Trump anuncia recandidatura à presidência. "Em breve seremos uma grande nação outra vez"

16 nov 2022, 02:44
Apoiante de Donald Trump

Ex-presidente está oficialmente na corrida à nomeação dos republicanos para as eleições de 2024. Na sua retórica habitual, pintou o seu mandato como inigualável ("nunca houve um tempo como esse") e culpou Biden pelo declínio da América e pelo regresso das guerras

“O regresso da América começa neste momento”, afirmou Donald Trump esta noite, ao anunciar formalmente que está na corrida para ser o candidato do Partido Republicano às eleições presidenciais de 2024. "Para tornar a América grande e gloriosa outra vez, estou esta noite a anunciar a minha candidatura à presidência dos Estados Unidos", declarou o ex-inquilino da Casa Branca, confirmando de viva voz aquilo que já todos esperavam.

A declaração desta noite surge bastante mais cedo do que é costume no calendário político norte-americano. Assim, Trump tentou marcar terreno no seu partido, antecipando-se a potenciais rivais, como o governador da Florida, Ron DeSantis, o grande vencedor do lado republicano nas eleições intercalares que decorreram há uma semana. O ex-presidente, que continua a comportar-se como líder de facto do Partido Republicano, tem sido responsabilizado pelo mau desempenho do partido, nomeadamente por ter apoiado dezenas de candidatos que falharam na conquista de posições ocupadas por democratas. A "maré vermelha" que muitos esperavam não aconteceu, e Trump tem sido apontado como o principal responsável por um novo fôlego da Administração Biden.

Passando por cima dessas polémicas (e contando uma história alternativa sobre as midterms), "o Donald" organizou uma cerimónia de lançamento de candidatura na sua propriedade de Mar-a-Lago, onde foram encontrados documentos que Trump desviou ilegalmente da Casa Branca. Tudo parecia um regresso ao passado: o mesmo cenário, as mesmas promessas, as mesmas palavras de ordem, a mesma retórica contra os democratas, a mesma promessa de "fazer a América grande outra vez", perante o que parecia ser o mesmo entusiasmo dos seus apoiantes - que não eram muitos, mas suficientes para encher a sala.

"O declínio da América está a ser-nos imposto por Biden e a esquerda radical"

"Há dois anos éramos uma grande nação. E em breve vamos ser uma grande nação outra vez", prometeu Trump, atirando contra Joe Biden, o homem que o derrotou ao fim de um único mandato na Casa Branca. "O declínio da América está a ser-nos imposto por Biden e pela esquerda radical... não temos de aceitar este declínio", afirmou o ex-presidente.

Trump classificou o seu movimento MAGA (Make America Great Again) como algo incomparável - “nunca houve nada assim e talvez nunca venha a existir outra vez" - e retratou os seus anos de mandato como a era dourada da história dos EUA. Com o seu conhecido talento para o exagero, fez um retrato superlativo dos seus anos na Casa Branca. "Há 3 anos, quando deixei funções, os EUA estavam prontos para a sua idade de ouro. A nossa nação estava no auge do seu poder, prosperidade e prestígio, sobrepondo-se a todos os rivais, destroçando todos os inimigos e dirigindo-se ao futuro confiante e tão forte."

“Em breves 4 anos, todos estavam ótimos: homens, mulheres, afro-americanos, americanos-asiáticos, americanos-hispânicos, todos estavam prósperos como nunca", disse Trump, concluindo que “nunca houve um tempo como esse". Segundo o ex-presidente, as fronteiras norte-americanas estavam seguras, não entravam drogas no país, a inflação não existia, e os EUA eram energeticamente independentes. “Construímos a maior economia a história do mundo", e “quando o vírus [covid-19] nos atingiu, tomei decisões firmes, salvei vidas e a economia dos EUA", proclamou Trump, engrossando o rol de afirmações que já estão a fazer as delícias dos programas televisivos e artigos de fact-check. Os exageros, as distorções e as simples mentiras de Trump não tardaram a ser denunciados em diversos trabalhos de verificação de factos.

“Tudo o que a administração seguinte tinha de fazer era sentar-se e observar", disse Trump. Mas, em vez disso, a Administração Biden deixou os EUA num estado que, pela descrição do ex-presidente, está próximo do apocalipse. "Biden entregou intencionalmente a nossa dependência energética", permitiu a “invasão do nosso país” por milhões de imigrantes, e deixou que "centenas de milhares de quilos de drogas mortíferas” passem as fronteiras, vindos do sul. As ruas das cidades americanas, diz Trump, estão “ensopadas de sangue” e dominadas por crime violento. 

“Que triste” que os outros pensem que a América e a democracia americana são isto, disse o ex-presidente, sem fazer qualquer referência à invasão do Capitólio por parte dos seus apoiantes, há dois anos, acicatados pela recusa de Trump em reconhecer a sua derrota eleitoral.  

Com Trump a guerra na Ucrânia "nunca teria acontecido", diz o próprio 

Segundo Trump, até há dois anos, todos os adversários do Estados Unidos estavam rendidos à grandeza norte-americana e do próprio Trump. “A China, a Rússia, o Irão e a Coreia do Norte estavam em sentido, respeitavam os Estados Unidos e francamente, respeitavam-me, eu conhecia-os bem”. A economia da China estava em dificuldades devido às taxas e tarifas impostas pelo ex-presidente, “a Coreia do Norte não tinha lançado um único míssil de longo alcance desde a minha cimeira com o presidente Kim Jong-un" e “o ISIS foi dizimado por mim e pelos nossos grandes guerreiros em menos de três semanas".

“O mundo estava em paz, a América prosperava e estava na calha de um futuro incrível, porque fiz grandes promessas ao povo americano e, ao contrário de outros presidentes, cumpri as minhas promessas", disse Trump, ovacionado pelos seus apoiantes.

Outro momento em que Trump foi muito aplaudido pela sala foi quando garantiu que "[a guerra na] Ucrânia "nunca teria acontecido se eu fosse presidente". Mais: “os nossos inimigos riem-se de nós”, disse o antigo líder dos EUA, lembrando que “hoje um míssil foi lançado, provavelmente pela Rússia, para a Polónia" - a queda de um míssil está confirmada, mas não que tenha sido lançado da Rússia.

Trump acusou Biden de ser "um presidente que adormece em conferências globais” e que “está a deixar-nos à beira de uma guerra nuclear, uma ideia que há apenas dois anos não se podia mencionar”.

 

“A América tem sido gozada e foi colocada de joelhos como provavelmente nunca antes”, sentenciou Trump, advertindo que “não tem de ser assim".

A história alternativa sobre a meia-derrota nas midterms

As notícias que têm surgido dos bastidores da campanha trumpista dão conta de que os principais conselheiros do ex-presidente tentaram impedir a declaração da noite passada. Acontece demasiado cedo, expondo o pré-candidato a uma longa campanha, e vem logo a seguir a umas eleições intercalares nas quais quase todas as apostas decisivas de Trump falharam. Para além disso, Trump é alvo de diversas investigações, tanto sobre os seus negócios, como sobre o seu papel na invasão do Congresso a 6 de janeiro de 2020. 

Na sua declaração, Trump desvalorizou as suspeitas que o envolvem, depois de ter sido alvo de dois processos de destituição, e contou uma história alternativa sobre os resultados das midterms. Na versão de Trump, os candidatos em que apostou foram esmagadoramente bem-sucedidos, e os republicanos só têm de lhe agradecer o facto de terem recuperado o controlo da Câmara dos Representantes. A maioria republicana na câmara baixa do Congresso tinha sido confirmada poucas horas antes.

Apesar do partido de Trump ter falhado o controlo do Senado (por causa da aposta de Trump no apresentador de televisão Dr. Oz), o ex-presidente fez da meia-derrota uma completa vitória: "Tomámos conta do Congresso. A Nancy Pelosi foi despedida”, disse, sob um grande aplauso. Trump reconheceu que o seu partido devia ter feito melhor, mas explicou que a culpa não é sua... mas dos eleitores: “Os cidadãos do nosso país ainda não se aperceberam completamente da gravidade, do sofrimento, por que está a passar o nosso país”.

O primeiro argumento contra DeSantis

Trump sabe que, para ser o candidato do seu partido em 2024, terá de enfrentar, provavelmente, Ron DeSantis - que acabou de ser reeleito governador da Florida com um resultado histórico, e está a entusiasmar cada vez mais republicanos. Preparando já esse provável frente a frente, Trump avançou um primeiro argumento para que seja ele o escolhido pelos republicanos:  “O nosso país está num estado terrível, temos grandes problemas, esta não é uma tarefa para um político ou um candidato convencional, é uma tarefa para um grande movimento”. Esse movimento, segundo Trump, só pode ser o seu MAGA. 

“Esta não será a minha campanha, esta será a nossa campanha, todos juntos”, disse Trump aos seus apoiantes, insistindo que o estado da América “é uma tarefa para um movimento, não para um indivíduo".

E.U.A.

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