Carlos Moedas abandona o projeto da Feira Popular. As reações: "inaceitável, "falta de ambição", "assim não pode ficar"

Agência Lusa , CF
4 jul 2022, 21:47
Comício da candidatura à presidência da Câmara Municipal de Lisboa pela Coligação Novos Tempos, Carlos Moedas

O PS e o BE já criticaram a decisão de Moedas. O presidente da Junta de Carnide não se opõe, mas chama a atenção para a situação de total abandono do terreno: "é um perigo"

A vereação do PS na Câmara de Lisboa acusou esta segunda-feira o presidente da autarquia, Carlos Moedas (PSD), de falta de visão e de ambição para governar a cidade, inclusive ao desistir do projeto da Feira Popular em Carnide.

“A imagem de marca de Carlos Moedas, como se viu hoje uma vez mais, é não fazer. Perante o desafio de algo que possa dar trabalho, ou gerar alguma crítica, Moedas recua, suspende ou cancela”, afirmou o PS, numa nota enviada à agência Lusa, reagindo à posição do atual presidente da Câmara de Lisboa sobre o projeto da Feira Popular em Carnide, que foi esta segunda-feira notícia, mas que já constava do seu programa eleitoral.

Numa entrevista à rádio Renascença, o social-democrata Carlos Moedas disse que é preciso repensar o conceito de Feira Popular, considerou que “parques de diversão no centro de cidade não fazem o mesmo sentido que faziam no passado” e defendeu que o projeto deve priorizar a construção de “um parque verde com equipamentos para as pessoas”, com a possibilidade de uma parte do espaço na freguesia de Carnide ter alguns equipamentos de diversão.

A posição do autarca do PSD constava do programa eleitoral da coligação Novos Tempos (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança), com o qual conquistou a presidência da Câmara de Lisboa nas autárquicas de 2021, em que se comprometeu a “transformar o atual projeto da Feira Popular”, apresentado em 2015 pelo anterior executivo camarário sob a presidência do socialista Fernando Medina, “para prever um novo parque urbano, com equipamentos de lazer e desporto, incluindo uma nova piscina exterior natural em Carnide, de grande dimensão, ambientalmente inovadora”.

Para o PS, partido que perdeu a presidência da autarquia da capital do país para a coligação Novos Tempos, “Carlos Moedas não tem uma visão de cidade e, muito menos, uma ambição para Lisboa, razão pela qual já pouco resta do seu programa eleitoral, sendo rara a semana que não deixar cair uma das bandeiras”.

Os socialistas defendem que a conclusão do projeto da Feira Popular em Carnide, apresentado em novembro de 2015 por Fernando Medina (PS), “para lá de uma ambição fortemente reclamada pelos lisboetas há quase 20 anos, era um instrumento crítico para o equilíbrio da carga económica e turística da cidade”.

Os vereadores do PS consideram que é preciso diversificar os pontos de atração na cidade, o que passa por diminuir a pegada turística da zona história e de Belém, onde se encontra concentrada atualmente.

“Desistir da Feira Popular, mais a mais sem qualquer sustentação como fez hoje Carlos Moedas, representa uma quebra com o imaginário afetivo da cidade, a história de Lisboa e as pretensões dos lisboetas”, contestou o PS, acrescentando que se trata de um importante equipamento para o concelho, que conjugava uma ampla área verde com mais de oito hectares com o espaço de diversão e entretenimento.

Sobre a posição de Carlos Moedas de que estes parques estão datados e não têm lugar nas cidades modernas, os socialistas consideram que “não tem razão”, indicando que Copenhaga, Viena, Estocolmo ou Bruxelas têm importantes parques de diversão no centro da cidade, inclusive o estudo de viabilidade da Feira Popular de Lisboa foi inspirado no Tivoli, em Copenhaga.

Perante as declarações do presidente da câmara, o PS vai interpelar, diretamente, Carlos Moedas na próxima reunião de vereação, local onde o autarca do PSD, que governa a cidade de Lisboa sem maioria absoluta, “nunca levou o tema e menos ainda explicou a sua decisão”.

A Lusa questionou o gabinete do presidente da Câmara de Lisboa sobre a alteração ao projeto da futura Feira Popular em Carnide, aguardando ainda uma resposta.

O projeto foi anunciado a 3 de novembro de 2015 e as obras arrancaram um ano depois, com as demolições dos edifícios existentes no terreno localizado na freguesia de Carnide, para criar um parque urbano de 20 hectares.

Em março de 2021, o então presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, disse que o parque verde da futura Feira Popular deveria abrir “antes do verão”, justificando o atraso na obra com a pandemia de covid-19 e revelando o objetivo de lançar ainda nesse mandato o concurso relativo à concessão para a operação do equipamento.

 

BE acusa Moedas de ter desistido de governar para os lisboetas, "concentrando-se apenas no turismo e no imobiliário"

O BE de Lisboa considerou esta segunda-feira “inaceitáveis” as declarações do presidente da câmara, Carlos Moedas (PSD), sobre o abandono do projeto da Feira Popular, na freguesia de Carnide, acusando-o de “desistir de governar” para quem vive na cidade.

“O presidente da Câmara Municipal de Lisboa diz que estes espaços de diversões não fazem sentido na cidade porque desistiu de governar para quem aqui vive, concentrando-se apenas no turismo e no imobiliário”, afirma o BE, em comunicado.

O Bloco de Esquerda refere que “as declarações de Carlos Moedas sobre o abandono do projeto da Feira Popular em Carnide são inaceitáveis”, lembrando que a antiga Feira Popular de Lisboa, em Entrecampos, na freguesia das Avenidas Novas, “foi durante seis décadas uma referência para várias gerações de lisboetas que ali encontravam um espaço de diversão, lazer e festa”.

O parque de diversão no centro da capital portuguesa foi encerrado em outubro de 2003, “fruto da enorme pressão imobiliária sobre os terrenos de Entrecampos”, indicam ainda os bloquistas, acrescentando que, desde essa data, a cidade ficou sem um espaço dessa natureza com a escala e as características da Feira Popular de Lisboa.

Recordando o projeto de uma nova Feira Popular em Carnide, apresentado em novembro de 2015 por Fernando Medina, o Bloco, que tinha no anterior mandato municipal um acordo de governação do concelho com os socialistas, reforça que “este equipamento, pelas suas características, serviria a população de Lisboa e não apenas os turistas”

“Se a ideia de Carlos Moedas avançar, as famílias e as crianças de Lisboa ficam com menos equipamentos e perdem-se os milhões que se previam de investimento”, aponta o BE, referindo que o projeto implicaria investir 70 milhões de euros.

O Bloco de Esquerda lembra que “sempre defendeu que a Feira Popular devia voltar integrada num espaço requalificado que conciliaria um grande parque urbano com área de diversões populares”, ressalvando que, da mesma forma, sempre criticou “a falta de clareza do PS” sobre o formato e envolvimento de privados no projeto.

“Ao contrário do abandono do projeto da Feira Popular em Carnide, este devia ser o momento de recriar a Feira Popular com zona de divertimentos e um grande parque urbano aberto ao público, com boa oferta de transportes públicos”, salienta.

O Bloco assegura não desiste deste objetivo, pelo que apresentará propostas na câmara e na assembleia municipal para que Lisboa não perca a Feira Popular e questionará Carlos Moedas sobre o destino que dará aos terrenos em Carnide.

 

Presidente da Junta não se opõe ao parque verde de Moedas, mas alerta: "como está não pode ficar"

O presidente da Junta de Carnide, em Lisboa, alertou esta segunda-feira para o estado de abandono dos terrenos destinados pelo anterior executivo camarário lisboeta à feira popular, onde o novo presidente da Câmara quer construir em alternativa um parque verde.

Em declarações à Lusa, Fábio Sousa (CDU), presidente da junta de Carnide, afirmou que não se opõe ao abandono do antigo projeto da feira popular para construir no seu lugar um novo parque verde com equipamentos, entre os quais uma piscina, como constava no programa eleitoral de Carlos Moedas.

“Eu não me oponho, obviamente, à construção do parque verde, e então se vier acompanhado de equipamentos para usufruto da população, sejam eles desportivos, como uma piscina, equipamentos desportivos e equipamentos sociais, obviamente que não me oponho a nada disso”, disse à Lusa Fábio Sousa.

Para o autarca da freguesia, o importante é que o terreno, com cerca de 10 hectares e que atualmente está ao abandono, seja uma oportunidade de desenvolvimento e com contrapartidas reais para as pessoas que habitam nas imediações.

“Foi essa, inclusive, a posição que eu transmiti ao presidente da Câmara. Disse que não estávamos cá para complicar, obviamente, e que o que queríamos era que, de facto, aquilo fosse uma grande oportunidade, e que, tal como o projeto da feira popular, o encarávamos como uma grande oportunidade para desenvolvimento da freguesia, nomeadamente na criação de emprego, na melhoria das condições de segurança. (…) Ou seja, o que nós queremos é que o projeto [qualquer] que seja para aquele território seja uma grande oportunidade de desenvolvimento local”, salientou.

Fábio Sousa realçou que tem alertado a câmara para a situação de completo abandono em que se encontra o terreno, porque atualmente “é um perigo” e “como está não pode ficar”.

“Aquilo está assustador. Canas e caniços altíssimos, ao lado de uma quantidade gigante de árvores que foram plantadas – e bem -, mas de que não temos a certeza da periodicidade das regas”, enumerou o autarca, salientando que as obras estão suspensas há cerca de um ano e o empreiteiro deixou no terreno várias caixas de materiais inflamáveis, além de existirem no espaço lagoas com água a céu aberto e sem proteção nem vigilância.

Fábio Sousa afirmou ainda que a junta não pode tomar a iniciativa de intervir no espaço, porque este não é da sua responsabilidade, mas já disse à câmara que quer “fazer parte da solução”, através da sua equipa de jardineiros ou até de programas de ocupação de jovens nas férias.

O então presidente da Câmara, Fernando Medina, anunciou em 2015 a mudança da Feira Popular de Lisboa para terrenos junto ao Bairro Padre Cruz, em Carnide, num investimento de 70 milhões de euros.

No espaço foram feitas algumas intervenções e as obras estão paradas há cerca de um ano, segundo Fábio Sousa.

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