Afinal de contas, não queremos todos ser felizes? Aqui estão cinco formas de lá chegar

CNN , Andrea Kane
17 ago, 10:00
Envolver-se em atividades que aprecie na comunidade pode ajudá-lo a conhecer novas pessoas e a construir mais relacionamentos (FreshSplash/E+/Getty Images)

Envolver-se em atividades que aprecie na comunidade pode ajudá-lo a conhecer novas pessoas e a construir mais relacionamentos

Andamos mesmo todos à procura da felicidade.

O significado da felicidade é diferente para cada um de nós e pode até mudar ao longo das nossas vidas. Alegria, amor, propósito, dinheiro, saúde, liberdade, gratidão, amizade, romance, reconhecimento no trabalho? Isto tudo? Algo completamente diferente? Há vários estudos que têm sugerido que até podemos pensar que sabemos aquilo que nos torna felizes, mas que na verdade estamos frequentemente errados.

Um homem pode ter descoberto o segredo para aquilo que transforma a nossa vida em algo feliz e saudável – e tem dados para apoiar as suas conclusões.

Robert Waldinger é diretor do Harvard Study of Adult Development, provavelmente o mais antigo estudo longitudinal sobre a felicidade humana, que começou em 1938. O estudo original seguiu dois grupos de homens: o primeiro eram estudantes do Harvard College, o segundo era composto por adolescentes do centro da cidade de Boston. Foi alargado nas últimas décadas para passar a incluir mulheres e pessoas com origens mais diversificadas.

Há muitos elementos em jogo na procura por uma vida mais feliz, mas a chave resume-se a um fator principal: relacionamentos de qualidade.

“O que apurámos foi que a coisa mais importante era alguém manter-se ativamente conectado a, pelo menos, algumas pessoas, porque todos precisamos dessa sensação de ligação a alguém ao longo da nossa vida”, explicou Waldinger ao correspondente médico da CNN Sanjay Gupta no podcast “Chasing Life”.

“As pessoas que estavam conectadas com outras viveram mais tempo e mantiveram-se fisicamente mais saudáveis do que aquelas que estavam mais isoladas”, rematou. “Foi essa a surpresa do nosso estudo: não que as pessoas estavam mais felizes, mas que viviam mais”.

Waldinger, que partilha muitas das lições retiradas do estudo no livro de que é co-autor, intitulado “The Good Life: Lessons From the World’s Longest Scientific Study of Hapiness” [A Vida Boa: Lições do Mais Antigo Estudo Científico no Mundo sobre Felicidade, em tradução livre], é psiquiatra, professor de psiquiatria e sacerdote budista.

Porque é que ter relacionamentos de qualidade ajuda as pessoas a terem vidas mais felizes e mais longas?

“Os melhores dados que temos, e que outros estudos têm, estão relacionados com o stress e com o alívio desse stress”, referiu Waldinger. “Se algo perturbador me acontecer hoje, posso sentir o meu corpo a entrar num modo de resposta. Isso não é um problema, é normal essa resposta. Contudo, o que devemos fazer é regressar a um ponto de equilíbrio quando esse stress for eliminado. Se for para casa e queixar-me à minha mulher, ou se ligar a um amigo, consigo sentir literalmente o meu corpo a acalmar-se”.

O especialista acrescentou que a investigação na área da neurociência sugere que as pessoas que estão isoladas, ou se sentem sozinhas, se mantêm neste modo de resposta, o que significa que têm níveis mais elevados de hormonas ligadas ao stress a circular no seu organismo. “Têm sistemas imunitários que não funcionam tão bem, apanham infeções com maior facilidade”, disse. “E essa inflamação crónica quebra os sistemas do nosso corpo”.

Além disso, as pessoas que estão isoladas não têm ninguém que olhe por elas, assegurando-se de que elas comem bem, vão ao médico e têm um conjunto de comportamentos que conduzem a uma saúde melhor, rematou Waldinger.

Isto não quer dizer que as pessoas introvertidas ou solteiras estejam condenadas a vidas curtas e miseráveis. Ter um ou dois bons amigos – alguém com quem pode contar – é suficiente, acrescentou o especialista.

E o que podemos fazer para termos vidas mais felizes? Waldinger tem cinco dicas. Aqui vão elas.

Não ignore o essencial

Procure melhorar a sua saúde física. “Por um lado parece óbvio, mas apercebemo-nos que as pessoas no nosso estudo que tomavam conta da sua saúde viviam mais tempo, tendo mais anos livres de doenças enquanto envelheciam”, descreveu Waldinger.

“Isto quer dizer fazer exercício de forma regular. Isto quer dizer comer bem. Isto quer dizer não se tornar obeso. Isto quer dizer que não há excessos com álcool ou drogas. Isto quer dizer ter uma quantidade razoável de sono”, apontou. “Estas coisas são muito importantes”.

Melhore a sua vida social

Invista nos seus relacionamentos pessoais.

“Cuide das suas competências sociais”, aconselhou Waldinger. “Se sentir que precisa de mais ligações com outras pessoas, tem de tomar a iniciativa e trabalhar nesse aspeto”.

A melhoria das nossas competências sociais pode ser feita de duas formas. A primeira é a quantidade.

“Se sentir que está ligado a um número suficiente de pessoas na sua vida, pode dar passos no sentido de construir mais relacionamentos, de trazer mais pessoas à sua vida”, insistiu Waldinger.

Uma das formas é envolvendo-se em atividades que lhe deem prazer. “Pode ser voluntário numa atividade que aprecie ou com que se preocupe junto da sua comunidade. Pode ser juntar-se a uma equipa. Pode ser envolver-se numa comunidade religiosa”, apontou. “Se for muitas vezes ao mesmo grupo de pessoas, é provável que nasçam conversas sobre algo que os preocupa a todos”.

Fazer isto é uma maneira fácil de introduzir novas pessoas na sua vida, segundo o especialista.

Fortaleça as relações que já tem

A segunda forma de melhorar as competências sociais diz respeito à qualidade.

“E se eu tiver pessoas suficientes na minha vida, mas não me sentir ligado o suficiente a elas? Tenho de abdicar dessas amizades”, indicou Waldinger. “O que nós apurámos no nosso estudo é que as pessoas que fazem pequenos gestos, no seu quotidiano, para se manterem em contacto com outros são as pessoas que mantêm os seus relacionamentos fortes”.

Este esforço não é, necessariamente, algo pesado: significa apenas levar a cabo pequenas ações de uma forma consistente.

“Pode significar criar um momento, durante a deslocação diária para o trabalho, para ligar, mandar uma mensagem ou email a alguém, apenas para manter o contacto com aquele amigo”, exemplificou. “É uma forma de criar espaço para um passeio em conjunto, ou café ou mesmo um jantar”.

Estes gestos pequenos, mas regulares, vão contribuir para manter os relacionamentos com que nos importamos mais ativos e vibrantes, “em vez de acabarem por murchar por serem negligenciados”.

Expresse-se

Outra dica de Waldinger é avaliar quais os valores que são mais importantes para si e exprimi-los.

“Se aquilo que mais valoriza for a autenticidade, pense em como pode expressá-la na sua vida, se há formas de integrar mais esse valor na sua vida”, exemplificou. “Aquilo que mais valoriza também pode ser a família”.

Para se focar nesta expressão, o especialista aconselha-o a pensar nos valores fundamentais sem os quais não imaginaria que a sua vida fosse possível. Depois, pense em que contextos da sua vida pode exprimi-los. E em como pode tornar essa expressão mais frequente na sua vida. “Isto porque as pessoas que têm atividades que lhes permitem expressar o que é mais importante para si são aquelas que acabam por ser mais felizes e a apreciar o lado mais positivo das suas vidas”.

Aceite a abrace a mudança

As pessoas estão sempre a mudar. E isso significa que os relacionamentos também mudam. Precisamos de aprender a acomodar essas mudanças.

“A questão é se conseguimos reparar na forma como estamos a mudar e na forma como a outra pessoa está a mudar, se conseguimos aceitar e talvez celebrar e apoio essa mudança, em vez de lhe resistirmos”, referiu Waldinger. “Muitas vezes os relacionamentos têm problemas quando tentamos congelá-los de alguma forma, ou mesmo congelar as outras pessoas”.

Uma forma de aceitar tais mudanças, sobretudo quando alguém é maçador ou quando há problemas no relacionamento, é trazendo curiosidade para esse relacionamento, sugeriu.

“Antes de mais, ajuda a outra pessoa a sentir que você está interessado, que quer genuinamente saber. Isso também lhe permite aprender mais sobre por que motivo a outra pessoa está a pensar da forma como está. E é particularmente importante agora, num momento em que estamos tão separados uns dos outros.

Esperamos que estas cinco dias o ajudem a regressar ao caminho daquilo que considera ser uma vida boa e feliz.

E lembre-se: não há nenhuma vida sempre feliz. “A felicidade muda a cada momento”, lembrou Waldinger. “Podemos imaginar que, se fizermos tudo direitinho, seremos sempre felizes. Mas isso não é verdade para ninguém”.

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