Em Espanha já se dividem doses de adulto de antibióticos para tratar infeções pediátricas

31 jan 2023, 10:54
Suplementos alimentares (Pexels)

O cenário de falta de medicamentos afeta todos os países europeus. Há escassez de antibióticos, analgésicos e antipiréticos, sobretudo nas formulações pediátricas. Já há países a tomar medidas radicais. Em Portugal, apesar de algumas falhas, a questão não se coloca ainda

A Europa está a braços com os piores problemas de abastecimento de medicamentos em décadas. Os maiores problemas estão nas formulações pediátricas de amoxicilina, um antibiótico utilizado para tratar as infeções mais comuns, incluindo infeções respiratórias, que este inverno têm afetado as crianças acima do que é costume para a época. A falta de medicamentos deve-se, acima de tudo, ao aumento da procura: os laboratórios fazem uma previsão das necessidades com base nos consumos dos anos anteriores e, este ano, o consumo ultrapassou em muito as expectativas.

Vários países europeus já estão a tomar medidas para assegurar as cadeias de distribuição e garantir que os doentes têm acesso aos medicamentos que necessitam. Em Espanha, por exemplo, o Ministério da Saúde autorizou as farmácias a vender aos pais antibióticos para adultos, para partir os comprimidos a meio e, assim, conseguir uma dose pediátrica. O objetivo é assegurar que os antibióticos chegam a todos e reservar as apresentações de amoxicilina em xarope para bebés com menos de seis meses, incapazes de tomar comprimidos.

Em Portugal, a situação não é tão grave, de acordo várias fontes contactadas pela CNN Portugal. Há falhas de algumas formulações, mas sempre com alternativas disponíveis no mercado.

“Não estamos nessa situação. Estamos com maior dificuldade de acesso a alguns medicamentos, mas não chegámos ainda a ter de encontrar uma solução como essa de adaptar a dose de adulto à pediatria. Mas é uma solução a considerar, se atingirmos o limite”, admite o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Hélder Mota Filipe.

Atualmente, a solução não seria sequer aplicável em Portugal, por questões legais. A prescrição eletrónica e o sistema de comparticipações não permitem às farmácias trocar a medicação prescrita ou sequer dispensar uma caixa de comprimidos com mais ou menos quantidade do que a receitada pelo médico.  Seria portanto, também necessária uma autorização especial para implementar esta medida. Mas a Ordem dos Farmacêuticos vê com bons olhos a mudança na legislação, desde que se respeitem alguns cuidados.

“Há comprimidos que são revestidos ou de libertação apenas no intestino, que pela sua natureza não podem ser divididos. Um comprimido revestido, quando fraturado deixa de estar revestido na zona da fratura e já não se comporta da mesma maneira, por exemplo. Por isso, essa solução deve ser adotada sempre com a ajuda de um farmacêutico. Não podem os pais dividir, por sua iniciativa, um antibiótico de adulto que tenham em casa, com o intuito de o adaptar à idade do filho, caso não encontrem a formulação prescrita pelo médico”, alerta Hélder Mota Filipe.

A Ordem dos Farmacêuticos reforça, assim, a necessidade de se mudar a legislação e de se prepararem tabelas de equivalentes terapêuticos, para dar mais autonomia ao farmacêutico e, assim, evitar que, em caso de rotura de um medicamento, o doente seja reenviado para o médico, para o centro de saúde ou para as urgências para que a prescrição seja revista.

Proibição de exportação

Apesar de a situação em Portugal não ser tão dramática como em Espanha, o Infarmed reviu, no início de janeiro, a lista crítica de medicamentos. A proibição de exportação de medicamentos inclui agora paracetamol, ibuprofeno, azitromicina e amoxicilina.

O problema da escassez de medicamentos nas farmácias comunitárias em praticamente todos os países europeus já levou a Comissão Europeia, a Agência Europeia do Medicamento e as entidades que supervisionam os medicamentos em cada um dos países a reativar o grupo de trabalho para tratar o tema. O Grupo Executivo sobre o Abastecimento e Segurança do Medicamento (MSSG, sigla do Inglês) foi criado em março de 2022, para assegurar a disponibilidade de medicamentos em contexto de pandemia.

Num comunicado emitido no último dia 20 de janeiro, o MSSG justifica o problema intermitente da distribuição de medicamentos com questões geopolíticas, como a guerra na Ucrânia, a crise energética e a inflação. A isso, acrescenta o MSSG, soma-se “um aumento recente das infeções respiratórias, que provocou um aumento da procura”, bem como problemas na produção, por parte de laboratórios e fábricas.

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