Acredita que os juros do BCE vão chegar aos 4% já em 2023? A OCDE acredita. Se tiver razão, a prestação da casa vai subir brutalmente

30 set 2022, 07:00
Christine Lagarde - Banco Central Europeu

Se a previsão da OCDE se vier a confirmar, as taxas Euribor podem vir a atingir o patamar de 5%, tal como já aconteceu no passado. A prestação mensal de quem tem crédito à habitação pode duplicar. Veja as simulações

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, fez questão de reafirmar esta semana qual a sua principal missão. E fez questão de relembrar que essa missão está gravada nos tratados europeus: garantir a estabilidade dos preços.

Lagarde, que intervinha num evento em Frankfurt, na Alemanha, não o terá dito por pensar que existiam dúvidas entre quem a ouvia. Disse-o para voltar a garantir que iria cumprir o mandado. E disse-o para voltar a sinalizar o que pretende fazer para o cumprir.

“Faremos o que temos de fazer, que é continuar a subir as taxas de juro nas próximas reuniões”, sublinhou a líder do BCE.

Tal como Lagarde explicou na mesma ocasião, vão fazê-lo não porque queiram reduzir o crescimento económico. Ou porque queiram provocar uma recessão na zona euro. Vão fazê-lo porque querem trazer a inflação dos atuais quase 9% para 2%.

E no meio de tanta certeza, as dúvidas são apenas sobre quanto vão subir as taxas de juro.

Na segunda metade deste ano, o banco central já passou as taxas de zero para 1,25%.

No próximo dia 27 de outubro, quando o BCE voltar a reunir-se para decidir se sobe juros, a dúvida já só é se a subida será de 0,75 pontos ou de 0,5 pontos.

E daí para a frente também não há grandes dúvidas. As taxas de juro vão continuar a subir. Quanto? Até onde? Não se sabe.

Mas a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) tem uma perspetiva: as taxas vão subir até aos 4% já em 2023.

Nas previsões intercalares que apresentou esta semana, é este o cenário com que a organização com sede em Paris trabalha.

“Na área do euro, o BCE enfrenta um ambiente desafiante, dadas as perspetivas face às pressões inflacionistas cada vez mais generalizadas”, sublinha a OCDE, adiantando que “a taxa principal de refinanciamento deverá subir para 4% em 2023”.

Taxas nos 4% só por duas vezes desde 1999

A concretizar-se o cenário da OCDE, será apenas a terceira vez desde 1999 que o BCE coloca as taxas de juro no patamar dos 4%.

A primeira foi em 2000. O BCE começou a subir a sua principal taxa diretora um ano antes, de 2,5% para 3%, e em outubro de 2000 as taxas chegavam aos 4,75%. Mantiveram-se acima dos 4% até setembro de 2001.

O efeito nas taxas Euribor mais que acompanhou esta subida. Em junho de 1999 deram os principais sinais de subida a partir de um patamar que rondava os 2,6%. Em agosto de 2000 estavam no patamar dos 5%.

A segunda vez na história do BCE em que o banco subiu as taxas para o patamar de 4% foi entre 2006 e 2008. A primeira subida ocorreu em março de 2006, com a taxa a subir dos 2,25% para 2,5%. Em julho de 2008 as taxas subiam para 4,25% e mantiveram-se acima dos 4% até outubro.

Os efeitos nas taxas Euribor começaram a fazer sentir-se em agosto de 2005 quando estavam num patamar ligeiramente acima dos 2%. Em outubro de 2008 estavam em redor dos 5,5%.  

Este ano o BCE começou a subir as taxas em julho, de zero para 0,5% e voltou a subir este mês, colocando a taxa em 1,25%.

A subida dos juros pelo BCE também foi antecipada pelas taxas Euribor. A subida começou sensivelmente em fevereiro, com todas as taxas em valor negativo. Atualmente, a Euribor a três meses está acima de 1,2%, a Euribor a seis meses acima de 1,8% e a Euribor a 12 meses acima de 2,6%.

Euribor acima de 5% levaria a subida (brutal) das prestações

Se a perspetiva da OCDE se vier a materializar e se, tal como no passado, as taxas Euribor atingissem o patamar dos 5%, as prestações com crédito à habitação aumentariam substancialmente.

No caso de um empréstimo de 150 mil euros, a 30 anos, com spread de 1%, indexado à Euribor a seis meses, a prestação passaria de pouco mais de 450 euros para quase o dobro.

 

 

Prestação com Euribor a 5%

 

150 mil euros, 30 anos, spread 1%

 

Euribor 6 meses

Está a pagar

454,27

Vai pagar

899,33

Aumento

445,06

 

O mesmo empréstimo, mas indexado à Euribor a 12 meses, teria uma subida da prestação dos atuais quase 500 euros para quase 900 euros.

 

 

Prestação com Euribor a 5%

 

150 mil euros, 30 anos, spread 1%

 

Euribor 12 meses

Está a pagar

449,31

Vai pagar

899,33

Aumento

450,02

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