FC Porto quer «agir proativamente» no caso dos e-mails, diz Villas-Boas

5 nov, 16:40
André Villas-Boas e Vítor Bruno (FC Porto)

Presidente portista diz que o clube vai contestar «arquivamentos que considera infundados» e que manifestou «essas intenções» não só à Liga e à FPF, como ao Governo, à Presidência da República e à PGR

Num editorial que assina na revista «Dragões», André Villas-Boas adiantou que o FC Porto «tem intenção de agir proativamente» no caso dos emails e contestar «arquivamentos que considera infundados».

O presidente do emblema portista refletiu sobre a corrupção no futebol português e considerou «inconcebível aceitar que determinadas figuras próximas das cúpulas dos clubes operem sem o conhecimento das lideranças». O dirigente acrescenta ainda que «essas preocupações e intenções» do FC Porto foram comunicadas «à Liga, à Federação e, devido à gravidade que transcende o futebol e a sua indústria como um todo, à Presidência da República, ao Governo e à Procuradoria Geral da República».

«(...) A verdade é que o futebol em Portugal tem sido marcado por escândalos que frequentemente culminam em nada ou, no limite, em decisões judiciais sem consequências disciplinares efetivas, gerando uma sensação de desigualdade no tratamento dados aos clubes. Pelo caminho, as vítimas deste sistema permanecem ignoradas, tratadas como meros danos colaterais das ações de indíviduos que gravitam na órbita dos beneficiados. É inconcebível aceitar que determinadas figuras próximas das cúpulas dos clubes operem sem o conhecimento das lideranças», lê-se.

«No FC Porto não seremos coniventes com este estado de coisas. Disso já demos conta aos nossos associados e simpatizantes e temos dado mostras de que estamos aqui para cumprir esse compromisso, contribuindo ativamente para promover a justiça a e transparência no desporto. Nesse sentido, o FC Porto está a estudar em detalhe o despacho de acusação proferido pelo DCIAP no mediático 'Caso dos Emails' e tem intenção de agir proativamente relativamente à acusação, incluindo a contestação de arquivamentos que consideramos infundados. Comunicámos também as nossas preocupações e intenções à Liga, à Federação e, devido à gravidade que transcende o futebol e a sua indústria como um todo, à Presidência da República, ao Governo e à Procuradoria-Geral da República», refere ainda.

Villas-Boas sublinha a necessidade de «um futebol justo e transparente» e que «somente com instituições vigilantes e mecanismo eficazes da promoção da justiça será possível restaurar a confiança dos adeptos e dos agentes desportivos». O presidente prossegue e escreve que o FC Porto cumprido a sua parte.

«Quanto ao compromisso, falamos por nós. Iniciámos reformas internas para promover a transparência e a responsabilidade: ações concretas que visaram combater a fraude na venda de bilhetes e auditorias forenses para identificar e responsabilizar, nos locais adequados, atos e comportamentos de quem prejudicou ou se serviu indevidamente do Clube; atuámos contra quem atentou contra a liberdade de sócios; instituímos canais de denúncia e lançámos o Portal da Transparência, para que, a todo o tempo, os sócios possam estar informados das decisões estratégicas, da forma como são cuidados os seus ativos – atletas, património, ativos financeiros – e como estamos a construir o futuro do Clube. Externamente, continuaremos a colaborar em processos onde possamos contribuir para a clarificação de suspeitas que pairam sobre competições, atletas, dirigentes e outros agentes, além de acionar todos os mecanismos policiais e judiciais, nacional e internacionalmente, para proteger os jovens jogadores em formação das malhas de redes criminosas. Intervimos em fóruns onde reafirmamos o nosso compromisso efetivo nesse combate, como aconteceu recentemente, na nossa cidade do Porto, na presença de representantes do Governo de Portugal e de ministros do desporto europeus e ainda na reunião magna da Associação Europeia de Clubes (ECA), onde o FC Porto voltou a estar condignamente representado, tendo tido a oportunidade de sublinhar a nossa posição e compromisso com a integridade e a credibilidade do futebol. No que ao FC Porto respeita, temos avançado com determinação e atuação diligente. Estamos na linha da frente e connosco queremos todos aqueles que vejam neste combate um desígnio. Seremos incansáveis na procura de um compromisso coletivo e uma vontade política real de reformar a indústria, valorizando os seus atores e, em especial, os amantes deste desporto-rei. É por isso que interpelámos os poderes públicos e do futebol e as entidades de gestão do futebol, instando a que promovam mudanças e reformas estruturais através de revisões legais, regulatórias, de fiscalização e disciplinares, pois os impactos para o ecossistema do futebol, para a sociedade e para a economia decorrentes do atual estado de coisas são profundamente preocupantes.»

O dirigente portista aproveitou ainda o editorial para lançar algumas questões.

«Alguém foi sancionado pelos tribunais com penas dissuasivas que desincentivem a repetição destes comportamentos? Por que é que alguns comportamentos muito graves, que comprometem a verdade desportiva e são comprovados judicialmente, não têm reflexo condizente nos órgãos de justiça e disciplina desportiva? Estas situações não podem resultar de uma “ardilosa sabedoria” em navegar no sistema judicial e disciplinar o qual deveria funcionar como um motor de desenvolvimento e não de entrave. Não queremos sequer imaginar um país que, anos à frente, ainda se depare com casos de corrupção ativa e passiva em tribunais civis e criminais sem a devida repercussão nos órgãos de justiça desportiva; ou o teatro de sombras que transforma colaboradores diretos em 'meros conhecidos' que, por simpatia, corrompem para beneficiar os 'amigos' sem censura ou reprovação; ou entidades fiscalizadoras e de regulação ignorem ou tratem superficialmente esquemas financeiros suspeitos ou não questionem a origem dos capitais envolvidos. Fazer justiça, punir os prevaricadores e restaurar a verdade desportiva significa ser exigente com todo o sistema de justiça e disciplinar. E sermos consequentes. Nos locais certos - nos tribunais e nas entidades responsáveis pela aplicação e cumprimento da lei - conduzida por magistrados e órgãos de justiça e disciplinares competentes, com efetividade, com impacto real nos quadros competitivos e com imparcialidade absoluta», concluiu.

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