A titularidade de Pepe não foi questionada neste Euro, a de Ronaldo mais ou menos - porventura nem tanto a titularidade mas o facto de Ronaldo jogar sempre e de nunca ter sido substituído (com a exceção do jogo que não contava para nada). Mas independentemente dessas discussões, há algo consensual - o estado físico de Pepe e Ronaldo é brutal. Como é possível estar daquela maneira naquela idade? Dani não sabe - mas imagina
Foi uma das primeiras pérolas de Alvalade e depois passou por West Ham, Ajax, Atlético Madrid: Dani esteve lá dentro como jogador e agora está cá fora como comentador da CNN Portugal, Dani já viu muito futebolista mas nenhum com a longevidade física de Cristiano Ronaldo e Pepe. O ex-internacional português considera que é raro dois jogadores na casa dos 40 anos apresentarem esta disponibilidade, realçando ainda que "há muito mais do que aquilo que eles fazem dentro do campo".
Se a titularidade de Ronaldo foi questionada, tal como o facto de nunca ter sido substituído (tirando contra a Geórgia, que não contava para nada), o mesmo não aconteceu com Pepe. Dani reconhece que o defesa-central "esteve espetacular" e provou que, por vezes, a idade pode mesmo ser só um número. O comentador da CNN Portugal lembra, no entanto, que "também houve ali situações em que vimos a dificuldade em poder acompanhar em termos de velocidade os adversários", mas Pepe encontrou sempre uma alternativa e "compensava de outra maneira". "Ele conseguiu", garante o antigo médio criativo português, realçando que "a equipa também ajudou".
Já no caso de Cristiano Ronaldo, Dani analisa assim: "A equipa não conseguiu ajudá-lo, nas situações em que hoje em dia ele está um bocadinho mais frágil o coletivo falhou na capacidade de compensar essas fragilidades de maneira a que ele pudesse sobressair, finalizar ou até ter mais impacto no jogo".
Questionado sobre se as aparentes diferenças na disponibilidade física entre os dois jogadores podem estar relacionadas com o facto de Ronaldo ter feito mais jogos que Pepe durante a época, Dani confessa que ele próprio fez uma questão semelhante a Roberto Martínez quando esteve na Alemanha durante o Euro 2024: "Falei com o selecionador e por acaso perguntei-lhe isso, perguntei-lhe o porquê de haver jogadores que precisam de descanso e outros nem tanto".
A resposta do selecionador nacional não desvendou o mistério: Martínez lembrou que a equipa técnica "avalia os jogadores diariamente", mas nunca como acontece nos clubes: "O clube sabe exatamente como é que estão, porque estão lá todos os dias e quando chegam à seleção, depois de estarem em estágio é que começamos a perceber realmente como é que todos eles estão a níveis físicos, emocionais, qual é o desgaste que já trazem, o que é que precisam, se precisam de descansar um bocadinho mais, se precisam de estar em competição ou de estar a treinar e isso é tudo identificado lá com o dia a dia e com tudo aquilo que se trabalha", respondeu o selecionador a Dani, lembrando ainda que "há jogadores que precisam de estar em competição e que para esses é mau pararem durante três ou quatro dias para descansar e que há outros que precisam desse descanso".
Esta pode mesmo ser a principal diferença entre Cristiano Ronaldo e Pepe, tal como mostram as estatísticas. Na última época, e contando já com os jogos no Euro 2024, o camisola 7 fez 45 jogos, num total de 3.974 minutos, pelo meio marcou 44 golos e fez 13 assistências. Já no caso de Pepe, o defesa-central ex-FC Porto fez 34 jogos, num total de 2.995 minutos, quase menos 1.000 minutos que o capitão da seleção.
Mas qual é o segredo para longevidade? Não é massa
Dani garante que não há segredos para a longevidade da dupla nacional e diz que conta "tudo" - o que fazem dentro e fora do campo, as horas de sono, o que comem, os treinos, as técnicas de recuperação, a genética e o espírito de querer conquistar este mundo e o próximo.
"Conta tudo. Tudo. Essa longevidade que eles conseguem alcançar, eu acho que é tudo. A todos os níveis, a forma como competem, a forma como conseguem recuperar... Hoje em dia há cada vez mais máquinas e há a evolução do treino e da recuperação - que estão a um nível tão elevado e tão bem trabalhado, com muita ciência também pelo meio. Tudo somado, dá para ver vê exatamente de que é que cada jogador precisa."
Para o comentador da CNN Portugal há um outro exemplo deste fenómeno - o defesa brasileiro Tiago Silva, 39 anos como Ronaldo. Dani lembra que, numa entrevista recente, o internacional brasileiro mostrou a casa onde vive: na garagem tinha um ginásio apetrechado com várias máquinas de recuperação como crioterapia e banheiras para banhos de gelo. Fechada a tour pela habitação, Dani recorda que Tiago Silva se virou para a jornalista e disse algo como: "Em casa passo duas ou três horas por dia aqui nesta garagem."
Para Dani, este é o segredo para a longevidade - a capacidade de colocar a recuperação e o treino em primeiro lugar, por mais que isso possa custar em determinadas ocasiões. O comentador da CNN Portugal lembra ainda o caso de Adrien Silva, que quando foi transferido do Sporting para Leicester levou um chef privado para viver na sua própria casa, de modo a que o jogador comesse aquilo que exatamente tinha de comer sem se preocupar com essa vertente da vida.
"Nós antes era massa, era hidratos de carbono, não me diziam o que é que eu tinha a comer ou o que é que o Rui Costa tinha de comer. Hoje em dia já se sabe que este jogador precisa mais disto e menos daquilo, o outro precisa mais disto e menos daquilo... Já fica um trabalho tão identificado e tão individual que depois permite aos jogadores terem essa longevidade. É cada vez mais minucioso", explica Dani.
Depois há casos diferentes, como o de Bernardo Silva, aponta o ex-internacional, lembrando que o jogador do Manchester City tem uma "vida perfeitamente normal, não necessita de ter tantos cuidados e consegue correr quilómetros a cada jogo". Contudo, o comentador da CNN Portugal lembra que todos os jogadores têm "a possibilidade financeira para terem o cuidado que querem ter com o corpo e com a profissão" e isso faz com jogadores como Cristiano Ronaldo e Pepe tomem este tipo de "atitudes de modo a preservarem a sua condição física para estarem cada vez melhores ou estarem sempre bem".
Desafiado a arriscar quantos Pepes e Ronaldos existem por cada grupo de 100 jovens atletas, Dani prefere não apostar, deixando uma mensagem para pais, treinadores de camadas jovens e até professores: "Digo sempre que os miúdos até uma certa idade têm é de se divertir, aproveitar o estarem a jogar mas sem sentirem muito a necessidade da competição. Divertirem-se até uma certa idade. A partir dos 15 anos já é importante eles sentirem a competição e a necessidade de serem competitivos. Quem os acompanha, até os pais, deixem-nos viver um bocadinho o momento e não ponham tanta pressão para não criarem ansiedade nos jovens".