Euro 2024: Espanha-Inglaterra, 2-1 (crónica)

14 jul, 22:25

O seu a seu dono – a bola e o título

O seu, a seu dono.

A Espanha é a nova campeã da Europa, depois de vencer esta noite a final de Berlim, diante da Inglaterra, por 2-1.

O seu a seu dono porque venceu quem foi o dono da bola, quem quis mais jogar para ganhar e para dar espetáculo. Ganhou a melhor equipa, portanto.

Esta final, aliás, era quase como água e azeite. De um lado a Espanha, com o tal futebol impactante e entusiasmante, do melhor que se viu no último mês.

Do outro a Inglaterra, que apesar do crescendo que se havia visto nas últimas semanas, continuava a ser uma equipa mais defensiva do que ofensiva, mais cínica do que com descomplexada, pese embora a qualidade individual superlativa que tinha no plantel.

Foden, o surpreendente polícia de Rodri

E durante 45 minutos, foi a versão inglesa montada por Gareth Southgate, um selecionador que apresenta resultados, mas que tarda em convencer os próprios adeptos, a levar a melhor.

Não que os Três Leões tenham sido mais fortes na primeira parte, nada disso. Mas conseguiram pelo menos anular os pontos fortes da Espanha. Logo a meio-campo, Phil Foden, um dos maiores criativos presentes no Euro 2024, ficou responsável por ser uma espécie de guarda pessoal de Rodri, o farol de todo o jogo espanhol. Com isso, condicionou-se o médio do Manchester City e todo o ataque da La Roja – só Nico Williams, muito a espaços, conseguiu mostrar alguma coisa, embora muito pouco.

Zubimendi, a cartada forçada de Luis de la Fuente

Curiosamente, Rodri acabou o primeiro tempo em dificuldades, e já não voltou no regresso das cabines. Se isso acendeu os alarmes no conjunto espanhol? Bem pelo contrário.

Porque as grandes equipas são assim, não dependem de individualidades e conseguem reinventar-se mesmo na adversidade.

Luis de la Fuente, perspicaz, não hesitou em lançar Martín Zubimendi, jogador da Real Sociedad. Com isso, Phil Foden ficou sem referência defensiva e abriu-se a caixa de pandora no ataque espanhol.

FILME E FICHA DE JOGO.

Logo aos 47 minutos, Carvajal lançou Lamine Yamal, o jovem conduziu pelo meio, Dani Olmo arrastou também Kyle Walker para essa zona e deixou Nico Williams sozinho para finalizar, após o passe de Yamal.

Mas o festival espanhol não ficou por aí. Sucederam-se as oportunidades, com Olmo, Yamal e Nico Williams em evidência. Pickford foi fazendo o seu trabalho, a ineficácia também, e a Inglaterra foi-se mantendo viva.

O génio de Palmer antes da justiça de Oyarzabal

E ganhou novo fôlego a partir do banco, porque quem pode dar-se ao luxo de ter nomes como Cole Palmer lá sentados, tem de jogar mais e tem de jogar melhor. Ou pelo menos, tentar.

Depois de uns minutos de uma breve melhoria, foi mesmo Palmer, com um toque de génio, a empatar a final, com pouco mais de quarto de hora para jogar. Não que fosse merecido, mas lá está, quem tem tanta qualidade individual, arrisca-se a ser feliz.

Só que com o empate, a Inglaterra voltou a ser a Inglaterra, defensiva e aparentemente satisfeita em levar o encontro para prolongamento, e do outro lado estava uma Espanha que só sabe jogar de uma maneira: com bola e para a frente.

A três minutos do fim, Olmo – que jogo – descobriu Oyarzabal no meio, o avançado da Real Sociedad abriu na esquerda para Cucurella e correu para a área. Cucurella cruzou de primeira e Oyarzabal, de primeira, bateu Pickford.

Simples, bonito e eficaz. Quis o destino que o golo que selava o título espanhol fosse o retrato final daquilo que os comandados de Luis de la Fuente fizeram no último mês nos relvados da Alemanha.

Para o país que viu nascer o tiki-taka – alô, Pep Guardiola –, e que com ele venceu três títulos no espaço de quatro anos – Euro 2008, Mundial 2010 e Euro 2012 –, esta é uma bela maneira de honrar esse legado.

O seu a seu dono, donos da bola e agora do troféu.

Para a Inglaterra, esta é a segunda final europeia consecutiva, e o prolongar de um registo negativo que dura desde 1966, quando os Três Leões conquistaram em casa do Mundial de 66. A pergunta que fica é: is it ever coming home?

A FIGURA: Dani Olmo

Se Zubimendi foi a cartada forçada de Luis de la Fuente nesta final, Dani Olmo foi a cartada forçada do selecionador espanhol na reta final do torneio. Os alarmes soaram na La Roja com a lesão de Pedri nos primeiros minutos do duelo diante da Alemanha, nos quartos de final, mas Olmo deu conta do recado e de que maneira. Já tinha decisivo nos dois jogos anteriores, esta noite deu um recital no Olímpico de Berlim. Criterioso, mas vertical, o médio do Leipzig foi o líder do bailado atacante espanhol, que conta com nomes como Nico Williams e Lamine Yamal. No primeiro golo, por exemplo, é ele que arrasta Walker para o meio e permite que Williams fique sozinho para finalizar. Sem tocar na bola, foi decisivo. No 2-1 final, é Olmo quem descobre Oyarzabal entre linhas. Como se não bastasse, também brilhou na defesa, quando já nos descontos, cortou em cima da linha de golo um golo certo de Guéhi. Que noite.

O MOMENTO: Oyarzabal, a justiça desenhada de forma perfeita, minuto 87

Porventura já toda a gente pensava no prolongamento, mas Oyarzabal tinha outros planos. Dani Olmo descobriu-o, o avançado abriu para Cucurella na esquerda e correu para a área. Cucurella respeitou o movimento do colega e o resto fica para a história. O troféu no bolso a três minutos dos 90.

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