Investigadores portugueses alertam para baixa literacia em saúde sobre produtos cosméticos

Agência Lusa , DCT
28 nov, 09:12
Rotina cosmética de cuidados de pele

Com 1.158 inquiridos no total, este estudo junta duas amostras que foram analisadas separadamente

Um estudo da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP), sobre o conhecimento dos portugueses sobre cosméticos, revelou que os níveis de literacia nesta área são mais baixos do que na literacia geral em saúde, foi esta quinta-feira divulgado.

Em entrevista à agência Lusa, a professora da FFUP Isabel Almeida, que coordenou o estudo, apontou que 75% a 80% da população analisada possui níveis de literacia em saúde inadequados a problemáticos sobre produtos cosméticos, percentagens “significativas e preocupantes” também quando comparadas com o número conhecido da literacia da população portuguesa sobre saúde em geral: 32%.

“Estes níveis são especialmente baixos no que diz respeito à avaliação e aplicação de informação de saúde relativa a estes produtos e ao domínio da prevenção da falta de uso, uso indevido, abuso e efeitos indesejáveis de produtos cosméticos”, disse a investigadora.

Com 1.158 inquiridos no total, este estudo junta duas amostras que foram analisadas separadamente.

Uma presencial de 249 pessoas que, de acordo com a docente, se pretendeu que fosse representativa da população portuguesa com quotas de género, idade, e distribuição geográfica e através de questionário feito em farmácias de todo o país, incluindo ilhas, e uma ‘online’, na qual participaram 909 pessoas.

Os questionários decorreram entre junho e novembro de 2023 e os resultados serão publicados em breve.

O questionário foi desenvolvido por adaptação do questionário geral para a literacia em saúde e a comparação de percentagens – os 75 a 80% face aos 32% – é possível graças a um estudo de 2021 feito por um consórcio europeu que avaliou a literacia em saúde de vários países.

Entre outros exemplos, a equipa de investigadores pediu às pessoas que “numa escala de muito difícil a muito fácil” indicassem como sabiam onde encontrar conselhos profissionais sobre cosméticos que diminuíssem problemas da pele, cabelo e orais ou informação sobre práticas saudáveis, conselhos e instruções profissionais, se compreendiam a informação que está nas embalagens ou folhetos ou como avaliam as vantagens e desvantagens das diferentes escolhas.

“Perante os resultados é mais do que notório que é preciso fazer campanhas de educação para a saúde especialmente dirigidas a determinados segmentos da população, os segmentos mais em risco como idosos e quem tem responsabilidade de promover literacia em saúde: os profissionais de saúde, farmacêuticos, médicos, dermatologistas e enfermeiros”, concluiu Isabel Almeida.

A investigadora também defendeu o envolvimento da Direção-Geral para a Saúde, e da Associação de Industriais de Cosmética, entre outras entidades.

À Lusa, a professora de cosmetologia contou que a FFUP sempre teve uma preocupação nesta área, razão pela qual, em 2017, criou – para combater a desinformação, validado pela academia portuguesa e com o envolvimento de investigadores de outras nacionalidades, nomeadamente brasileiros – o portal ‘Infocosmeticos’.

“Quisemos dar o nosso contributo para que existisse informação validada e confiável de acesso livre”, disse Isabel Almeida que, entre 2020 e 2024, também coordenou um outro estudo que pretendeu analisar a qualidade da informação nas redes sociais sobre produtos cosméticos.

Nos resultados partilhados com a Lusa, a equipa faz um alerta para a existência de informação confusa, imprecisa, misturada com publicidade e sem referir questões de segurança partilhada por influenciadores “da moda” que chegam a um grande número de pessoas, incluindo crianças.

“A população que acede às redes sociais é muito diversificada e inclui adolescentes que têm menor capacidade crítica e são mais influenciáveis. Pode haver más práticas do uso de cosméticos e inclusive deixarem de usar com receio de ingredientes considerados perigosos. Há informações alarmistas”, acrescentou a investigadora dando como exemplo o uso de protetor solar.

“Aplicar protetor solar e por cima creme é uma prática errada porque diminui a eficácia do protetor solar”, exemplificou.

Deixar de usar cosméticos, nomeadamente alguns que são importantes para a saúde, por receios infundados ou o excesso de utilização de produtos com consequências para a saúde da pele, bem como a tendência de fugir aos produtos comerciais e tentar fazer produtos em casa sem controlar a qualidade, são algumas das preocupações da equipa de investigação.

Neste estudo foram comparadas páginas de Instagram de influenciadores “populares” e de influenciadores com especialização na área cosmética.

Uma conclusão é a “forte” relação entre publicidade e a qualidade da informação transmitida: 75% dos ‘posts’ que continham publicidade de produtos cosméticos nos perfis populares incluíam informações confusas.

Em contraste, nos perfis de especialistas, apenas 25% dos ‘posts’ publicitários eram confusos, destacando o impacto da formação especializada na qualidade da comunicação.

Além da FFUP estes estudos envolveram a Faculdades de Medicina e de Letras da Universidade do Porto, e unidades de investigação UCIBIO, CINTESIS@RISE e CITCEM.

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