No debate entre Donald Trump e Kamala Harris, a última pergunta foi sobre a crise climática. Harris focou-se nos pontos económicos, dizendo que políticas ambientais podem criar empregos e ajudar a economia a crescer. Trump esquivou-se à pergunta e começou a falar sobre política externa
Este verão foi o mais quente de sempre nos Estados Unidos da América (EUA). Furacões, secas mais prolongadas, cheias, incêndios devastadores e a subida do nível das águas do mar continuam a fazer soar um alarme pela comunidade científica e grupos ambientais.
No debate entre Donald Trump e Kamala Harris, a última pergunta foi sobre a crise climática. Harris focou-se nos pontos económicos, dizendo que políticas ambientais podem criar empregos e ajudar a economia a crescer. Trump esquivou-se à pergunta e começou a falar sobre política externa.
É evidente que os dois candidatos à presidência de um dos países com maiores emissões de carbono do mundo têm visões completamente diferentes em relação ao clima.
John Kerry, antigo enviado especial climático dos EUA, disse à CNN que outra presidência de Trump seria “catastrófica” para o ambiente. Enquanto presidente, Trump reverteu mais de 125 leis e políticas ambientais e disse que as alterações climáticas eram uma “farsa”, recusando-se a ouvir os alertas da comunidade científica para os danos irreversíveis que a Humanidade pode provocar ao planeta.
E, se voltar à Casa Branca, Trump vai muito provavelmente arrasar o legado climático que Joe Biden tem tentado construir nos últimos quatro anos.
“Drill, baby, drill” (“fura, baby, fura”) é algo que Trump diz frequentemente em campanha, referindo-se à exploração de petróleo nos Estados Unidos. Para garantir a “dominância energética” americana, Trump quer usar 13 milhões de hectares de território atualmente protegido pela administração Biden no Alaska para extrair combustíveis fósseis, e também prometeu reverter um decreto-lei aprovado pelo atual presidente para incentivar o uso de carros elétricos.
Trump pretende ainda retirar de novo os EUA do Acordo de Paris, um documento em que mais de 200 países se comprometeram a reduzir as emissões de carbono até 2030, depois de Biden, no seu primeiro dia enquanto presidente, ter voltado a aderir.
Para além disso, o ex-presidente ameaçou desmantelar a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e reverter partes do Ato de Redução da Inflação, o maior investimento de sempre do governo americano em iniciativas climáticas e de energia limpa.
Harris, por outro lado, teve o voto decisivo na aprovação deste documento.
Ao longo da sua carreira enquanto procuradora-geral da Califórnia e vice-presidente, Harris processou grandes petrolíferas por violações ambientais e tem apoiado políticas de transição energética e de combate às alterações climáticas.
Em entrevista à CNN, a vice-presidente disse que a crise climática é um problema que tem de ser enfrentado “com urgência” através do investimento numa “economia de energia limpa”.
Mas alguns ambientalistas estão reticentes em apoiar Harris, que não quer renunciar completamente à produção de petróleo e gás natural nos EUA. No debate com Trump, a candidata disse que não vai proibir “fracking” se for eleita, um processo de extração de combustíveis fósseis altamente poluente e pior para o ambiente do que a exploração de carvão. De notar que o debate entre os dois candidatos aconteceu na Pennsylvania, um estado decisivo nas eleições de novembro e o segundo maior produtor de gás natural dos EUA.
Na verdade, a produção de petróleo e gás natural atingiu máximos históricos durante a administração Biden-Harris, mesmo depois dos EUA já terem prometido afastar-se dos combustíveis fósseis nas Nações Unidas.
No que diz respeito à crise climática, de acordo com os cientistas, a janela para agir está a fechar-se rapidamente. E apesar de alguns grupos ambientais estarem desapontados com algumas das posições de Harris, outros dizem que, entre a candidata e Trump, a escolha é clara—mesmo que não seja uma escolha simples.