Ao primeiro disparo no Estreito de Ormuz, o "impacto vai sentir-se rapidamente" em Portugal

24 jun, 11:00
Estreito de Ormuz (Getty)

 é muito complicado, eu honestamente nem sei bem pensar do que está a acontecer e (7:40) os impactos que vão acontecer se realmente isso se verificar. Eu quero acreditar que (7:46) não vai acontecer, pelo menos a 100%, porque isso vai ter o impacto a nível mundial, pelo (7:52) menos no abastimento dos combustíveis derivados do petróleo

 

provavelmente vamos ter que ir procurar combustíveis ao outro lado.

perforar e vender porque o mundo vai à procura de onde tiver o combustível. (9:57) Nós não conseguimos ainda ser sustentáveis sem os derivados do petróleo e, portanto, (10:01) vamos ter que ir à procura de algures. E esses algures, tirando aquela zona do globo onde se produz mais petróleo, e obviamente (10:12) já não temos o russo também, é ali do lado americano

 

Tudo isso vai impactar nos preços dos meios de consumo e na carteira das pessoas

Pelos 53,5 km que separam o Irão de Omã passam 20,1 milhões de barris de petróleo por dia. Dito de outra forma: a cada 24 horas passam por ali 1,29 mil milhões de euros de petróleo. E o sensível Estreito de Ormuz ficou ainda mais delicado após o ataque dos EUA ao Irão. No pior dos cenários, Portugal também vai pagar - pagar mais, literalmente mais dinheiro

O Irão voltou a ameaçar fechar o Estreito de Ormuz, por onde passa mais de 20% de todo o comércio marítimo de petróleo. Portanto: quando tempo demoraria a primeira explosão de uma mina subaquática ou o disparo de um míssil terra-mar naquela área a fazer subir o preço dos combustíveis nos postos portugueses? "O impacto sentir-se-á muito rapidamente", assegura o presidente executivo da Associação dos Transitários de Portugal (APAT), António Nabo Martins, antevendo que qualquer acontecimento em Ormuz sente-se imediatamente no aumento semanal dos preços dos combustíveis.

“Essa é a questão de um milhão de euros. Mas, de certo modo, já aconteceu. O bloqueio ainda não aconteceu, mas o preço dos combustíveis em Portugal já começou a aumentar esta segunda-feira - e de uma forma considerável”, explica António Nabo Martins.

O presidente executivo da APAT - a entidade que representam, apoia e regula os interesses das empresas de transporte e logística internacional em Portugal - garante que, perante uma tentativa de bloqueio iraniana, o que vai acontecer "imediatamente" é uma "transição para uma outra rota alternativa e isso terá custos". 

António Nabo Martins acredita que todo o petróleo que já está em trânsito não deverá ser afetado por um aumento do preço, porque a mercadoria já está contratualizada e inflacionar o custo iria contra a "ética comercial", mas "todas as cargas que a partir desse momento sejam impactadas por esse bloqueio sofrerão seguramente aumentos consideráveis". Contudo, o especialista realça que, durante "este tipo de disrupções, a ética também tende a ficar um bocadinho para trás".

Mas nota de alívio (até ver): a notícia do cessar-fogo entre Israel e Irão ajuda a ética e tudo o demais a tranquilizarem-se após todo o receio que havia antes desse cessar-fogo. Mas, e também até ver, é apenas um cessar-receio. Ou um abrandar-receio.

Ormuz, o estreito sem alternativa

Sem o Estreito de Ormuz operacional, o especialista em logística lembra que não há mais nenhuma alternativa marítima e transportar "todas aquelas toneladas de petróleo por ar teria um preço completamente absurdo".

"A alternativa teria de ser terrestre", aponta António Nabo Martins, sendo que "muitas das rotas já existentes seriam também impactadas por todo o conflito que existe em terra e até pela situação na Ucrânia/Rússia".

Além de tudo isto, o presidente executivo da APAT lembra que esta seria uma "alternativa que não é rápida" e "um processo destes significa que haverá menos disponibilidade de combustíveis fósseis".

Tráfego marítimo no Estreito de Ormuz foto Getty

António Nabo Martins explica que até ao momento o conflito entre Israel e o Irão - mesmo após o ataque dos EUA - ainda não impactou a circulação mercante entre o Golfo Pérsico e o Golfo de Omã, como tinha acontecido com os ataques dos rebeldes Houthis do Iémen contra embarcações ocidentais no Estreito de Bab al-Mandab. "Aí houve um impacto brutal, os navios tiveram de passar a dar uma volta muito maior e isso impactou o preço."

O líder da APAT reconhece que o transporte terrestre de petróleo naquela zona do globo com dois conflitos nas proximidades das rotas não é a solução perfeita e que "provavelmente vamos ter de ir procurar combustíveis ao outro lado".

"Ainda não conseguimos ser sustentáveis sem os derivados do petróleo e, portanto, vamos ter de ir à procura algures. E esses algures, tirando aquela zona do globo onde se produz mais petróleo e obviamente não temos o russo também, é o lado americano", explica.

"Recentemente havia analistas que diziam que era muito difícil fechar-se o Estreito de Ormuz, mas - e peço desculpa pela minha expressão - acho que já está tudo louco." Repetindo o desabafo: "A única palavra que tenho para isto é que isto é loucura, loucura completa. Quero acreditar que não vai acontecer, pelo menos não a 100%, porque terá um impacto a nível mundial."

Entre tantas dúvidas, o presidente-executivo da APAT diz que há apenas uma certeza sobre o conflito no Médio Oriente, o Estreito de Ormuz e o recente envolvimento direto dos EUA: "Tudo isto vai impactar nos preços dos bens de consumo e na carteira das pessoas".

Petroleiro da Nord-West Oelleitung (NWO) de passagem pela Alemanha foto Getty

A importância de Ormuz

O Estreito de Ormuz é tão importante para o comércio marítimo de petróleo que tem vindo a ser rotulado como "principal gargalo do mundo". Os dados do Departamento de Energia dos Estados Unidos mostram que cerca 27% de todo o comércio marítimo mundial de petróleo passa por aquela rota do Mar Arábico que separa Omã e os Emirados Árabes Unidos do Irão, bem como o Golfo Pérsico do Golfo de Omã.

Dos dez maiores exportadores mundiais de petróleo e derivados, cinco deles são Arábia Saudita, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e o próprio Irão. Todos situados no Golfo Pérsico. Todos dependentes do Estreito de Ormuz. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), em 2022 só esta mão cheia de países do Médio Oriente exportou cerca de mil milhões de toneladas de crude e derivados. E, em termos financeiros, o Observatory of Economic Complexity (OEC) mostra que estes mesmos países - com exceção do Irão, por falta de dados - tiveram um volume de vendas de 352 mil milhões de euros só em 2023.

Um quinto de todo o comércio marítimo de petróleo do mundo passa pelo Estreito de Ormuz (Getty)

O cenário pode ser complicado para a economia global mas é possível encontrar-se no passado algum conforto histórico: "O Estreito de Ormuz nunca foi fechado", exemplo disso mesmo foi o que aconteceu na década de 80 durante guerra entre o Irão e o Iraque, em que a ameaça iraniana foi a mesma e nunca chegou a ser cumprida. Isso mesmo foi recordado por Robert Yawger, diretor de futuros sobre energia da Mizuho Securities, à CNN Internacional após o choque entre petroleiros naquela mesma região provocado por interferências dos mísseis disparados contra Israel na semana passada.

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