"Antigamente era massa para mim, para o Rui Costa e para todos. Hoje é chefs em casa e máquinas de crioterapia. Ainda assim, nunca vi nada como Ronaldo e Pepe"

12 jul 2024, 07:00
Cristiano Ronaldo e Pepe (Getty)

A titularidade de Pepe não foi questionada neste Euro, a de Ronaldo mais ou menos - porventura nem tanto a titularidade mas o facto de Ronaldo jogar sempre e de nunca ter sido substituído (com a exceção do jogo que não contava para nada). Mas independentemente dessas discussões, há algo consensual - o estado físico de Pepe e Ronaldo é brutal. Como é possível estar daquela maneira naquela idade? Dani não sabe - mas imagina

Foi uma das primeiras pérolas de Alvalade e depois passou por West Ham, Ajax, Atlético Madrid: Dani esteve lá dentro como jogador e agora está cá fora como comentador da CNN Portugal, Dani já viu muito futebolista mas nenhum com a longevidade física de Cristiano Ronaldo e Pepe. O ex-internacional português considera que é raro dois jogadores na casa dos 40 anos apresentarem esta disponibilidade, realçando ainda que "há muito mais do que aquilo que eles fazem dentro do campo".

Dani na fase de qualificação para o Euro 2000, em outubro de 1999 (Getty)

Se a titularidade de Ronaldo foi questionada, tal como o facto de nunca ter sido substituído (tirando contra a Geórgia, que não contava para nada), o mesmo não aconteceu com Pepe. Dani reconhece que o defesa-central "esteve espetacular" e provou que, por vezes, a idade pode mesmo ser só um número. O comentador da CNN Portugal lembra, no entanto, que "também houve ali situações em que vimos a dificuldade em poder acompanhar em termos de velocidade os adversários", mas Pepe encontrou sempre uma alternativa e "compensava de outra maneira". "Ele conseguiu", garante o antigo médio criativo português, realçando que "a equipa também ajudou".

Já no caso de Cristiano Ronaldo, Dani analisa assim: "A equipa não conseguiu ajudá-lo, nas situações em que hoje em dia ele está um bocadinho mais frágil o coletivo falhou na capacidade de compensar essas fragilidades de maneira a que ele pudesse sobressair, finalizar ou até ter mais impacto no jogo".

Questionado sobre se as aparentes diferenças na disponibilidade física entre os dois jogadores podem estar relacionadas com o facto de Ronaldo ter feito mais jogos que Pepe durante a época, Dani confessa que ele próprio fez uma questão semelhante a Roberto Martínez quando esteve na Alemanha durante o Euro 2024: "Falei com o selecionador e por acaso perguntei-lhe isso, perguntei-lhe o porquê de haver jogadores que precisam de descanso e outros nem tanto".

Pepe e Cristiano Ronaldo no onze titular do Portugal - Eslovénia (AP)

A resposta do selecionador nacional não desvendou o mistério: Martínez lembrou que a equipa técnica "avalia os jogadores diariamente", mas nunca como acontece nos clubes: "O clube sabe exatamente como é que estão, porque estão lá todos os dias e quando chegam à seleção, depois de estarem em estágio é que começamos a perceber realmente como é que todos eles estão a níveis físicos, emocionais, qual é o desgaste que já trazem, o que é que precisam, se precisam de descansar um bocadinho mais, se precisam de estar em competição ou de estar a treinar e isso é tudo identificado lá com o dia a dia e com tudo aquilo que se trabalha", respondeu o selecionador a Dani, lembrando ainda que "há jogadores que precisam de estar em competição e que para esses é mau pararem durante três ou quatro dias para descansar e que há outros que precisam desse descanso".

Esta pode mesmo ser a principal diferença entre Cristiano Ronaldo e Pepe, tal como mostram as estatísticas. Na última época, e contando já com os jogos no Euro 2024, o camisola 7 fez 45 jogos, num total de 3.974 minutos, pelo meio marcou 44 golos e fez 13 assistências. Já no caso de Pepe, o defesa-central ex-FC Porto fez 34 jogos, num total de 2.995 minutos, quase menos 1.000 minutos que o capitão da seleção. 

Mas qual é o segredo para longevidade? Não é massa

Dani garante que não há segredos para a longevidade da dupla nacional e diz que conta "tudo" - o que fazem dentro e fora do campo, as horas de sono, o que comem, os treinos, as técnicas de recuperação, a genética e o espírito de querer conquistar este mundo e o próximo.

"Conta tudo. Tudo. Essa longevidade que eles conseguem alcançar, eu acho que é tudo. A todos os níveis, a forma como competem, a forma como conseguem recuperar... Hoje em dia há cada vez mais máquinas e há a evolução do treino e da recuperação - que estão a um nível tão elevado e tão bem trabalhado, com muita ciência também pelo meio. Tudo somado, dá para ver vê exatamente de que é que cada jogador precisa."

Para o comentador da CNN Portugal há um outro exemplo deste fenómeno - o defesa brasileiro Tiago Silva, 39 anos como Ronaldo. Dani lembra que, numa entrevista recente, o internacional brasileiro mostrou a casa onde vive: na garagem tinha um ginásio apetrechado com várias máquinas de recuperação como crioterapia e banheiras para banhos de gelo. Fechada a tour pela habitação, Dani recorda que Tiago Silva se virou para a jornalista e disse algo como: "Em casa passo duas ou três horas por dia aqui nesta garagem."

Para Dani, este é o segredo para a longevidade - a capacidade de colocar a recuperação e o treino em primeiro lugar, por mais que isso possa custar em determinadas ocasiões. O comentador da CNN Portugal lembra ainda o caso de Adrien Silva, que quando foi transferido do Sporting para Leicester levou um chef privado para viver na sua própria casa, de modo a que o jogador comesse aquilo que exatamente tinha de comer sem se preocupar com essa vertente da vida.

"Nós antes era massa, era hidratos de carbono, não me diziam o que é que eu tinha a comer ou o que é que o Rui Costa tinha de comer. Hoje em dia já se sabe que este jogador precisa mais disto e menos daquilo, o outro precisa mais disto e menos daquilo... Já fica um trabalho tão identificado e tão individual que depois permite aos jogadores terem essa longevidade. É cada vez mais minucioso", explica Dani.

Dani em julho de 1997, antes do Mundial de 1998 (Getty)

Depois há casos diferentes, como o de Bernardo Silva, aponta o ex-internacional, lembrando que o jogador do Manchester City tem uma "vida perfeitamente normal, não necessita de ter tantos cuidados e consegue correr quilómetros a cada jogo". Contudo, o comentador da CNN Portugal lembra que todos os jogadores têm "a possibilidade financeira para terem o cuidado que querem ter com o corpo e com a profissão" e isso faz com jogadores como Cristiano Ronaldo e Pepe tomem este tipo de "atitudes de modo a preservarem a sua condição física para estarem cada vez melhores ou estarem sempre bem".

Desafiado a arriscar quantos Pepes e Ronaldos existem por cada grupo de 100 jovens atletas, Dani prefere não apostar, deixando uma mensagem para pais, treinadores de camadas jovens e até professores: "Digo sempre que os miúdos até uma certa idade têm é de se divertir, aproveitar o estarem a jogar mas sem sentirem muito a necessidade da competição. Divertirem-se até uma certa idade. A partir dos 15 anos já é importante eles sentirem a competição e a necessidade de serem competitivos. Quem os acompanha, até os pais, deixem-nos viver um bocadinho o momento e não ponham tanta pressão para não criarem ansiedade nos jovens".

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