como mesas de pingue-pongue ou almoços gratuitos. É um conceito abrangente e perene que deve ser estruturado em três pilares principais: cultura organizacional, compensações, sejam elas pecuniárias ou não pecuniárias, e comunicação.

A cultura organizacional é um dos alicerces da sustentabilidade humana. Investir em áreas como a liderança, saúde mental, diversidade, equidade e inclusão, autoconhecimento, literacia financeira, inovação e impacto social é essencial para criar um ambiente de trabalho saudável e produtivo. Exemplos de boas práticas podem ser observados em empresas como a Netflix, que implementou políticas inovadoras de recursos humanos, como o "Keepers Test" e os "Transparent Salaries", atraindo e retendo talento.

As compensações, monetárias ou sob a forma de regalias, desempenham igualmente um papel crucial. Uma remuneração justa, bónus e benefícios como ginásios, pequenos-almoços e salas de jogos, são indiscutivelmente fatores que contribuem para um ambiente de trabalho onde os colaboradores se sentem valorizados e motivados.

A comunicação eficaz é o terceiro pilar e, possivelmente, o mais desafiante. Trabalhar o propósito, fomentar o envolvimento e as relações interpessoais e promover o storytelling da cultura organizacional, são elementos essenciais para construir uma equipa coesa e motivada.

São estes os três pilares fundamentais para reter talento nas empresas e que contribuem para a criação de ambientes de trabalho mais atrativos, criativos e eficientes, considerando que o bem-estar dos colaboradores impacta diretamente a sua produtividade.

Assim, a resolução da fuga do talento português não se resolve apenas com a criação de mais oportunidades ou o aumento de salários. É absolutamente essencial adotar uma abordagem integrada de sustentabilidade humana. Isso implica considerar a saúde mental e física dos colaboradores, bem como o seu desenvolvimento pessoal e profissional.

É preciso investir seriamente na criação de ambientes de trabalho que desafiem, recompensem, cuidem e motivem os colaboradores e, nos quais, a felicidade e o bem-estar dos colaboradores sejam uma prioridade e uma realidade tão importante quanto a remuneração e as oportunidades de carreira. Só assim poderemos transformar a atual crise de emigração numa oportunidade para construir um futuro mais próspero e sustentável em Portugal. Que não restem dúvidas: colaboradores felizes contribuem para empresas mais felizes e lucrativas e um ecossistema empresarial mais robusto. Se Portugal passar ao lado da felicidade como motor do talento, passa ao lado de si mesmo como motor da economia global.

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