O estranho caso da ministra e do mapa de Taiwan que desapareceram

13 dez 2021, 07:32
Taiwan

Governante de Taipei que participava nas reuniões online da Cimeira da Democracia desapareceu das imagens quando mostrou um mapa que poderia melindrar a China. A ordem terá sido da Casa Branca

Audrey Tang, ministra dos Assuntos Digitais de Taiwan, protagonizou um estranho caso durante a Cimeira da Democracia, promovida no final da semana passada pelos Estados Unidos. A governante de Taiwan participava num painel da cimeira, sobre autoritarismo e liberdades, quando a sua imagem desapareceu, mantendo-se apenas a sua participação por voz. O blackout aconteceu depois de Tang mostrar um mapa da Ásia, no qual a ilha da Formosa (Taiwan) surgia com uma cor diferente da cor da China continental, passando a imagem de que se trataria de países distintos.

A ilha da Formosa declarou a separação da China em 1949, mas continua a ser considerada pela China, e pela esmagadora maioria dos países do mundo, como território chinês. Mesmo os Estados Unidos - que promoveram a Cimeira da Democracia num momento de enorme tensão diplomática com a China, e fizeram questão de convidar Taiwan, destacando a ilha como um exemplo de democracia na Ásia - continuam a reconhecer a existência de “uma China”, que inclui a ilha rebelde.

O desaparecimento da ministra de Taiwan durante a sua intervenção da cimeira terá acontecido, de resto, “a pedido da Casa Branca”, escreve a agência Reuters. Os alarmes terão soado quando surgiu o tal mapa que colocava a China a vermelho, e Taiwan a verde - um pequeno pontinho destacando-se no mapa, separado da China pelo estreito de Taiwan. O mapa mostrava a abertura de cada país aos direitos cívicos, e o verde deveria simbolizar Taiwan como território “aberto”, ao contrário da China (“fechado”) ou de países com “repressão”, “obstrução” ou “limitação” de direitos.

Porém, fontes da Casa Branca admitiram que a apresentação de um mapa mostrando China e Taiwan como realidades distintas numa conferência organizada pelos EUA, neste clima de tensões diplomáticas entre Washington e Pequim, poderia ter consequências graves. Se a China entendesse esse facto como uma demonstração de apoio americano à independência de Taiwan, isso poderia deitar gasolina na fogueira das relações bilaterais.

O mapa esteve visível durante cerca de um minuto, mas depois interveio outro participante. Quando Audrey Tang voltou à conversa, já não se via nem mapa nem ministra, apenas uma legenda com a sua identificação. 

Pouco depois, podia ler-se um aviso na emissão online: “As opiniões expressas neste painel são individuais, e não refletem necessariamente a visão do governo dos Estados Unidos.”

Apesar de fontes da Casa Branca terem admitido, em off, que foi essa a razão para o corte da imagem, o Departamento de Estado assegura que tudo não passou de uma “confusão” com a partilha de ecrã durante o debate. “Um simples erro”, é a justificação oficial. Também o governo de Taipei, e a ministra censurada, desvalorizam o incidente.

Segundo a Reuters, o aparecimento do mapa da polémica desencadeou uma furiosa troca de emails nos bastidores, entre a Casa Branca e o Departamento de Estado, e entre o lado americano e os representantes de Taiwan, pois esse grafismo nunca tinha surgido durante as sessões de ensaio para a Cimeira da Democracia.

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