Vários líderes europeus têm elogiado o modelo sueco de recrutamento de jovens e admitem reproduzir o mesmo programa nos seus países como forma de solucionar a escassez de soldados
Os governos da Alemanha, do Reino Unido e dos Países Baixos estão a olhar para o modelo sueco de recrutamento de jovens como um exemplo para reforçar o contingente militar, numa altura em que as capitais europeias receiam a ameaça crescente da Rússia e da China.
De acordo com o POLITICO, vários líderes e altos funcionários da Alemanha, do Reino Unido e dos Países Baixos têm visitado o edifício Tegeluddsvägen, nos arredores de Estocolmo, onde tudo acontece. É ali que cerca de 110 mil adolescentes são esperados este ano para passarem por vários testes com o objetivo de recrutar o número de jovens "mais adequados para servirem entre nove e 15 meses nas forças armadas - quer queiram, quer não".
O ministro sueco da Defesa, Pål Jonson, tem vindo a sublinhar a importância do recrutamento, considerando-o “um pré-requisito básico para o crescimento contínuo das forças armadas. “As necessidades da nossa organização militar não podem ser atendidas apenas com pessoal contratado”, argumentou, citado pelo POLITICO.
Os resultados são promissores: o número de recrutas convocados para o exército sueco aumentou este ano para cerca de 8 mil (em 2017, tinham sido recrutados 4 mil). E o governo assumiu como objetivo recrutar 10 mil jovens por ano no curto prazo, podendo vir a aumentar este número em breve, se necessário. Isto além dos 14.850 soldados contratados a tempo inteiro pelo exército sueco.
Numa visita ao Tegeluddsvägen, o POLITICO descreve uma enchente de jovens de 18 anos, alguns visivelmente ansiosos, a aguardarem para serem atendidos. Alguns estavam sozinhos, outros estavam acompanhados pelos pais, que pareciam igualmente nervosos. Nils David Palmaeus estava entre esse grupo de jovens e contou ao POLITICO que partiu naquela mesma manhã de uma cidade a leste de Estocolmo. O jovem revelou que quer servir como soldado recruta no norte do Ártico. “Seria uma experiência nova e desafiante”, descreveu, acrescentando que viveu no sul toda a sua vida e queria ver “como é a vida nas montanhas”. Já Isabella van Leewen, uma aspirante a comissária de bordo, admitiu que não estava interessada em integrar o exército. “Preciso de começar a trabalhar e candidatar-me a programas educacionais. Não quero ficar no exército durante um ano ou mais”, confessou ao POLITICO.
Segundo o POLITICO, jovens de outros Estados europeus poderão em breve seguir os passos destes adolescentes suecos. Na Alemanha, por exemplo, o ministro da Defesa, Boris Pistorius, visitou o Tegeluddsvägen há algumas semanas e saiu de lá a afirmar que tinha aprendido lições que queria reproduzir no seu país. “Precisamos de homens e mulheres jovens e motivados para defender os nossos países, se necessário”, argumentou, em declarações aos jornalistas em Estocolmo. Há precisamente um mês, Pistorius propôs o serviço militar seletivo focado em voluntários como “um primeiro passo” para implementar o modelo sueco na Alemanha.
A proposta de Pistorius, que está agora a ser analisada pelos deputados e parceiros da coligação governamental, prevê que todos os jovens do sexo masculino com 18 anos - que, segundo o ministro, correspondem a 400 mil por ano - preencham um questionário. Desse total, cerca de 40 mil serão escolhidos para realizar exames médicos e, entre esses, 10 mil serão selecionados posteriormente para um treino básico.
Mas não foi só o ministro alemão que visitou o Tegeluddsvägen recentemente: também as autoridades neerlandesas foram convidadas a visitar o edifício, enquanto uma série de antigos altos funcionários do Reino Unido - incluindo o ex-chefe da agência dos serviços secretos britânicos MI6 - destacaram as vantagens que verificaram neste modelo sueco.
Como funciona o modelo sueco?
O modelo de recrutamento sueco começa com o envio de um questionário para todos aqueles que fazem 18 anos - homens e mulheres - sobre o seu estado de saúde, percurso académico, características de personalidade, registo criminal e qual o seu interesse em servir o país.
De seguida, caso as respostas vão ao encontro do que o exército procura, os jovens são chamados a realizar testes de aptidão (qualquer um que recuse responder enfrenta uma multa ou até pena de prisão). Aqueles que não passam no teste são enviados para casa, enquanto os outros enfrentam a fase seguinte, na qual são chamados a realizar um teste de resistência física numa bicicleta estática e um teste de força, com recurso a uma barra para exercícios de força.
Depois desta fase, os candidatos têm uma conversa com um psicólogo e são chamados a fazer uma série de exames de audição e visão.
Tudo isto enquanto são “bombardeados” com uma campanha de sensibilização para os benefícios do serviço militar não só para o desenvolvimento pessoal, mas também para a segurança e defesa do país. “A defesa total da Suécia [como é conhecida a estratégia de defesa do país] existe para proteger a nossa democracia, os nossos interesses e o direito de viver como queremos. Enquanto recruta, vais fazer uma contribuição inestimável para a Suécia, porque vais contribuir para garantir essa liberdade”, pode ler-se num folheto informativo, segundo o POLITICO.
Segundo o POLITICO, se o jovem disser que não quer ser destacado para o exército, os recrutadores poderão ter isso “em consideração”, mas “não há garantias” de que essa vontade seja respeitada. Aqueles que forem avaliados como tendo um potencial de liderança terão de servir durante 15 meses. Já os recrutas de base servem apenas nove meses.