Deputada do PS vai apresentar queixa de Filipe Melo por "ter sido mandada para a terra dela". Reação de Filipe Melo: "Não reajo, claro que não"

30 out, 15:49

Durante um debate parlamentar, Eva Cruzeiro acusou o Chega de ser "racista e xenófobo". A bancada do Chega insurgiu-se, dizendo que não admitia ser classificada como "racista, fascista". Após vários minutos de tensão, Pedro Delgado Alves, também do PS, interveio: "No mesmo segundo em que o senhor deputado se insurge por a bancada do Chega ter sido chamada 'racista', o senhor deputado manda a senhora deputada Eva Cruzeiro regressar à terra dela". Aconteceu quarta-feira no Parlamento

Eva Cruzeiro acusa Filipe Melo de ter gritado "vai para a tua terra" do meio da bancada parlamentar do Chega, durante a sessão parlamentar de quarta-feira. A deputada do PS vai avançar com uma queixa contra o deputado na comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados - é a segunda queixa que Filipe Melo enfrenta nesta comissão, depois de ter sido acusado de enviar beijos e ter mandado calar a deputada Isabel Moreira (sobre esse episódio, Filipe Melo diz que "só o sapo é capaz de mandar beijos com a boca aberta").

Na emissão da ARtv do debate de quarta-feira é possível ouvir-se e ver-se uma troca de palavras entre o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, e a deputada socialista; enquanto o burburinho vai em crescendo na bancada onde usualmente se senta André Ventura, Eva Cruzeiro diz: "Eu estou na minha terra, sr. deputado. Esta é a nossa terra". Na transmissão não é possível ouvir-se quem profere a frase que gerou esta resposta. Naquele instante, as câmaras captam Filipe Melo a gesticular na bancada do Parlamento.

Questionada pela CNN Portugal, Eva Cruzeiro diz que Filipe Melo proferiu a frase - mas a deputada realça que não foi o único deputado do Chega a fazê-lo. Perante o sucedido, Eva Cruzeiro garante que vai avançar com a queixa e deixa um conselho a todos os que se encontrem numa situação semelhante: "Todas as pessoas que sejam vítimas daquele tipo de ataque devem utilizar os mecanismos jurídicos possíveis para se defender".

Eva Cruzeiro acredita que este tipo de situações "é o reflexo do que está a acontecer na sociedade". "Antigamente falava-se de racismo, mas as pessoas tinham vergonha de agir desta forma e não o faziam no espaço público de forma descarada. Mas hoje, por causa da polarização que este partido trouxe à sociedade, da radicalização que este partido trouxe e do incentivo à xenofobia e ao racismo, as pessoas estão a fazê-lo descaradamente, sem o mínimo de pudor", afirma a deputada do PS. "É o reflexo do que milhares de pessoas negras, racializadas e imigrantes estão a passar no nosso país. Não é um caso isolado, é algo que se está a generalizar." 

A CNN Portugal contactou Filipe Melo. Questionado sobre se queria reagir à segunda queixa a dar entrada na comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados, o deputado do Chega responde apenas: "Não, claro que não. A senhora diz o que quer, está no direito dela".

"Eu estou na minha terra"

Eva Cruzeiro começou a intervenção no Parlamento a posicionar-se contra a decisão da RTP de cortar as transmissões dos jogos da Liga de Futebol. Posto isto, acusou o ministro Leitão Amaro de "mentir" quando diz que não costuma associar a imigração com o aumento da criminalidade: "Mentiu porque várias vezes publicamente o fez." Depois dirigiu-se ao Chega: "Um partido de extrema-direita em Portugal que tem polarizado muito a nossa sociedade e que tem difundido muito a mensagem racista, xenófoba, o discurso de ódio e por aí adiante; um partido que inclusive, segundo aquilo que diz na nossa Constituição, nem sequer devia existir na nossa democracia".

Pedro Pinto pediu a palavra numa defesa da honra para denunciar "o insulto da sra. deputada Eva Cruzeiro aos deputados legitimamente eleitos pelo povo português", acusando a deputada de ter chamado "racistas e fascistas aos deputados do Chega". "Nós não insultamos ninguém dos outros partidos políticos, não chamamos racistas, não chamamos xenófobos e muitas vezes são eles que nos tentam instigar ao ódio", disse, culminando: "Nós não admitimos isto neste grupo parlamentar".

Eva Cruzeiro ripostou: "Vocês são racistas, são xenófobos e mantenho que, segundo a nossa Constituição, não deviam existir nesta democracia. O cartaz que temos aqui à frente da Assembleia é prova do vosso racismo e da vossa xenofobia".

E é neste momento que surgem frases impercetíveis vindas da bancada do Chega. A dado momento, nas imagens aparece Filipe Melo junto às escadas da bancada parlamentar, em pé e a gesticular. Perante a confusão no Parlamento, ouve-se Eva Cruzeiro no microfone a dizer: "Eu estou na minha terra, sr. deputado. Esta é a nossa terra".

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