Dormir mal engorda: sim ou não?

31 dez 2021, 10:00
Balança

É frequente associar noites mal dormidas ao aumento de peso, mas será que existe efetivamente uma relação entre dormir mal e o excesso de peso? A CNN Portugal procurou resposta a esta questão junto de especialistas

As noites mal dormidas são frequentemente associadas ao aumento do peso, mas será que existe realmente uma relação entre dormir pouco e o excesso de peso? Afinal, como é que o sono pode influenciar o peso? 

A CNN Portugal procurou respostas a estas questões junto de especialistas em medicina do sono e de nutricionistas, que explicam como a privação de sono pode influenciar o apetite e as escolhas alimentares que fazemos quando estamos privados de sono.

De acordo com Marta Gonçalves, especialista em medicina do sono, existe efetivamente uma relação entre a privação de sono e o aumento de peso devido a um "desequilíbrio a nível hormonal" provocado pela leptina, a hormona da saciedade, e pela grelina, a hormona responsável pelo apetite.

A privação de sono “reduz os níveis da leptina e aumenta os níveis de grelina”, alterações hormonais que podem "contribuir para o aumento do Índice de Massa Corporal (IMC)", um método que determina o peso ideal de um indivíduo consoante o seu peso e altura.

"Ou seja, dormir pouco pode contribuir para o aumento de peso”, concluiu Marta Gonçalves, médica do Hospital CUF Porto.

Por sua vez, Tiago Sá, também especialista em medicina do sono, salientou que o número de horas de sono influencia de igual modo as escolhas alimentares que fazemos, uma vez que “indivíduos privados de sono acabam por procurar alimentos mais calóricos, mais açucarados e que tragam recompensas de satisfação mais imediatas”.

Por outro lado, o médico especialista destacou a relação em sentido inverso entre o excesso de peso e a qualidade do sono: “Sabemos que os doentes mais obesos têm maior risco de ressonar ou de ter apneia do sono; sabemos que a apneia do sono leva a fragmentação do sono [ou seja, acordar várias vezes durante a noite]. Logo, doentes obesos acabam por ter distúrbios respiratórios do sono e um sono de pior qualidade”, explicou.

Estudos não são claros, mas há uma certeza, diz nutricionista

Contudo, a nutricionista Inês Tavares salientou que os estudos nesta matéria não são claros, uma vez que, embora se verifique uma "associação significativa" entre a obesidade e poucas horas de sono, não é possível retirar "conclusões imediatas" desta associação porque não há evidências da causalidade.

"Ou seja, não sabemos se é o número reduzido de horas de sono que leva à obesidade ou se é a obesidade que provoca uma redução das horas de sono", explicou a nutricionista, em declarações à CNN Portugal.

Já os estudos que demonstram causalidade entre a obesidade e poucas horas de sono concluem que, de facto, "a redução do número de horas de sono leva ao aumento da ingestão de alimentos". Mas, tendo em conta que estes estudos são de curta duração, não se sabe qual o efeito a longo prazo no peso corporal, explicou Inês Tavares.

A nutricionista ressalvou ainda que "há outros fatores" que desencadeiam a secreção da grelina e da leptina além das horas de sono, pelo que, mais uma vez, os estudos nesse domínio "não são claros".

O que se sabe com certeza é que uma noite mal dormida provoca "um aumento da ingestão de alimentos", não sendo certo, porém, se há efetivamente um "efeito direto no peso".

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