Guerreiros de fim de semana e praticantes de exercício físico regular têm o mesmo risco de demência ligeira, diz estudo

CNN , Lianne Kolirin
24 nov 2024, 09:00
Exercício físico (DjelicS/E+/Getty Images via CNN Newsource)

Já existiam boas provas de que "a atividade física pode prevenir a demência". Agora, este estudo vem mostrar qual o impacto da regularidade do desporto nessa prevenção

As pessoas que só fazem exercício físico ao fim de semana têm um risco de desenvolver demência ligeira semelhante ao das pessoas que treinam o corpo com mais frequência, segundo um novo estudo.

Os guerreiros de fim de semana que praticam uma ou duas sessões de exercício físico por semana foram o foco da investigação publicada no British Journal of Sports Medicine. Uma equipa de investigadores da América Latina e da Europa procurou determinar se a frequência do exercício físico afeta o risco de desenvolver demência ligeira.

Os investigadores descobriram que não só o padrão de fim de semana para manter a forma é potencialmente tão eficaz para evitar a doença, como também pode ser mais fácil para as pessoas com estilos de vida ocupados.

Os cientistas examinaram dois conjuntos de dados de inquéritos do Estudo Prospetivo da Cidade do México, uma investigação longitudinal que acompanhou a saúde de milhares de pessoas na capital mexicana ao longo de muitos anos. O primeiro inquérito decorreu entre 1998 e 2004 e o segundo, que voltou a inquirir as mesmas pessoas, começou em 2015 e terminou quatro anos mais tarde.

No total, 10.033 pessoas, com uma média de idades de 51 anos, participaram nos inquéritos e as suas respostas foram incluídas no estudo. No primeiro inquérito, foi questionado aos participantes se faziam exercício físico, com que frequência e durante quanto tempo.

Com base nas respostas, os investigadores dividiram os inquiridos em quatro grupos: os que não faziam qualquer exercício físico; os guerreiros de fim de semana, que praticavam desporto ou faziam exercício uma ou duas vezes por semana; os regularmente ativos, que praticavam exercício pelo menos três vezes por semana; e um grupo combinado de pessoas regularmente ativas e guerreiros de fim de semana.

No segundo inquérito, a função cognitiva dos inquiridos foi avaliada através do Mini Exame do Estado Mental, que, de acordo com o estudo, é “provavelmente a ferramenta mais utilizada para detetar deficiências cognitivas e demência em adultos mais velhos”.

Resultados semelhantes para homens e mulheres

Os investigadores concluíram que os praticantes de exercício físico ao fim de semana tinham 13% menos probabilidades de desenvolver um défice cognitivo ligeiro do que os que não praticavam qualquer exercício físico, enquanto os praticantes de exercício físico regular e os do grupo misto tinham 12% menos probabilidades de o fazer. Os resultados obtidos foram semelhantes para homens e mulheres.

Os dados levaram a equipa a concluir que 13% dos casos de demência ligeira poderiam ser evitados se todas as pessoas de meia-idade fizessem exercício físico pelo menos uma ou duas vezes por semana.

O autor principal, Gary O'Donovan, professor adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade dos Andes, na Colômbia, explica à CNN que cerca de metade dos guerreiros de fim de semana referiram fazer exercício físico durante pelo menos 30 minutos por sessão, enquanto os restantes fizeram exercício durante cerca de uma hora ou mais de cada vez.

Quando comparados com o grupo que não se exercitava, os guerreiros de fim de semana tinham 13% menos probabilidades de desenvolver demência ligeira e os dos grupos regulares e combinados tinham 12% menos probabilidades. O'Donovan afirma que estes são “valores médios” e que as “margens de erro se sobrepõem”. Por outras palavras, “há reduções de risco semelhantes nos grupos”.

“Descobrimos que o padrão de atividade física do guerreiro de fim de semana e o padrão de atividade física regularmente ativa estavam associados a reduções semelhantes nos riscos de demência ligeira após o ajuste para fatores de confusão”, escreveram os investigadores. Estes “fatores de confusão” incluíam uma série de aspetos que poderiam afetar a relação entre a cognição e a atividade física, como a idade, o sexo, a educação e o índice de massa corporal.

Os investigadores prosseguiram, dizendo: “Tanto quanto sabemos, o presente estudo é a primeira investigação de coorte prospetivo a mostrar que o padrão de atividade física do guerreiro de fim de semana e o padrão de atividade física regularmente ativa estão associados a reduções semelhantes no risco de demência ligeira”.

Comentando o significado do estudo, O'Donovan explica: “O padrão de atividade física do guerreiro de fim de semana é importante porque a falta de tempo é um obstáculo importante à prática de mais desporto e exercício. Inquéritos realizados a homens e mulheres em todo o mundo sugerem que dois terços dos adultos gostariam de fazer mais desporto, mas simplesmente não têm tempo.”

“Há muito tempo que estou interessado em corrigir esta ideia errada de que um tamanho serve para todos quando se trata de exercício físico. Tenho a forte convicção de que os guerreiros de fim de semana de todo o mundo devem ser informados de que o que estão a fazer é bom”.

E acrescenta: “A investigação sobre os guerreiros de fim de semana começa agora a fazer sentido. É bastante claro que os benefícios para a saúde são muito semelhantes aos do exercício físico mais frequente.”

Crescem provas dos benefícios da prática de exercício físico ao fim de semana

De acordo com o estudo, os investigadores acreditam que as suas descobertas podem “ter implicações importantes para a política e para a prática, porque o padrão de atividade física do guerreiro de fim de semana pode ser uma opção mais conveniente para pessoas ocupadas na América Latina e noutros locais”.

As conclusões da investigação fazem eco de um estudo recente mais alargado que sugere que os treinos dos guerreiros de fim de semana podem ser tão eficazes como o exercício mais regular quando se trata de reduzir o risco de desenvolver mais de 200 doenças. Estes cientistas, que publicaram os seus resultados na revista Circulation em setembro, utilizaram dados do projeto UK Biobank para chegar às suas conclusões.

Chris Russell, professor sénior da Associação para os Estudos da Demência da Universidade de Worcester, no Reino Unido, considera a investigação encorajadora, afirmando que “é necessário fazer mais investigação (sobre a demência) em países de rendimentos médios e baixos”, como o México. Russell não participou no estudo.

“Há provas de que a atividade física pode ajudar a prevenir a demência”, garante, explicando que as práticas informais como a dança e a caminhada podem ser benéficas, bem como os desportos de equipa e outras atividades de fitness.

Para além dos benefícios físicos do exercício, há também a companhia e a socialização com outras pessoas que a manutenção da forma física muitas vezes implica, o que ajudaria a evitar o declínio cognitivo, aponta Russell.

Existem boas provas de que “a atividade física pode prevenir a demência”, avisa que “não é de forma alguma certo”, sublinhando que outros fatores de risco, como a alimentação e o tabagismo, que também devem ser tidos em conta.

Mais de 55 milhões de pessoas sofrem atualmente de demência em todo o mundo, com cerca de 10 milhões de novos casos diagnosticados todos os anos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.

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