Estados Unidos são o quarto destino dos produtos produzidos em Portugal e há indústrias que dependem em grande parte do mercado norte-americano
Um mercado que representa quase 7% das exportações portuguesas e um valor que chega perto dos nove mil milhões de euros. É este o peso do mercado norte-americano na economia portuguesa, que tem nos Estados Unidos (EUA) o quarto maior destino da sua produção.
Produção essa que está agora ameaçada pela vontade de Donald Trump, que esta sexta-feira insistiu na ideia de que a União Europeia vai ser alvo de “tarifas significativas”, uma vez que “trata mal” os EUA.
"A União Europeia (UE) é muito má para nós. Tratam-nos muito mal. Não aceitam os nossos automóveis nem os nossos produtos agrícolas. De facto, não aceitam muita coisa", disse o presidente dos Estados Unidos logo após a tomada de posse, acrescentando que, por isso, serão alvos de tarifas.
O presidente norte-americano não revelou quando ou em que moldes pretende aplicar as tarifas - para China, Canadá e México isso entra em vigor já este sábado -, mas é natural que os 27 comecem a fazer contas aos estragos que podem surgir da vontade da nova administração da Casa Branca.
Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o peso dos EUA nas exportações de Portugal passou de 5% em 2019 para 6,8% em 2023, com o país a ocupar a quarta posição entre os principais destinos das exportações portuguesas. Os números já disponíveis até novembro de 2024 mostram que os Estados Unidos mantêm o lugar na lista dos países clientes de Portugal, ficando atrás de Espanha, França e Alemanha.
O mais recente relatório do Gabinete de Estratégia e Estudos (GEE), publicado pelo Ministério da Economia, aponta que o setor dos produtos alimentares e bebidas é o que mais exporta para os EUA, tendo sido responsável por mais de cinco mil milhões de euros em exportações no ano de 2023. Falamos concretamente da exportação de produtos como carne ou peixe, por exemplo.
Mas são até as bebidas alcoólicas, nomeadamente o vinho, que mais peso têm no setor agroalimentar, onde conservas ou leite também ganham importância.
Seguem-se setores também ligados ao alimentar, como produtos do reino vegetal ou gorduras e óleos animais, onde o azeite, por exemplo, figura como um produto óbvio.
Mas há outro setor para o qual os EUA têm particular peso. De acordo com os dados mais recentes, citados pelo ECO, a indústria farmacêutica foi a que mais cresceu em peso relativo no ano transato. Descontando os combustíveis, os produtos farmacêuticos são o bem com o maior peso relativo nas vendas ao mercado norte-americano, sendo que a venda de medicamentos gerou mais de 600 milhões de euros em 2024. Ao todo, e referente ao ano de 2023, a indústria farmacêutica recebeu mais de 1,2 mil milhões de euros vindos do lado de lá do Atlântico.
O mercado norte-americano é ainda vital para indústrias como a energética, nomeadamente a exportação de refinados de petróleo, ou a madeira, onde a cortiça ganha especial destaque. Só na cortiça em concreto, o mercado norte-americano gerou quase 300 milhões de euros a Portugal em 2023. Há ainda a destacar as indústrias têxteis ou do calçado, com várias empresas, nomeadamente do tecido empresarial do Norte, a dependerem deste mercado.
União Europeia a sofrer
De acordo com o Eurostat, em 2023, os EUA foram o maior parceiro nas exportações de bens da União Europeia: 319 mil milhões de euros - o que representa 19,7% do total das exportações.
Entre janeiro de 2022 e dezembro de 2023 as exportações do bloco comunitário para os EUA aumentaram 9,3%, enquanto as exportações para outros países terceiros aumentaram 3,8%.
Os três principais produtos exportados para os Estados Unidos em 2023, tal como no ano anterior, foram produtos médicos e farmacêuticos, automóveis e veículos motorizados e medicamentos. Mas os produtos petrolíferos (que não crude), compostos orgânicos e inorgânicos, outra maquinaria, motores não-elétricos, equipamentos de aeronáutica também estão entre os produtos mais exportados pela União Europeia para os EUA.
Lembre-se o caso da Volkswagen, por exemplo, que depende em grande medida do mercado norte-americano, para onde envia mais de 11% da sua produção automóvel. Num setor em crise na União Europeia, imagine-se o que seria a aplicação de tarifas.
Em valores absolutos, a Alemanha é mesmo o país que lidera por uma larga margem a lista de países exportadores, exportando 157,7 mil milhões de euros em bens para os EUA, de acordo com o Eurostat. Seguiram-se, em 2023, Itália e Irlanda, com exportações avaliadas em 67,3 mil milhões de euros e 51,6 mil milhões de euros, respetivamente. Em conjunto, estes três países representam 55% das exportações da UE para os EUA.
França exportou para os EUA bens no valor de 43,9 mil milhões de euros, os Países Baixos 40,5 mil milhões de euros, a Bélgica 31,3 mil milhões de euros e a Espanha 18,9 mil milhões de euros. No caso dos franceses, o vinho e o queijo são produtos especialmente delicados, sendo que Donald Trump chegou a ameaçar, no seu primeiro mandato, uma taxa especial para estes dois setores.
Em termos do que representam as exportações para os EUA no total de exportações de cada país, a Irlanda é, de longe, o país da União Europeia que mais depende das exportações para os EUA. Em 2023, mais de um quarto (26,6%) de todas as exportações de mercadorias irlandesas foram dirigidas para os EUA, de acordo com o Eurostat.
Seguem-se a Finlândia (11,1%), a Itália (10,7%) e a Alemanha (9,9%), a Suécia (8,9%) e a Dinamarca (8,3%). Para a França as exportações para os EUA representam apenas 7,3% do total e para a Áustria são 7.1%.
No nono lugar desta tabela encontra-se Portugal: as exportações para os EUA são responsáveis por 6,8% do total das exportações do país.
Mas se olharmos apenas para as exportações para fora da União Europeia o peso dos EUA aumenta significativamente.
Neste caso, a Irlanda continua na frente, mas com 45,8% das suas exportações extra-UE dirigidas para os EUA. Isto quer dizer que quase metade das exportações da Irlanda para fora da UE em 2023 se destinavam aos EUA.
Seguem-se a Finlândia (26%), Áustria e Portugal (23%), Itália e Alemanha (22%) e Eslováquia e Suécia (20%).