EUA: 'Trumpista' filho de brasileiros candidato em defesa do "sonho americano"

Agência Lusa , DCT
5 nov 2022, 08:41
George Santos

Sobre as suas propostas, o combate ao crime e a melhoria das infraestruturas de Nova Iorque estão no topo das suas prioridades

Em "representação e em defesa do sonho americano", o republicano George Santos, filho de imigrantes brasileiros nascido em Nova Iorque, procura a eleição para o Congresso dos Estados Unidos nas intercalares de terça-feira.

Um fiel apoiante do ex-presidente Donald Trump, George Santos é tudo menos um candidato republicano convencional: é jovem (34 anos), descendente de emigrantes nascido no seio de "uma família pobre" no bairro de Queens e homossexual. Contudo, rejeita rótulos, porque não "farão diminuir os impostos dos eleitores".

Em entrevista à Lusa, afirmou querer proteger o sonho americano para as gerações futuras, o mesmo sonho que levou os seus pais a deixarem o Brasil e a procurarem uma vida melhor nos Estados Unidos.

"Hoje o sonho americano está a ser destruído com as políticas e ideologias ruins do nosso país. Concorro ao Congresso para ser deputado federal em representação desse sonho. Em vez de se ser extremamente de esquerda ou extremamente de direita, eu acho que falta um pouco de discernimento básico na política americana", avaliou.

Nascido e criado no subsolo de um prédio em Queens, George Santos foi atrás "de uma educação boa" que o país lhe proporcionou, avaliando que conseguiu construir "uma carreira respeitável" no ramo financeiro, procurando agora dedicar-se ao serviço publico.

Sobre as suas propostas, o combate ao crime e a melhoria das infraestruturas de Nova Iorque estão no topo das suas prioridades.

"O crime está fora de controlo no estado de Nova Iorque. Foram retirados milhões de dólares da verba da polícia e eu quero ir para o Congresso para trazer de volta verba federal. Eu quero trazer dinheiro para infraestrutura. A nossa infraestrutura elétrica em Long Island está caótica. Se tivermos muito vento, falha a luz. Isto não é de um país de primeiro mundo. Isto é infraestrutura ruim, velha, sem investimento", destacou.

Apesar de já ter sido rotulado como um candidato de extrema-direita, Santos nega esse enquadramento, apesar de assumir que é antiaborto e apoiante de Donald Trump.

No dia 06 de Janeiro de 2021, quando se deu o ataque ao Capitólio, George Santos estava em Washington D.C. Mas tudo não passou de uma coincidência, que foi usada politicamente contra si, segundo argumenta.

"Na verdade, eu não estive no Capitólio no dia 06 de janeiro. Isso é uma falsidade. Eu estava na cidade de Washington D.C., mas por outros motivos e, por coincidência, foi o dia o que aconteceu esse que é um dos eventos mais trágicos na história do nosso país", disse à Lusa.

"Mas a verdade seja dita: eu apoiei a Presidência de Donald Trump em 2016. Eu apoiei a reeleição dele em 2020. Mas isso não significa que eu apoio atos de violência que podem ter sido feitos com ou sem a orientação dele. Eu não posso dizer que ele mandou as pessoas ir para o Capitólio e difamar e destruir o Capitólio. Agora, acho que as pessoas têm que ter responsabilidade individual pelos atos que cometeram naquele dia", acrescentou.

Contudo, a Comissão que investiga o ataque ao Capitólio tem uma visão diferente de Santos sobre o envolvimento de Trump no desenrolar dos acontecimentos.

A Comissão indicou que reuniu “provas esmagadoras” de que Trump “orquestrou pessoalmente” um plano para reverter a sua derrota nas eleições presidenciais de 2020, inclusive com a disseminação de alegações falsas de fraude eleitoral generalizada, “tentando corromper” o Departamento de Justiça e pressionando autoridades estaduais, membros do Congresso e o seu próprio vice-presidente para tentar mudar os resultados.

Já nas horas que se seguiram à invasão do Capitólio por uma multidão de apoiantes, Donald Trump “deitou gasolina no fogo” e “escolheu não agir”, ainda segundo a Comissão.

"Eu fui um dos primeiros republicanos a ir às minhas redes sociais dizer que era um dia muito trágico, escuro na nossa história americana e que precisamos de muito tempo para uma cura e para nos unirmos de novo como um país só", esclareceu o candidato.

George Santos é o único republicano assumidamente 'gay' a concorrer às eleições de meio de mandato deste ano. Porém, o seu rival democrata Robert Zimmerman também é homossexual, sendo esta a primeira vez na história dos Estados Unidos que dois candidatos ao Congresso abertamente 'gays' concorrem um contra o outro numa eleição geral, segundo a imprensa norte-americana.

"Acho bom saber que o nosso país chegou ao ponto de que os dois partidos aceitam pessoas homossexuais, os dois partidos têm candidatos que representam a comunidade LGBT (sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero), mas eu acho que isso não interfere no dia-a-dia do eleitor. As pessoas querem é saber o que é que o candidato vai fazer para melhorar as suas vidas", afirmou.

"A minha vida pessoal não tem absolutamente nenhum impacto na minha campanha e na minha política. Então, acho que o facto de eu ser 'gay', de o meu oponente ser 'gay', não vai afetar nada, não vai diminuir os seus impostos, não te vai fazer sentir mais segura, não vai trazer-te saneamento básico nem infraestrutura elétrica", acrescentou.

Sobre a sua posição antiaborto, o candidato republicano alegou "razões pessoais" para se opor à interrupção da gravidez. Porém, frisa que defende exceções, não se opondo ao aborto em caso de crimes ou para salvar a vida da grávida.

"Acho que é extremo autorizar o aborto até ao momento do parto e acho que temos de ter uma conversa honesta connosco mesmos sobre isso. Acho que aí já se está a passar uma linha, já se está a eliminar uma vida já formada. E eu digo isto como uma pessoa que nasceu na 24.ª semana de gestação, seis meses de gravidez. Então eu sou uma criança que nasceu prematura e, na lei atual, eu estaria sujeito a ser abortado", afirmou.

"Não se pode erradicar o aborto, mas também não se pode ser muito liberal. Acho que se tem de ter um meio-termo, onde pessoas podem ter uma noção de princípio e moral", observou.

Em relação à noite eleitoral de 08 de novembro, George Santos, que tem apostado numa campanha multilingue, está confiante que derrotará Robert Zimmerman na corrida do 3.º Distrito Congressional de Nova Iorque.

"Sinto-me confiante porque eu estou a fazer uma campanha para o povo. E quero deixar bem claro que isto não é o meu ego. Não estou a concorrer para cargo público por vaidade, mas porque eu quero levar soluções de senso comum para o povo americano", concluiu.

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