Trata-se de um movimento feminista que renega sexo com homens, maternidade, namoro com homens e casamento. Eleição de Trump acentua interesse no 4B
Houve mais de 500.000 pesquisas no Google pelo tópico "movimento 4B" num período de 48 horas, tornando-se um dos temas mais procurados neste motor de busca. E no no TikTok dezenas de mulheres manifestaram a sua indignação com o resultado das eleições norte-americanas e afirmaram a intenção de participar na tendência 4B.
O movimento 4B é um movimento feminista que surgiu na Coreia do Sul durante a última década e ganhou força como resposta ao contexto de violência de género e desigualdade estrutural que as mulheres enfrentam no país. O nome deriva de quatro princípios que começam com a letra "B" (ou "bi" em coreano, que significa "não").
As mulheres que aderem ao movimento rejeitam quatro aspetos tradicionais esperados de mulheres: sexo com homens (bisekseu), maternidade (bichulsan), namoro com homens (biyeonae) e casamento (bihon). O movimento ganhou mais visibilidade a partir de um episódio trágico que chocou o país em 2016 - o assassínio de uma jovem numa casa de banho pública no bairro de Gangham, em Seoul. O assassino, um homem que não conhecia a vítima, declarou ter cometido o crime por ódio às mulheres, alegando ressentimento por ter sido rejeitado e ignorado por mulheres ao longo da sua vida.
Meera Choi, doutoranda na Universidade de Yale, nos EUA, aponta a tendência 4B como uma nova forma de ativismo feminino, através da qual mulheres desafiam a misoginia e a violência de género. "As mulheres começaram a pensar na maneira como o Governo, o Estado e os homens estavam a falhar com elas”, disse Choi à NBC News.
A eleição de Trump reavivou o debate sobre direitos reprodutivos e de género. Em resposta, algumas americanas, especialmente as mais jovens, adotaram práticas do movimento 4B como forma de protestar contra o que consideram ser ameaças às suas liberdades e à igualdade de género. A campanha dos republicanos alinhou-se com movimentos que pretendem restringir o apoio federal aos direitos reprodutivos.
Michaela Thomas, uma artista de 21 anos, vê no movimento 4B uma forma de protesto. Para ela, que descobriu o movimento online há cerca de um ano, o 4B é uma maneira de mostrar que "as nossas escolhas têm impacto," especialmente num momento em que muitos jovens, diz, estão a adotar ideias mais conservadoras. "As mulheres jovens não querem ter intimidade com homens que não lutam pelos direitos das mulheres", disse ao Washington Post.
Uma análise do próprio Washington Post revela que 55% dos homens votaram em Trump, enquanto 53% das mulheres votaram na vice-presidente Kamala Harris.