«DRIBLE DA VACA» - Opinião de Bruno Andrade
A expressão brasileira «cai quem quer» explica bem toda a narrativa criada nos últimos dias, com um impulsionamento bizarro de parte da comunicação social, a favor do regresso de Bruno Lage ao Benfica.
Sou jornalista. Vou morrer jornalista. Sempre defenderei com unhas e dentes uma profissão cada vez mais sucateada, descredibilizada, desprestigiada e, não menos importante, mal paga.
O crescer da nossa fragilidade acaba por nos colocar em situações constrangedoras, muitas vezes fruto da indiferença de quem está acima de nós. Pior então quando a falta de proteção soa propositada. Com interesses maiores por trás.
Não, não acredito em meras coincidências, sobretudo no jornalismo. Não é nada normal num mesmo dia os três principais jornais esportivos de Portugal trazerem entrevistas com Rafa, João Félix e Grimaldo. Todos, pasmem, a elogiar Bruno Lage.
Peço perdão aos mais sensíveis, mas foi única e exclusivamente propaganda orquestrada. Como se não houvesse o mínimo interesse em outros tópicos, três nomes de peso da história recente encarnada, curiosamente inacessíveis outrora num modo geral, analisaram apenas o sucessor de Roger Schmidt. Nada mais.
Importante: não tenho nada contra o treinador, tampouco contra os jogadores. Nada também contra os (meus colegas) mensageiros. Favor não confundir! O problema crucial está na mensagem sincronizada e, especialmente, em quem deixou passar a mensagem.
Sim, fomos usados. Direta ou indiretamente, fomos usados. Claramente usados. Acredito piamente que um ou outro nem sequer notou, uma vez que a estratégia somente ficou óbvia com o conhecimento das publicações em conjunto.
A (minha) revolta maior está diretamente relacionada com aqueles que prontamente perceberam o plano e deram de ombros. Ou mais grave: aqueles que sabiam de tudo desde início e participaram no circo mediático.
Até que se prove o contrário, os palhaços infelizmente somos nós.
*Bruno Andrade escreve a sua opinião em Português do Brasil