Eleições nos EUA. Inflação, aborto, guerra: o que une e separa Biden e Trump

Agência Lusa , DCT
24 out 2022, 08:29
Donald Trump e Joe Biden (AP Photo/File)

As eleições intercalares são a 8 de novembro

A poucas semanas das eleições intercalares norte-americanas, o atual Presidente, Joe Biden, e o seu rival republicano, Donald Turmp, têm cruzado o país em busca de apoio para os candidatos dos seus partidos, trocando violentos ataques diretos.

Contudo, Biden decidiu não participar em grandes comícios, o que, segundo analistas, reflete um baixo índice de aprovação que o torna, de certa forma, indesejado em alguns distritos e estados do país.

O Presidente norte-americano optou por concentrar-se em ações de angariação de fundos e eventos oficiais, nos quais tem traçado contrastes entre as agendas políticas democratas e republicanas, além de alertar para o crescimento do extremismo entre a oposição.

Já Donald Trump, que se recusa a sair de palco mesmo sendo investigado em várias frentes, tem realizado comícios estridentes em vários estados, onde tem alternado entre defender os seus candidatos escolhidos a dedo e menosprezar e atacar pessoalmente Joe Biden, reiterando a alegação infundamentada de que “não perdeu” a última eleição.

Enquanto Joe Biden, de 79 anos, tem classificado Donald Trump e o seu grupo de apoiantes de "semi-fascistas" e “ameaça à democracia", o republicano, de 76 anos, tem afirmado que o democrata sofre de “deficiência cognitiva” e é "incapaz de liderar a América".

Eis uma lista dos argumentos sobre questões-chave usados pelo Presidente e pelo seu rival republicano nas campanhas eleitorais para as intercalares de 8 de novembro:

Inflação

Uma sondagem divulgada em 17 de outubro pelo New York Times e pelo Siena College indicou que a economia e a inflação são as questões mais importantes para 44% dos prováveis eleitores.

A 8 outubro, no estado do Nevada, num discurso para milhares de apoiantes, Trump culpou os democratas pela alta inflação no país: “há dois anos, tudo era tão bom no nosso país...e agora está a despedaçar-se. Agora temos gasolina a 5,54 dólares (5,6 euros) o galão (3,78 litros)”, disse Trump.

Cerca de um mês antes, num comício eleitoral em Ohio, Trump já dizia que "há apenas dois anos", quando estava no cargo, "a gasolina estava quase num mínimo histórico", afirmou. "Com o Governo Trump, tivemos a maior economia da história do mundo sem inflação. Biden e o Congresso Democrata criaram a pior inflação em 50 anos e isso vai ficar muito pior", acrescentou.

Em agosto, Joe Biden conseguiu aprovar a Lei de Redução da Inflação, uma grande vitória democrata e, atento às prioridades dos norte-americanos, o Presidente tem aproveitado os seus discursos para indicar que a economia e o combate à inflação são prioridades.

"Eu acreditava que poderíamos tirar a América das profundezas da covid-19, então aprovamos o maior pacote de recuperação económica desde Franklin Roosevelt. E hoje, a economia dos Estados Unidos é mais rápida, mais forte do que qualquer outra nação avançada do mundo", disse a 1 de setembro, em Filadélfia, na Pensilvânia.

Num discurso na Califórnia, em 14 de outubro, Biden declarou que “os preços e a inflação vão subir se os republicanos assumirem o controlo” do Congresso após as intercalares.

Aborto

Joe Biden tem tentado voltar a mobilizar os norte-americanos em torno do direito ao aborto, prometendo consagrá-lo numa lei federal em caso de vitória democrata no Congresso. O chefe de Estado está a apostar na indignação provocada pela revogação pelo do Supremo Tribunal - de maioria conservadora - do direito ao aborto, para arrecadar votos da esquerda e do centro.

"Lembrem-se do que sentiram naquele dia (24 de junho, quando o Supremo norte-americano reverteu a decisão "Roe v. Wade") a raiva, a preocupação, a descrença", lançou Joe Biden durante um discurso em Washington, em 11 de outubro, denunciando "o caos" após essa decisão.

"Em quatro meses, as leis que proíbem o aborto entraram em vigor em 16 estados (…) e os republicanos eleitos no Congresso foram mais longe" ao prometerem adotar tal proibição a nível federal caso tomassem o controlo do Congresso, recordou.

Nesse sentido, Biden pediu aos cidadãos que elejam mais democratas para o Senado e para a Câmara dos Representantes, prometendo que, a primeira legislação a enviar ao Congresso num cenário de vitória sobre os republicanos "será para codificar Roe V. Wade". "E assim que o Congresso o aprovar, assinarei o projeto de lei”, prometeu o chefe de Estado.

Por outro lado, os republicanos têm silenciado as suas posições sobre o aborto, cientes de que isso lhes poderá custar votos.

Contudo, em junho, logo após a decisão do Supremo, Donald Trump atribuiu a si mesmo o crédito por ter solidificado as bases conservadoras do Tribunal, que derrubaram as proteções do direito ao aborto.

"Esta decisão só foi possível porque fiz tudo como prometido, incluindo nomear e conseguir colocar três juízes constitucionalistas altamente respeitados no Supremo Tribunal”, disse Trump, em 24 de julho, acrescentando tratar-se "da maior vitória para a [causa pró-]vida numa geração".

A 26 de junho, num comício no estado do Illinois, classificou a decisão do Supremo como uma "vitória" para "o Estado de direito e, acima de tudo, uma vitória para a vida". "Esse avanço é a resposta às orações de milhões e milhões de pessoas, e essas orações já têm décadas”, disse.

Porém, nos comícios eleitorais seguintes Trump raramente voltou a citar a questão do aborto nos seus discursos.

A retórica antiaborto dos republicanos foi recentemente abalada por uma reportagem do The Daily Beast dando conta que o candidato republicano da Geórgia ao Senado e apoiante de Trump, Herschel Walker, - que quer proibir completamente o aborto em qualquer circunstância -, abriu uma exceção para si próprio, ao pagar pelo aborto de uma mulher com que se relacionava em 2009. Trump, juntamente com o Partido Republicano, saíram rapidamente em defesa do candidato, frisando não terem duvidas da inocência de Walker.

Guerra na Ucrânia

Desde que chegou à Casa Branca, em janeiro de 2021, Biden já enviou mais de 17,5 mil milhões de dólares (17,9 mil milhões de euros) em ajuda militar à Ucrânia.

Até ao momento, o apoio financeiro dos Estados Unidos a Kiev tem alcançado um forte apoio bipartidário, quer no Senado, quer na Câmara dos Representantes.

Contudo, o líder dos republicanos na Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, alertou na semana passada que o seu partido não passará um "cheque em branco" à Ucrânia se conquistar a maioria dos assentos nas intercalares.

Face a essas declarações, Joe Biden usou um evento de angariação de fundos em Filadélfia, na Pensilvânia, um estado-chave para as eleições de meio de mandato, para criticar a posição republicana face à guerra.

"Eles [os republicanos] dizem que, se vencerem, provavelmente não continuarão a financiar a Ucrânia. Eles não entendem. Isto é muito maior que a Ucrânia. É a Europa Oriental. É a NATO", criticou Biden na quinta-feira, avaliando que os republicanos "não entendem a política externa norte-americana".

Sobre o conflito na Ucrânia, Trump tem mantido a retórica de que se estivesse no poder nunca teria havido guerra. Em 17 de setembro, num comício em Ohio, o republicano alertou que os Estados Unidos “podem acabar numa Terceira Guerra Mundial”.

"Agora temos uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia com potencialmente centenas de milhares de pessoas a morrer, algo que nunca teria acontecido se eu fosse Presidente. Isso nunca teria acontecido se a eleição não tivesse sido manipulada", afirmou.

Processos judiciais contra Trump e ataque ao Capitólio

A comissão que investiga o ataque ao Capitólio, a 6 de janeiro de 2021, emitiu na sexta-feira uma intimação a Donald Trump, dizendo que o republicano “orquestrou” um plano para anular os resultados das eleições presidenciais de 2020.

Trump está também sob investigação por possíveis violações da Lei de Espionagem, segundo os media, por "retenção de documentos confidenciais", e por alegada obstrução da justiça e destruição de registos do Governo federal.

A 3 de setembro, num comício na Pensilvânia, Trump classificou as buscas do FBI à sua mansão em em Mar-a-Lago (Florida) como um dos maiores "abusos de poder" alguma vez visto no país.

Já em 17 de setembro, no comício em Ohio, Trump disse ser vítima de uma "caça às bruxas" por parte de pessoas "sem vergonha, nem moral, nem consciência e absolutamente nenhum respeito pelos cidadãos".

"Por seis anos consecutivos, fui assediado, investigado, difamado, caluniado e perseguido como nenhum outro Presidente e provavelmente como ninguém na história americana. No entanto, tudo o que eu sempre quis foi, simplesmente, tornar a América grande de novo", prosseguiu.

Num comício em Nevada, a 8 de outubro, Trump gabou-se do tamanho da multidão reunida em sua favor em 06 de janeiro, em frente ao Capitólio, que resultou na morte de cinco pessoas e em mais de 140 polícias feridos.

"Sabem qual é a maior multidão que eu já vi? A de 6 de janeiro", afirmou o antigo mandatário.

Por sua vez, em 01 de setembro, a partir do histórico Independence Hall (Filadélfia) onde foi proferida a Declaração de Independência e a Constituição norte-americanas, Joe Biden alertou que os valores democráticos norte-americanos estão a ser atacados por forças extremistas leais ao seu antecessor.

Com críticas explicitamente dirigidas ao movimento "MAGA" - icónico 'slogan' de campanha de Donald Trump 'Make America Great Again' [Tornar a América Grande de Novo] - Biden criticou o fanatismo "cego" de alguns seguidores do antigo chefe de Estado, a quem classificou de "ameaça" aos Estados Unidos.

"Eles [republicanos do MAGA] olham para a multidão que invadiu o Capitólio dos Estados Unidos, atacando brutalmente as forças da lei, não como insurretos que colocaram um punhal na garganta de nossa democracia, mas como patriotas", disse.

"Não há dúvida de que o Partido Republicano hoje é dominado, dirigido, intimidado por Donald Trump e os republicanos MAGA. E isso é uma ameaça para este país. (...) Os republicanos MAGA fizeram a sua escolha. Eles abraçam a raiva. Eles prosperam no caos”, sublinhou Biden.

E.U.A.

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