Cinco reclusos ligados ao crime organizado evadiram-se do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus. As fichas biográficas são extensas e a operação para capturar os reclusos será demorada e complexa, com as autoridades a pedirem prudência à população
São cinco dos mais perigosos condenados do país e estavam reclusos numa prisão de alta segurança, até que conseguiram fugir do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus com recurso a uma escada que foi lançada pelo lado de fora. 48 horas depois da fuga, dos cinco fugitivos, que as autoridades classificaram como muito perigosos, nem sinal.
Os cinco estão ligados ao crime organizado e têm grande capacidade financeira e mobilidade internacional. El Russo chegou a ser um dos homens mais procurados da Argentina e é considerado o mais perigoso do grupo.
Mas quem são e por que crimes estão condenados estes homens?
Rodolfo Jose Lohrmann
Tinha 51 anos quando foi preso pela primeira vez, mas era procurado há vários anos por crimes perigosos. Rodolfo Jose Lohrmann, El Russo, foi detido em 2016 pela Unidade Nacional contra o Terrorismo, por assaltos a bancos, com um passaporte falso sob o nome de Jose Luis Guevara Martinez.
O agora evadido tem no currículo crimes como associação criminosa, roubo, detenção de arma proibida, falsas declarações, furto qualificado, branqueamento de capitais e falsificação de documentos, crimes pelos quais foi condenado a 18 anos e 10 meses mais 10 anos de expulsão do país.
Para além disso, foi ainda acusado de sequestro e extorsão. Era procurado na Argentina desde 2003, pelo rapto de Christian Schaerer, estudante de 21 anos, filho de um empresário da província de Corrientes, perto da fronteira com o Paraguai. O pai de Christian, Pedro Schaerer, ex-ministro da Saúde de Corrientes, pagou o resgate de 277 mil dólares (cerca de 250 mil euros). O pagamento foi cumprido, mas o jovem nunca foi encontrado, suspeitando-se de que tenha sido morto.
Terá assaltado quatro bancos na grande Lisboa - entre Odivelas e Cascais, entre 2014 e 2016. Foi apanhado em Aveiro, precisamente em 2016, na sequência de um assalto a uma ourivesaria.
É um expert em disfarce e, quando foi detido, tinha na sua posse vários documentos autênticos de países da América Latina. Já tinha estado na prisão de alta segurança de Monsanto e estava agora em Vale de Judeus, onde era um recluso com escolta.
Fábio "Cigano"
O mais novo detido do grupo é Fábio Loureiro, conhecido como Fábio "Cigano". Durante muito tempo foi um dos homens mais procurados do Algarve e era conhecido por estar ligado ao crime violento. No seu cadastro constam crimes como injúria, rapto, destruição, sequestro, furto qualificado, detenção de arma proibida, extorsão, associação criminal, tráfico de estupefacientes e roubo.
Na altura em que foi detido, tinha na sua posse uma arma de calibre de guerra.
Foi preso pela primeira vez com 19 anos e tem, até ao momento, 26 condenações. Cumpria pena de 25 anos de prisão, sendo um recluso com escolta. Ao longo do tempo em que esteve preso cometeu 29 infrações - algumas das quais levaram a que não pudesse sair da cela durante 30 dias - e fez greve de fome por duas vezes.
Mark Cameron Roscaleer
O cidadão britânico, Mark Cameron, de 39 anos, foi detido pela primeira vez aos 30 anos e já era conhecido em solo britânico por fugas da cadeia. Foi preso pela Polícia Judiciária do Algarve, em 2019, pelos crimes de rapto e roubo com arma de fogo.
Foi condenado a nove anos de prisão e tinha reapreciação da liberdade condicional agendada para 17 de novembro deste ano depois da mesma lhe ter sido negada a 14 de novembro de 2013.
Ao longo do tempo cometeu seis infrações - que levaram a punições como internamento em cela disciplinar e proibição de sair da cela - e passou por cinco estabelecimentos prisionais portugueses: Silves, Lisboa, Faro, Monsanto e Vale de Judeus, de onde se evadiu, apesar de ser um recluso com escolta.
Fernando Ferreira
Fernando Ribeiro Ferreira, 60 anos, natural de Tarouca. Foi preso pela primeira vez com 16 anos e tinha um longo cadastro e 11 condenações. Foi condenado a pena máxima por roubos violentos e sequestro de um empresário em 2009.
Fernando Ribeiro Ferreira é, tal como os outros detidos, particularmente violento, tem classificação por associação criminosa, homicídio, rapto, assaltos à mão armada, detenção de arma proibida, explosivos, tráfico de estupefacientes e furto qualificado, entre outros. Foi detido num crime particularmente violento, num rapto, onde o raptado foi agredido e torturado.
Sairia em liberdade a 24 de maio de 2048, sendo que nos últimos anos tentou diversas vezes ter acesso a saídas precárias que lhe foram negadas dado a extensão da pena e gravidade da atividade criminosa, assim como o facto de ser um recluso com escolta e que ainda não cumpriu 1/4 da pena.
Passou pelos Estabelecimentos prisionais de Lisboa, Alcoentre, Monsanto, Coimbra, Caxias, Caldas da Rainha, Pinheiro da Cruz, Faro, Aveiro, Porto, Paços de Ferreira, São João de Deus (Hospital Prisional) e Vale de Judeus, de onde se evadiu. No entanto, não foi a primeira vez que conseguiu fugir da prisão. Em 1989, quando se encontrava detido no estabelecimento prisional de Lisboa, consegui fugir, tendo sido recapturado três meses depois. Voltou a fugir três meses depois, em abril de 1990, da prisão de Alcoentre, para onde voltou após a recaptura em julho do mesmo ano. Já em 1999, fugiu da prisão de Caxias, tendo sido recapturado em 2000 e levado para o estabelecimento prisional de Lisboa.
Ao longo do tempo cometeu 11 infrações e era um recluso com escolta.
Shergili Farjiani
Natural da Geórgia e com 40 anos, o quinto fugitivo é o menos perigoso do grupo. O georgiano Sergili Farjiani está condenado por furto de qualificado, foi preso pela Polícia de Segurança Pública.
É aquele a quem não é reconhecido um elevado grau de violência e o único dos reclusos sem escolta, apresar de ter ligações à máfia georgiana.
Foi detido pela primeira vez em 2019, com 35 anos, e condenado a sete anos de prisão, sendo que tentou por duas vezes a liberdade condicional. Também tentou uma saída precária, em maio de 2023, que lhe foi negada por não ter sido possível avaliar a morada para onde pretendia ir.
Ao longo do tempo em que esteve detido cometeu 31 infrações e fez greve de fome por quatro vezes.