Treinador confia na «geração muito boa» ao dispor de Roberto Martínez. Sobre '96 e 2000, Sá Pinto desvenda memórias e amargos
Ricardo Sá Pinto acredita que Portugal chegará «pelo menos» às meias-finais do Europeu, ainda que apele à atenção sobre qualquer adversário. Em entrevista à Lusa, o antigo internacional abriu o jogo sobre o torneio que principia esta sexta-feira, na Alemanha.
«As minhas expetativas, pela qualidade que temos e não querendo meter mais pressão na seleção, é de que vamos chegar, pelo menos, às meias-finais. A equipa tem valor mais que suficiente», começou por dizer.
Internacional pela seleção principal em 45 ocasiões, Sá Pinto lembra que este é um torneio célere e sem margem de erro.
«Os perigos têm a ver com a nossa preparação mental. Não há adversários fáceis. Cada jogo vai ser uma final, cada jogo é para ganhar», argumentou.
Aos 51 anos, o agora treinador – campeão do Chipre, pelo APOEL – elogiou o grupo de Roberto Martínez, assim como quem ficou fora da convocatória.
«Portugal volta a ter uma geração muito boa. E vemos jogadores ficarem de fora dos 26, como o caso do Pote e do Trincão. Também mereciam lá estar, mas, infelizmente não há lugar para todos. Portanto, existe muita competitividade até para estar na convocatória», acrescentou.
Questionado sobre a gestão das expectativas de utilização por parte dos jogadores, Sá Pinto apela ao foco.
«Há uma aceitação diferente por estar entre os melhores e pelo compromisso que existe com o país. Portanto, ali há menos azias. É importante o papel do treinador e, claro, a habilidade de manter o foco dos jogadores menos utilizados», explicou.
Os amargos diante de Chéquia e França
Formado entre FC Porto e Salgueiros, Ricardo Sá Pinto evidenciou-se no Sporting. Convocado para o Euro ’96 e de 2000, acumulou 10 golos pela seleção.
«Foi o auge da minha carreira. Podia ter jogado no Real Madrid, estive muito próximo disso, mas o ponto alto da carreira enquanto jogador seria sempre a seleção. É um grande orgulho», reiterou.
Em todo o caso, entende que a sua geração poderia ter alcançado algo mais: «Entrei na geração de ouro. Na altura com Figo, Rui Costa, João Pinto e essa malta toda, com grandes campanhas também nas seleções jovens. Podíamos ter feito muito mais. Em ‘96, acho que foi muito injusta a nossa saída nos “quartos” contra a Chéquia. Éramos a seleção a praticar o melhor futebol. Toda a gente criou grandes expectativas, tínhamos todos 23 e 24 anos, éramos muito novos».
Já em 2000, o azar bateu à porta de Sá Pinto.
«Um dia antes de jogarmos contra a Inglaterra, na estreia na fase de grupos, lesionei-me no joelho. Seria titular, mas nunca mais recuperei a 100 por cento. Acabou por ser o Europeu do Nuno [Gomes]», recordou.
Nessa partida, aquando do 3-2, Nuno Gomes consumou a reviravolta e correu para abraçar Ricardo Sá Pinto.
Portugal atingiu as meias-finais, mas caiu no prolongamento frente à França (2-1), com um «golo de ouro», de penálti, de Zidane. Ainda hoje, Sá Pinto não se conforma com a decisão dos árbitros.
«Estávamos no grupo da morte, com Alemanha, Inglaterra e Roménia. Conseguimos ser primeiros, chegámos às meias-finais e depois surgiu aquele golo de penálti do Zidane. Ninguém me convence de que aquilo foi penálti. Eu estava a aquecer atrás do árbitro assistente. Ele não poderia ter visto a 100 por cento. Aconteceu e foi uma pena. Podíamos ter sido já campeões da Europa», terminou.
No Euro 2024, Portugal disputará o Grupo F com Chéquia, Turquia e Geórgia. A estreia está agendada para a noite de 18 de junho, em Leipzig, diante da seleção checa.