Quer que os seus filhos tenham muito sucesso? Então não faça isto

CNN , Kara Alaimo
10 jun, 12:00
Os pais e tutores de crianças que são muito bem-sucedidas permitem que professores, treinadores ou outros adultos mentores desempenhem um papel importante a ajudar as crianças a alcançarem os seus objetivos (RyanJLane/E+/Getty Images)

Os pais e tutores de crianças que são muito bem-sucedidas permitem que professores, treinadores ou outros adultos mentores desempenhem um papel importante a ajudar as crianças a alcançarem os seus objetivos

Nota do Editor: Kara Alaimo é professora associada de comunicação na Fairleigh Dickinson University. O seu livro “Over the Influence: Social Media Is Toxic for Women and Girls — And How We Can Take It Back” foi publicado em 2024 pela Alcove Press

Quando Sarah, a filha de Jerry Groff, disse aos 14 anos que queria atravessar um lago a nadar, numa distância de quase 15 quilómetros, num domingo de manhã, este pai podia ter respondido de várias maneiras. “Esta ideia é maluca, perigosa mesmo”, “Tens de treinar mais antes”, “Já temos planos”.

Em vez disso, Jerry e o outro filho acompanharam Sarah num barco enquanto ela nadava. Já a mulher de Jerry, o irmão e a cunhada conduziram ao longo da margem do lago, caso Sarah precisasse de uma boleia para regressar, descreve Susan Dominus no seu mais recente livro “The Family Dynamic: A Journey Into the Mystery of Sibling Success”.

Sarah acabou a atravessar o lago, fixando um novo recorde municipal naquele dia. 

Hoje, Sarah True é atleta profissional e olímpica. O irmão, Adam Groff, é um empreendedor de sucesso. A outra irmã, Lauren Groff, é uma conhecida escritora de romances.

Ter pais que incentivam a independência é um tema comum entre as pessoas que alcançaram grandes conquistas nas suas vidas, explica Dominus, que colabora com a revista New York Times Magazine e entrevistou seis famílias para o seu novo livro. 

As crianças que são muito bem-sucedidas tendem a ter pais que as apoiam, em vez de controlarem cada detalhe, mostra o livro “The Family Dynamic” de Susan Dominus (Crown Publishing)

Estes pais, diz, “não tinham receios de deixar os seus filhos fracassarem em algo que, à primeira vista, seria difícil de concretizar”. “Deixavam os filhos fazerem as suas escolhas, mesmo sabendo que elas eram duras”.

Esta é apenas uma das lições que os pais e outros tutores podem retirar da investigação desta autora sobre como criar filhos que têm sucesso nas suas vidas.

Não tente controlar quem treina e ensina os seus filhos – nem os seus filhos 

 Embora os pais perfilados por Dominus tendessem a apoiar os sonhos dos filhos, não controlavam em demasia o progresso deles.

“Nenhuma dessas famílias tinha pais envolvidos em excesso na vertente educativa da vida dos filhos”, diz. “Prestavam atenção, davam apoio, estavam presentes”. Contudo, quando marcavam presença nos jogos dos filhos, não tentavam dizer aos treinadores desportivos como deviam fazer o seu trabalho.

A autora Susan Dominus entrevistou seis famílias com filhos que obtiveram grandes resultados nas suas áreas de interesse. O resultado é o seu último livro, que ensina a criar filhos bem-sucedidos (Audrey deWys)

Em alternativa, segundo Dominus, os pais concentravam-se sobretudo em criar um lar acolhedor e em demonstrar apoio, deixando que os professores, os treinadores e outros mentores orientassem e ensinassem os filhos.

Dê o exemplo

De certa forma, os pais não “protegiam em demasia” os filhos porque estavam mais concentrados em serem exemplos poderosos, trabalhando com afinco e contribuindo para as suas comunidades. Por isso, independentemente de trabalharem em casa ou for a, “ocupavam papéis que consideravam ser significativos”, aponta Dominus.

Enquanto criava os seus filhos na Flórida, na década de 1950, uma outra mãe, Millicent Holifield, conseguiu convencer o estado a criar uma escola de enfermagem para mulheres negras. Uma das suas filhas, Marilyn Holifield, acabou por se tornar uma das primeiras alunas a integrar este estabelecimento de ensino, no início dos anos 1960. Além de uma líder cívica, viria a ser a primeira mulher negra sócia de um grande escritório de advogados naquele estado norte-americano. Outro filho de Millicent, Bishop, que estudou Direito em Harvard, acabou a lutar por mudanças que promoviam a equidade racial naquela universidade. Mais tarde, convenceu o estado da Flórida a reabrir a faculdade de Direito Florida A&M University, para formar mais advogados negros. Já o filho Ed tornou-se cardiologista e um forte defensor da causa da saúde pública.

Estes pais determinados transmitiram a crença de que os seus filhos também poderiam conquistar o mundo. “Havia um otimismo tremendo em muitas destas famílias”, descreve Dominus. “Uma coisa é dizer algo, outra é os seus filhos perceberem que o sente mesmo. A vida desses pais deu motivos reais aos filhos para serem otimistas”. 

Isto porque muitos destes pais já tinham superado dificuldades ou acabado a “surpreender-se a si mesmos – ou até mesmo a ultrapassar as expectativas da sociedade”. 

Outro aspeto comum passava por valorizar a educação e por manter a curiosidade e abertura em relação a novas experiências, como o mundo das viagens, da arte ou da música.

Encontre a rede de apoio certa 

Para proporcionar essas experiências, os pais de crianças que vieram a tornar-se pessoas extremamente bem-sucedidas precisavam de encontrar a rede de apoio certa – ou seja, os lugares e as pessoas certas para ajudá-los nessas tarefas. É o que os anglo-saxónicos costumam descrever como “a vila” que é necessária para criar um filho.

“Não só moravam em bairros onde havia muitos recursos, como também os aproveitavam ao máximo”, aponta Dominus.

Os Holifield moravam perto de uma universidade em Tallahassee e tiravam grande proveito dessa proximidade, levando os filhos a eventos culturais locais e matriculando-os em aulas de arte, no grupo de teatro ou num curso de jornalismo. 

Há outros pais que se esforçam para ligar os seus filhos a pessoas bem-sucedidas, que lhes possam transmitir conhecimento. Ying Chen emigrou da China para os Estados Unidos da América, trabalhava sete dias por semana no restaurante da família, não falava fluentemente inglês, mas cultivava relações com músicos locais cheios de talento, para que os seus filhos pudessem aprender a tocar instrumentos.

Um dos filhos desta mulher, Yi, tornou-se o quinto funcionário da Toast, uma empresa dedicada à gestão de restaurantes que acabou por ter a maior entrada em bolsa de história de Boston. Já o filho Gang juntou-se a outra empresa de sucesso, a Speak, que utiliza inteligência artificial para ajudar as pessoas a aprender outra língua. A filha Elizabeth tornou-se médica, o filho Devon trabalha na Amazon.

Fale sobre o lado negativo do sucesso 

É claro, nem todos temos de criar presidentes de empresas ou atletas olímpicos. As pessoas que depositam tanta energia numa única atividade, geralmente, têm menos tempo para investir noutras áreas das suas vidas, descobriu Dominus durante a pesquisa para o seu livro. “Alcançar grandes feitos exige sacrifícios – podem ser no amor, na qualidade das relações, na paz de espírito, no tempo livre ou na reflexão”, diz.

Se as crianças definirem metas muito ambiciosas para si próprias, é bom “lembrá-las de que há custos associados”.

Não se preocupe tanto com pormenores

Os pais e tutores costumam preocupar-se sobre se estão a tomar as decisões certas, por exemplo, na hora de deixar os filhos dormir com eles ou de castigá-los. Todavia, Dominus afirma que isso, “na realidade, tem menos impacto do que imaginamos no que respeita à personalidade”.

Em vez disso, procure concentrar-se em ter um relacionamento forte com os seus filhos. E, mais importante, segundo Dominus, “não desmotive o seu filho ao envolver-se demasiado” na vida dele.

Os pais perfilados por Dominus não eram daqueles que diziam aos filhos o que tinham de fazer, como nadar num lago. Contudo, deixavam-nos tentar se fosse essa a sua vontade. E estavam lá para amá-los e apoiá-los, independemente de fracassarem ou de conseguirem bater um recorde. 

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