Mais motivação para fazer uma tarefa do que outra? A culpa é deste grupo de neurónios, descobrem investigadores portugueses

19 fev 2022, 11:00
Carina Cunha, investigadora do ICVS - Life and Health Sciences Research Institute da Escola de Medicina da Universidade do Minho. (Fotografia: Universidade do Minho)

Um estudo levado a cabo pela Universidade do Minho dá mais um passo em frente na compreensão de como o cérebro codifica as situações que nos podem ou não levar a uma ação.

Um estudo da Universidade do Minho, publicado esta semana na revista Cell Reports, traz novidades sobre a forma como o cérebro controla a motivação para a realização de uma tarefa que seja executada “com a intenção de obtermos algo positivo no final, desde a mais básica como comida à mais complexa como uma recompensa monetária”, começa por explicar à CNN Portugal Carina Cunha, do ICVS - Life and Health Sciences Research Institute da Escola de Medicina da Universidade do Minho.

Segundo a investigação, também liderada por Ana João Rodrigues, que ao contrário do que até agora se sabia, há um grupo de neurónios com um papel determinante na motivação para realizar uma ação em detrimento de outras: os D2-MSN. 

Estudos anteriores tinham identificado que no nucleus accumbens, a região do cérebro que tem um papel determinante para os comportamentos motivados, havia duas populações de neurónios cuja função era codificar as recompensas, isto é, o estímulo que levaria a uma ação. Estes estudos defendiam que os neurónios D1-MSN codificavam as recompensas de forma positiva e os D2-MSN de forma aversiva (que provoca dissuasão), mas a investigação portuguesa vem contrariar essa teoria.

O estudo do ICVS - Life and Health Sciences Research Institute da Escola de Medicina da Universidade do Minho revela que o papel dos D2-MSN é mais importante do que até agora descrito na literatura e que estes neurónios “têm também um papel relevante em estímulos positivos” e que, na verdade, assumem um papel ambivalente: ativam-se perante uma recompensa e inibem-se assim que esta é conquistada.

O que descobrimos contradiz um pouco os estudos clássicos”, conta à CNN Portugal Carina Cunha. “Conseguimos dar um passo além ao identificar como os circuitos neuronais funcionam e como integram as pistas ambientais para executar um comportamento adequado às nossas necessidades e objetivos”, continua.

Carina Cunha, investigadora do ICVS - Life and Health Sciences Research Institute da Escola de Medicina da Universidade do Minho. (Fotografia: Universidade do Minho)

O papel da dopamina

Há mais de quatro anos a estudar de que forma os neurónios distinguem o prazer e a aversão e de que modo isso se espelha no comportamento humano, a equipa de investigação concluiu que os neurónios D2-MSN são ativados e inibidos em momentos específicos do comportamento motivado: apresentam uma maior atividade quando prevêem uma recompensa (pista associada ao prazer) e uma menor atividade quando já obtiveram a recompensa.

Ao contrário do que até agora se tinha como certo, o estudo português identifica que a atividade dos neurónios D2-MSN “é necessária para o valor revigorante de uma pista que prevê uma recompensa, mas não é tão relevante para a execução da tarefa, nem para o consumo da recompensa”, lê-se no estudo.

E em todo este processo, a dopamina, neurotransmissor ligado à sensação de prazer e motivação, assume um papel importante. 

Na parte de predição de obtenção de recompensa a dopamina tem um papel determinante”, diz a investigadora Carina Cunha, que continua: “à medida que a predição e obtenção de recompensa acontece, se a recompensa é a esperada, temos elevados níveis de dopamina, mas se a recompensa tiver um valor inferior há uma redução dos níveis de dopamina no nucleus accumbens”, esclarece.

De acordo com a investigadora, “os níveis de dopamina são aumentados quando estamos perante pistas de recompensas positivas e é este aumento que faz com que haja ativação destes neurónios que estamos a estudar”, os D2-MSN, e que levam à motivação para realizar uma ação.

As projeções da D2-MSN face ao que poderá ser uma recompensa “são importantes para adicionar valor para uma sugestão que prediz uma futura recompensa e aumenta o esforço para a obter”, lê-se no estudo.

Para chegarem a esta conclusão, manipularam “os neurónios em momentos específicos de comportamento”, como a previsão de uma recompensa e a conquista da mesma, e notaram que “perante uma pista de recompensa há uma ativação maior”, explica Carina Cunha. Para este processo recorreram à manipulação optogenética - que modula a atividade das células com luz.

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