“A minha irmã trabalhava de coração para ajudar os refugiados”: Farid, irmão de Farana Sadrudin (uma das vítimas do ataque no Centro Ismaili)

28 mar 2023, 20:40
Farana Sadrudin (DR)

Farid conta que a irmã dedicava a os dias a tentar ajudar os refugiadas e fala de um caso mais complicado de um refugiado "com feitio especial"

Nos últimos tempos, Farana Sadrudin, 49 anos, passava os dias a tentar encontrar soluções para os refugiados que pediam apoio ao centro ismaelita de Lisboa e, segundo revela o seu irmão Farid havia, pelo menos, um caso complicado. “Ela estava sempre a receber chamadas fora de horas de vários refugiados e havia uma pessoa muito rude, arrogante e impulsivo, que julgo ser este afegão. Mas ela defendia-se bem”, conta Farid, explicando que o atacante é, de acordo com as pessoas da comunidade que lhe ligaram a dar os sentimentos, “frequentador da igreja” no centro.  

Farana, explica o seu irmão, dedicava a vida a ajudar estas pessoas que eram acolhidas em Portugal, e que não tinham nada, ou quase nada. “A minha irmã trabalhava de coração para ajudar os refugiados”, diz, lembrando o que ela lhe relatava. “Dizia-me muitas vezes que eram pessoas com vidas tão difíceis, que isso mexia com ela”. Às vezes até enviava fotografias para mostrar felicidade de quem conseguia ajudar. 

Era preciso encontrar trabalho para todas, garantir condições de sobrevivência e dar-lhe ferramentas para isso. “Por isso estavam a dar cursos intensivos” de português, refere, acrescentando:  “Mas sei que havia um caso mais complicado em que o feitio especial não tornava tão fácil encontrar trabalho”, relata. Mas ela não desistia. Nunca desistia.

A quantidade de refugiadas era tanta, conta Farid, que a irmã usava o seu tempo quase todo para resolver os problemas e arranjar soluções. “Quando estive em Portugal no funeral da minha avó a minha irmã passou o dia a receber chamadas e eu cheguei a dizer-lhe que ela tinha de impor limites e ter horários”, explica Farid, que soube da notícia quando estava a fazer a mala para ir para a República Dominicana, onde ia festejar os seus 50 anos, que completa no dia 3 de abril.

“Vi num grupo WhatsApp que tinha havido facadas no centro Ismail. Liguei ao meu pai e ele disse-me ‘Isto está mal. Vem para Portugal. A Farana foi...’”.

A irmã quis ajudar a proteger o professor que o afegão estava a tentar esfaquear e acabou ela por não resistir. Durante anos foi engenheira e trabalhou na AXA seguros, tendo passado por Marrocos e Madrid. “Mas chegou ao topo e sentiu necessidade de mudar” e por isso foi para o Centro Ismaili. “Um sítio onde era muito querida de todos”.

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