Com Passos Coelho começaram a faltar professores, com Costa perdeu-se "qualidade". Ministros dos dois governos explicam o que falhou

CNN Portugal , BCE
12 set, 11:05

Problema também passa pelas universidades, onde há poucas vagas para a formação de docentes. As visões de Nuno Crato e João Costa

A falta de professores nas escolas não é um problema novo. Aliás, admite o ex-ministro da Educação Nuno Crato, já se sabia, "pelo menos desde 2013", que este seria um problema dentro de alguns anos.

Para o ex-ministro do Governo liderado por Pedro Passos Coelho, que nesse ano de 2013 estava a meio da legislatura, há agora mais um problema a acrescentar a esse - o problema da "qualidade" de quem está a ensinar, e que a partir desta quinta-feira enfrenta um novo ano letivo.

"Nós não queremos chegar a uma situação em que tenhamos um conjunto de professores que não têm a preparação necessária" para dar aulas, afirma Nuno Crato, em entrevista à CNN Portugal, sublinhando que, até 2015, ano em que deixou o Ministério da Educação, os dados mostram um "progresso na aprendizagem dos alunos", que, diz, "foi baseado, apesar dos problemas económicos, numa grande dedicação dos professores e numa grande qualidade dos professores que tínhamos".

O ex-ministro João Costa, que tutelou a pasta no último governo de António Costa, concorda que não se deve "prescindir da qualidade na formação dos professores", lamentando que as universidades disponibilizem "muito poucas vagas" para a formação de docentes, "em particular no terceiro ciclo e ensino secundário". Neste contexto, o ex-ministro do Governo de António Costa elogia as "medidas de emergência que estão a ser tomadas" pelo novo Executivo, mas ressalva que estas são apenas "pensos rápidos" para um problema que é estrutural.

"Preocupa-me, por exemplo, que numa das medidas que está a ser discutida, de acordo com o que li na comunicação social, se esteja a ponderar vincular professores não profissionalizados, professores com habilitação própria", admite João Costa.

Voltando à qualidade, Nuno Crato lamenta que a questão não seja só de agora, admitindo que pode estender-se no futuro: "Mas há um problema de qualidade também do futuro, e esse futuro é um futuro a médio e longo prazo. Nós não queremos chegar a uma situação em que tenhamos um conjunto de professores que não têm a preparação necessária".

O ex-ministro da Educação garante que a preparação dos professores chegou a ser "muito boa", o que fez com que ensino progredisse até 2015, precisamente o último ano de governo de Pedro Passos Coelho. Até aí, diz, "os resultados todos das avaliações internacionais, que são os mais fiáveis que nós temos hoje, mostraram o progresso da aprendizagem dos alunos até 2015, e isso foi baseado, apesar dos problemas económicos, numa grande dedicação dos professores e numa grande qualidade dos professores que tínhamos".

Para João Costa o problema é mais "estrutural", até porque "sabemos que não estamos a falar de um problema exclusivamente português". Apesar disso, lembra o ex-ministro de António Costa, "Portugal tem uma característica especial, que tem que ver com o envelhecimento do corpo docente e com muita falta de formação de novos professores", o que "faz com que o problema tenha uma complexidade maior".

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