Rússia deteve correspondente do Wall Street Journal por suspeitas de espionagem. Kremlin diz que Gershkovich foi "apanhado em flagrante delito", jornal "nega veementemente" as alegações

Andreia Miranda , notícia atualizada às 14:14
30 mar 2023, 10:51
Evan Gershkovich (Getty Images)

Evan Gershkovich, que estava na Rússia para escrever sobre os avanços da guerra na Ucrânia, pode enfrentar até 20 anos de prisão. Para já, vai ficar detido durante, pelo menos, dois meses

Evan Gershkovich, jornalista do Wall Street Journal foi detido pela agência de segurança máxima da Rússia (FBS) sob acusação de espionagem. De acordo com a agência RIA Novosti, o correspondente norte-americano, de 32 anos, foi detido em Yekaterinburg.

O Serviço Federal de Segurança revela que Evan Gershkovich foi detido na cidade dos Montes Urais enquanto tentava, alegadamente, "recolher informações classificadas sobre as atividades de uma das empresas do complexo industrial militar russo".

"As atividades ilegais do cidadão americano Gershkovich Evan, nascido em 1991, correspondente do gabinete de Moscovo do jornal americano The Wall Street Journal, acreditado no Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, que é suspeito de espionagem no interesse do governo dos EUA, foram suspensas", diz o comunicado de imprensa do FBS.

Segundo a mesma fonte, Gershkovich recolheu, "sob instruções dos EUA", materiais que constituíam um segredo de Estado "sobre as actividades de uma das empresas do complexo militar-industrial russo". Segundo o El Mundo, o jornalista estava a investigar o Grupo Wagner, e deslocou-se recentemente a Nizhny Tagil, onde está situada a UralVagonZavod, uma das maiores fábricas do setor de Defesa da Rússia e a maior produtora de carros de combate do mundo.

Não foi, no entanto, revelado quando é que o jornalista foi detido.

O Departamento de Investigação do FSB abriu um processo penal ao abrigo do artigo sobre espionagem (276 do Código Penal) e, se for condenado, o jornalista norte-americano pode enfrentar até 20 anos de prisão.

Em comunicado, o Wall Street Jornal "nega veementemente" as alegações de espionagem contra o jornalista.

"O Wall Street Journal nega veementemente as alegações do FSB e procura a libertação imediata do repórter de confiança e dedicado, Evan Gershkovich. Estamos solidários com Evan e a sua família", lê-se na nota".

Já na tarde desta quinta-feira, um tribunal moscovita determinou que o jornalista vai ficar detido durante, pelo menos, dois meses. "Pela decisão do Tribunal Distrital de Lefortovo de Moscovo de 30 de Março de 2023, em relação a E. Gershkovich, suspeito de ter cometido um crime ao abrigo do artigo 276.º do Código Penal da Federação Russa, foi escolhida uma medida preventiva sob a forma de detenção por um período de um mês e 29 dias, ou seja, até 29 de Maio de 2023", pode ler-se num comunicado emitido pelo tribunal, citado pela CNN Internacional.

"Apanhado em flagrante delito"

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que Evan Gershkovich foi "apanhado em flagrante delito".

"Esta é uma prerrogativa do FSB [Serviço Federal de Segurança]. Eles já fizeram uma declaração. Não temos nada a acrescentar. A única coisa que posso acrescentar, tanto quanto sabemos, é que ele foi apanhado em flagrante delito", afirmou Peskov durante a conferência de imprensa diária.

Quando questionado pela CNN Internacional para esclarecer o que significa o "flagrante delito" em relação a um jornalista acusado de espionagem, Peskov recusou-se a esclarecer.

"Não, não posso esclarecer. Não tenho os pormenores. Mais uma vez, esta é a prerrogativa dos serviços especiais que combatem os espiões".

O porta-voz do Kremiln foi ainda questionado se a detenção de Gershkovich estava relacionada com alguma reportagem que ele tinha feito antes ou com algum artigo em que estava a trabalhar agora. 

"Não posso dizer. Não conheço os pormenores", afirmou, garantindo, no entanto, que é "claro" que o Kremlin conhece o trabalho de Gershkovich e está familiarizado com as suas publicações.

Segundo avança a agência russa Tass, que cita fonte do tribunal distrital de Lefortovo de Moscovo, o Serviço de Segurança da Rússia já solicitou formalmente a prisão do jornalista americano Evan Gershkovich do Wall Street Journal.

Ao longo da sua carreira, Gershkovich, que estava na Rússia para escrever sobre os avanços da guerra na Ucrânia, cobriu temas relacionados com a Rússia, Ucrânia e outros países da antiga União Soviética, tendo trabalhado em jornais como The New York Times, The Moscow Times e na Agence France Press. O último artigo publicado pelo jornalista foi no dia 28 de março, sobre como a economia russa está a cair, acusando a pressão das sanções impostas pela comunidade internacional.

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