Como a guerra na Ucrânia está a mudar a forma como os EUA compram armas e se preparam para "um conflito de alto nível"

14 mar 2023, 19:36
Joe Biden (Getty Images)

Um funcionário sénior do Pentágono assume que a invasão russa da Ucrânia fez soar os alarmes na Defesa norte-americana perante o risco de um "conflito de alto nível", lembrando a China

O Pentágono apresentou esta segunda-feira ao Congresso aquele que foi o maior pedido de orçamento desde as guerras no Iraque e no Afeganistão. O governo de Joe Biden fez uma proposta orçamental de 842 mil milhões de dólares para o ano de 2024 - um valor que reflete as preocupações dos Estados Unidos em relação ao que já é considerada uma ameaça chinesa.

Só para munições o Pentágono propôs um orçamento de 30,6 mil milhões de dólares, o que corresponde a um aumento de 5,8% em relação à proposta de orçamento para 2023. Além disso, pediu ainda 37,7 mil milhões de dólares para modernizar a chamada tríade nuclear (mísseis nucleares lançados em terra, submarinos armados com mísseis nucleares e aeronaves estratégicas com bombas e mísseis nucleares), bem como 145 mil milhões de dólares para compras e 170 mil milhões para investigação, desenvolvimento de tecnologia e engenharia, e que representam os maiores investimentos de sempre.

A proposta do Pentágono inclui ainda 29,8 mil milhões de dólares para “destruição e defesa de mísseis”, 11 mil milhões de dólares para mísseis hipersónicos e de longo alcance, além do maior orçamento espacial da história - 33 mil milhões de dólares.

Na apresentação da proposta orçamental do Pentágono, a vice-secretária da Defesa dos EUA, Kathleen Hicks, fez questão de lembrar a ameaça chinesa para justificar um pedido desta dimensão. “A nossa maior medida de sucesso é garantir que a liderança da República Popular da China acorda todos os dias, considera os riscos de agressão e conclui ‘hoje não é o dia’. E que eles pensem assim hoje e todos os dias."

"Este pedido serve como um bom ponto de partida para isso mesmo", argumentou o senador norte-americano Jack Reed, chefe do comité dos serviços armados do senado, numa reação à proposta apresentada segunda-feira de manhã.

A proposta de orçamento do Pentágono distingue-se ainda num outro fator: é a primeira vez que o governo vai adquirir mísseis e outras munições através de contratos plurianuais, algo que já é habitual para a compra de aviões e navios. Esta medida reflete a preocupação do Departamento da Defesa da Casa Branca em dar um sinal de procura contínua aos fabricantes de armas, como a Raytheon Technologies Corp (RTX.N), Lockheed Martin Corp (LMT.N) e a Aerojet Rocketdyne Holdings Inc (AJRD.N).

Citado pelo Politico, um funcionário sénior do Pentágono, que falou em condição de anonimato, assume que a invasão russa da Ucrânia fez soar os alarmes na Defesa norte-americana. "As pessoas olham para o que está a acontecer na Ucrânia e pensam ‘talvez precisemos de ter uma base industrial de munições mais saudável para nós próprios além do que está a acontecer na Ucrânia."

Embora admita que esta proposta orçamental foi "informada e pressionada" pela guerra na Ucrânia, o funcionário sublinha que a maioria destas armas não está a ser enviada para Kiev, até porque o Pentágono espera financiar o seu apoio à Ucrânia através de legislação suplementar aprovada pelo Congresso, além da quantia prevista no orçamento base para a Iniciativa anual de Apoio à Segurança da Ucrânia.

Agora, a preocupação dos EUA vai além da Ucrânia - as atenções estão viradas para a China: “A ênfase aqui é um pouco diferente. Estas [armas] são para uma estratégia mais ampla para um conflito de alto nível. Não são munições de terreno”, observou o funcionário.

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