Isto bem conversado dá para visitar o túmulo de Puskás por três euros

Sérgio Pires , Enviado especial do Maisfutebol ao Euro 2020
21 jun 2021, 01:49
Túmulo de Puskás

O Caderno de Puskás – VIII

Eu, pecador, me confesso: a primeira coisa que fiz ao entrar na monumental Basílica de Santo Estevão foi abrir a boca de espanto e tirar fotos. A segunda foi perguntar pelo túmulo de Ferenc Puskás.

«‘Puskás? Sim’, apontava para debaixo do chão, ‘mas não se pode entrar…’», disse-me um funcionário.

Quer dizer: as reticências ele não disse, mas aquela frase ficou em suspenso, pelo que não virei costas e fiz conversa.

Do outro lado a guarda ia baixando, até que entredentes ouvi: «Mil florins...»

«Como?» Ainda esbocei «não dá para ser 500?», antes de aceder.

«Vem!»

Segui-o em passo apressado. Entrámos por uma porta lateral e descemos para o que me parecia uma cave. Um lanço de escadas seguido de outro. A temperatura descia a cada degrau. Até chegarmos a uma sala fria de mármore, com dezenas de lápides brancas com letras douradas.

Num primeiro vislumbre, ainda com coroas de flores no chão, o sepulcro de Sandor Puhl, árbitro internacional húngaro que morreu há exatamente um mês.

Até que, logo ali, a uns três metros, jaz Ferenc Puskás, sepultado com a mulher Erzsébet Hunyadvári e a filha de ambos, Anikó.

O meu guia improvisado começa a debitar factos sobre a vida e obra do maior nome da história do futebol húngaro. De seguida, aponta para os túmulos de Sándor Kocsis, Gyula Grosics e Jeno Buzánszky, outros membros da geração de ouro dos «Mágicos Magiares». Seguiam-se as últimas moradas de outros desportistas de renome, de génios das artes e das ciências.

«Este, campeão olímpico, halterofilia» – levantava um peso imaginário.

«Este, bailarino famoso» – fazia um gesto como quem dança flamenco.

E eu ali num panteão com as mais ilustres figuras do desporto e da cultura húngara a ouvir as explicações incríveis.

Até que… Uma pausa.

«Foto com Puskás?», pergunta-me.

Eu, pecador, aceito de bom grado. Nota mental: não sorrir.

E então: «Pronto. Vamos!»

Subimos as escadas. Voltamos a sentir o calor abafado de Budapeste. Por entre o barulho dos sinos da maior igreja da cidade, ouço-o em português: «Obrigado.»

Ficou por três euros. Achei barato.

--

«O Caderno de Puskás» é um espaço de crónica dos jornalistas Sérgio Pires e Vítor Maia, enviados especiais do Maisfutebol ao Euro 2020.

Relacionados

Opinião

Mais Opinião

Patrocinados