Uma pérola com segunda vida em Luanda

13 mar 2017, 23:50
Diogo Rosado

Diogo Rosado chegou a ser apontado com um dos jogadores mais promissores da Academia do Sporting, mas a verdade é que desde que chegou a sénior que a carreira do perseverante médio tem tido mais baixos do que altos. Fomos encontrá-lo agora em Angola depois de uma carreira difícil de saltimbanco.

Estórias Made In é uma rubrica do Maisfutebol que aborda o percurso de jogadores e treinadores portugueses no estrangeiro. Há um português a jogar em cada canto do mundo. Este é o espaço em que relatamos as suas vivências.

Já foi apontado como uma das «pérolas» da Academia do Sporting, mas a verdade é que desde que deixou Alcochete, na passagem para senior, Diogo Rosado tem sentido muitas dificuldades em afirmar-se nos clubes por onde tem passado. E já passou por sete equipas em Portugal, já procurou a sorte em Inglaterra, chegou a jogar na II liga francesa, passou pelo Chipre e agora está em Angola. Uma carreira difícil, com mais baixos do que altos, que o jogador, depois de uma temporada em que ficou mesmo sem clube, teima em conseguir levar por diante. Esta é a história de um lutador que, com mais ou menos dificuldades, vai conseguindo manter-se no mundo do futebol.

Uma história que começa em Peniche, no início dos anos noventa. O pequeno Diogo começou a jogar nas ruas da pequena cidade pesqueira e aos cinco anos já jogava nas escolinhas do Grupo Desportivo de Peniche. Rapidamente deu nas vistas, por mais que não seja, por ser canhoto, e atraiu a atenção de um olheiro com ligações ao Sporting. «Era infantil de primeiro ano, foi lá um olheiro e pediu a três ou quatro miúdos, em incluído, para irmos fazer captações no velho campo da Torre, ao lado do antigo Estádio de Alvalade. Era um pelado ali perto». Ficou. «No primeiro ano fui para Pina Manique, fiz uma boa época. Depois fui para a Academia e fiz toda a formação até ser junior de segundo ano, foi sempre a crescer», recorda.

Uma formação que foi realmente em crescendo, ao ponto de Diogo Rosado ser apontado como uma das «pérolas» da Academia e cobiçado pelos grandes da Europa. Diogo Rosado estava integrado numa geração de vencedores que incluía, entre outros, Vítor Golas, Pedro Mendes, André Martins, Diogo Amado, Marco Matias, o nigeriano Rabiu Ibrahim, Wilson Eduardo, entre outros. «Havia vários bons jogadores. Eramos uma boa geração e qualquer um podia jogar a um bom nível». Diogo Rosado foi campeão de juvenis e duas vezes campeão de juniores, destacando-se como um médio de exceção, portador de um pé esquerdo de luxo. «Se calhar era o único com pé esquerdo e notava-se mais. Mas era um grupo de grandes jogadores, alguns conseguiram boas carreiras», comenta.

No primeiro ano de júnior, Diogo Rosado foi mesmo determinante na conquista do título para os leões, ao marcar, em pleno Estádio de Alvalade, o golo do empate diante do FC Porto (2-2), que permitiu ao Sporting segurar o primeiro lugar na última jornada. Um grande golo por sinal. «Foi um golo que marcou a minha vida. Até fiquei com expetativas de integrar o plantel principal na pré-época, mesmo sendo júnior no ano a seguir. Mas não aconteceu, não se deu o passo que faltava. Hoje em dia é mais fácil porque há as equipas B, os jogadores são lançados mais cedo, mas na minha altura acharam que eu não estava preparado e não me deram essa oportunidade».

Confira o golo de Diogo Rosado ao FC Porto (juniores)

A verdade é que já havia forte pressão de clubes estrangeiros para levar Diogo Rosado, mas o Sporting segurou a jovem promessa por mais um ano. «Continuei nos juniores e fiz uma boa época outra vez», recorda. A primeira desilusão chegou no final da época. As portas da equipa principal, então comandada por Paulo Bento, ficaram mais uma vez fechadas, e o Sporting, ainda sem equipa B, decidiu encaminhar os juniores de segundo ano para o Real Massamá. Foi quase toda a equipa que tinha sido bicampeã. «Fui para Massamá para um projeto de filiação. Eu não concordei nada, as pessoas que me rodeavam também achavam que não era o melhor para mim, até porque tinha terminado bem a época de juniores, tinha duas equipas da I Liga que queriam contar comigo. O Pedro Barbosa era o diretor desportivo e, na altura, achou que o melhor era que os juniores fossem todos para lá».

Diogo Rosado tinha, nesta altura, em 2009/10, dezanove anos, e começava, assim, uma vida de verdadeiro saltimbanco, de clube em clube, à procura da melhor sorte e, por vezes, a deixá-la escapar entre os dedos. «Nunca tive estabilidade em termos de clubes, andei sempre atrás das melhores oportunidades e nunca me consegui afirmar em lado nenhum. Esse tem sido o grande problema na minha careira, nunca conseguir a afirmação imediata num sítio só», recorda.

Depois do Real Massamá surgiu a possibilidade de rumar a Aveiro para representar o Beira-Mar. A vida de Diogo Rosado, que uns meses anos era bem mais do que promissora, começava a conhecer as primeiras curvas sinuosas. «O Costinha era o diretor desportivo e houve uma série de problemas. O Beira-Mar tinha grandes problemas financeiros e o Costinha queria implementar uma situação em que eram os clubes que tinham de pagar os salários dos jogadores emprestados. Voltei para a Academia e, afinal, fui para o Penafiel».

Em Penafiel, Diogo Rosado faz uma época intermitente, com algumas boas prestações, interrompidas por lesões. Na época seguinte, novo empréstimo, agora a levar Diogo Rosado para Santa Maria da Feira, para vestir a camisola do Feirense. Diogo Rosado ainda estava sob a aura da formação do Sporting e, com vinte anos, foi chamado por Rui Jorge à Seleção de sub-21. «Tive dois anos de Sub-21. Sempre acreditei no que podia fazer, o meu problema foi não ter estabilidade nos clubes por onde passei. Algumas situações foram por culpa minha, mas outras foi por culpa dos clubes por onde passei. Nunca me consegui afirmar-me a cem por cento. Algumas lesões também não ajudaram, mas não gosto de estar a falar do passado, prefiro olhar para a frente».

«Nuno Gomes foi o melhor colega que tive na carreira»

Seguimos em frente então. «Faço a época toda no Feirense, mas a meio da época começo a receber convites, porque o contrato com o Sporting estava a terminar». O final da relação com os leões foi complicado, mas Diogo parecia ter um mundo novo de oportunidades à sua espera. Entre várias possibilidades, Diogo Rosado escolheu o Génova da liga italiana que lhe tinha oferecido um contrato de cinco anos. Estabilidade? «O Génova queria assinar um contrato por cinco anos, só que o empresário que tinha na altura esqueceu-se de uma cópia do contrato e eles acabaram por não me inscrever. Fiquei sem clube». Começavam os problemas para Diogo Rosado. Era apenas o início de uma odisseia.

Com o mercado a fechar, Diogo Rosado, um pouco contrariado, acaba por aceitar ir jogar para o Championship de Inglaterra. «Foi à pressa, com o mercado a fechar, acabei por assinar pelo Blackburn Rovers que tinha descido à II Divisão. Eu na altura estava muito valorizado, tinha ficado livre, tinha feito uma boa época no Feirense apesar de termos descido. Para mim, ir para a II Liga inglesa era mau, mas acabei por assinar porque já foi já no final de agosto». Afinal não foi assim tão mau. Diogo Rosado acabou por encontrar o melhor colega que teve até hoje. «Fiquei surpreendido, mesmo sendo II Liga , aquilo era maravilhoso. O Nuno Gomes já lá estava desde a pré-época, eu só cheguei em agosto. O Nuno Gomes é uma pessoa espetacular, para mim é capaz de ter sido o melhor colega que já tive. Esteve sempre disponível para ajudar a resolver problemas. Apesar da diferença de idades, esteve sempre muito disponível, muito profissional e sempre me deu bons conselhos. Foi definitivamente o melhor colega que apanhei até hoje, tanto dentro, como fora do campo. É um exemplo». Mas, Nuno Gomes à parte, o Blackburn Rovers estava feito num oito. «Tinha muitos problemas internos. Tivemos cinco treinadores em seis meses», prossegue.

Sem jogar nos Rovers, Diogo viu abrir-se uma janela. «Como havia uma boa relação entre o meu antigo empresário e o Jorge Jesus que já me conhecia, o Benfica resolveu tentar o meu empréstimo para começar a jogar na equipa B com o projeto de mais tarde vir a integrar a equipa principal». E assim foi. O Benfica, na altura, procurava dar força e experiência à sua equipa B e, além de Diogo Rosado, foi também buscar Rui Fonte para juntar a um plantel que já contava com João Cancelo, Miguel Vítor, Roderick, Hélder Costa, Miguel Rosa, Ivan Cavaleiro, Deyverson e Alan Kardec. Diogo Rosado impôs-se rapidamente e marca, inclusive, um golo ao Sporting B, num jogo em que o Benfica B venceu por 3-1. «Faz parte do futebol. Tive muitos problemas com algumas pessoas no Sporting no meu último ano de contrato e houve pessoas que andaram a estragar o clube, houve muitas mudanças de treinadores, da direção, do diretor desportivo, houve muitos problemas e sai muito mal do Sporting. Tinha de seguir a minha carreira», comentou.

O Benfica, no final da época, tentou acionar o direito de opção de compra, mas não chegou a acordo com Rosado que acabou por voltar ao caótico Rovers. «A situação continuou muito complicada, não jogava e acabei por chegar a acordo com eles para me desvincular e fui para o Setúbal. Tinha mais dois anos de contrato, mas preferi sair». No Bonfim, Diogo Rosado começou por ser feliz. «Comecei com o José Mota, depois chegou o José Couceiro. No cômputo final, a equipa fez uma grande época, tendo em conta as dificuldades que o Vitória tinha na altura. Não sei se continua assim, mas na altura havia muitos problemas no Vitória». Diogo Rosado tinha mais um ano de contrato com os sadinos, mas acabou por sair de forma inesperada. «Depois veio o Domingos Paciência e disse-me logo que não contava comigo e eu cheguei a acordo com o Setúbal para terminarmos o contrato e fui para França».

Depois do Blackburn, Diogo Rosado rumava para a sua segunda experiência no estrangeiro e partia para a cidade dos Papas, Avignon, na Provença, para representar o modesto Arles no segundo escalão da liga francesa. Mais um pesadelo para o jovem médio. «Aquilo era do mais amador que havia. Os jogadores chegavam atrasados aos treinos, não havia punições, não havia nada. Chegou a uma altura em que treinador principal passou a adjunto e o adjunto passou a principal. Foi do mais amador que vi até hoje. Resolvi ir embora por altura do Natal», conta.

«Senti-me o pior jogador do Mundo»

Uma aventura breve e Diogo Rosado estava mais uma vez sem clube. Na altura valeu-lhe as boas relações que manteve com o selecionador de Sub-21. «O Rui Jorge fez tudo para me ajudar. Ainda acreditava nas minhas capacidades, achava que ainda podia dar muito. Falou com o Paulo Fonseca e, no último dia e mercado, mesmo já nas últimas horas antes do fecho, acabei por ir para o Paços de Ferreira». Na Mata Real, Diogo Rosado agarrou a titularidade no início da época, mas duas lesões musculares consecutivas afastaram-no da equipa. No final da época, Diogo Rosado estava novamente sem clube, mas desta vez, iria ser ainda mais complicado. «Depois foi a parte mais difícil na minha carreira até agora. Acabou a época, fiquei livre para assinar para algum lado. O meu empresário, na altura, encheu-me de ilusões. Um dos grandes problemas dos jovens são as ilusões que os empresários criam. Vais para aqui, vais para ali, só tens de esperar…». Diogo Rosado esperou, alguma coisa havia de chegar. «Cheguei ao final de agosto e não tinha clube. Fiquei sem clube e, ao mesmo tempo, acabou o contrato com o empresário. Deixou-me sem clube e não quis saber mais de mim. Deixou de ter responsabilidades comigo e fiquei por conta própria».

Estávamos no verão de 2015. O período mais complicado da carreira de Diogo Rosado. Seis meses sem futebol. Valeu ao médio «desempregado» o apoio incondicional de Luísa, a sua  mulher. «Senti-me o pior jogador do mundo. Graças a Deus sempre tive força para continuar a treinar todos dias sozinho. Foi muito complicado, até me custa falar sobre isso. A minha mulher foi a minha grande força. Era ela que me dava força para treinar todos os dias, chegava a treinar às seis da manhã, ia para a praia de Matosinhos correr sozinho ou ia para o Parque da Cidade do Porto. Sempre acreditei que ia ter uma nova oportunidade».

A verdade é que Diogo Rosado, então com 25 anos, nunca baixou os braços. Continuou a treinar, procurou manter a boa forma e acabou por surgir uma nova oportunidade. «Tentei falar com muitas pessoas, mas poucas me davam coisas em concreto. Diziam-me vamos ver, vou tentar, mas nada de concreto. Depois apareceu outro empresário que foi muito importante para mim. Arranjou-me clube a meio da época. Lá fui para o Chipre e fiz o resto da época». Diogo Rosado estava a caminho de Aradippou, nos arredores de Larnaca, para representar o Ermis, no campeonato do Chipre. «Correu muito bem, fiz os jogos todos de janeiro até maio», recorda. Diogo Rosado voltava a sentir o cheiro da relva e recuperava o prazer de jogar, mas estava mais prudente do que nunca. A vida foi-lhe ensinando muitas coisas e, com o aproximar do final de mais uma época, chegou-lhe uma proposta de Angola e não hesitou. «Não tenho nada assinado com nenhum empresário, estava a começar as minhas férias de verão e surgiu essa possibilidade. Na altura não tinha nada e pensei, se calhar vou já aproveitar. Não quero esperar até agosto ou setembro e ficar sem nada».

«Queria era jogar, mesmo que fosse no fim do mundo»

O convite tinha chegado de Paulo Figueiredo, antigo internacional angolano, e era para representar o Progresso da Lunda Sul, já com a época no Girabola a decorrer. «Vim com o objetivo de ficar quatro ou cinco meses, era o que faltava para o final do campeonato. Não hesitei porque já tinha tido a experiência do ano anterior de ter ficado à espera e de depois ficar sem clube. Queria era jogar e dar continuidade à minha carreira, fosse onde fosse, mesmo no fim do mundo. Num sítio qualquer, não me interessava onde, queria ir para um sítio onde as pessoas me quisessem e eu pudesse ter as condições mínimas para continua a jogar».

Um volta de 180 graus na carreira. Diogo Rosado estava a caminho de África. «Foi muito complicado. Cheguei aqui tinha temperaturas de 40 graus e treinava num sintético. Os pés queimavam. Tínhamos de treinar aos saltos porque aquilo queimava mesmo os pés. Também tive de me adaptar à altitude, foi um conjunto de coisas a que tive de me adaptar rapidamente, até porque cheguei e comecei logo a jogar». A época correu muito bem. «Correu tão bem que a equipa fez a melhor época de sempre, ficámos em quarto lugar. Para um clube que tinha vindo da II Divisão, ficar em quarto foi como ganhar o campeonato», recorda. «Passado alguns meses, a mesma equipa está no último lugar e só tem um ponto. Pela diferença, vê-se o tão bem o que correu o ano passado», acrescenta.

Uma boa época que lhe permitiu, finalmente, dar um salto para melhor. No segundo ano em Angola, Diogo Rosado estava a caminho da capital, da vistosa Luanda, para representar o campeão 1º de Agosto. «Tinha feito bons jogos, principalmente contra os clubes grandes na segunda volta. As pessoas estão atentas, têm métodos de scouting, não tão sofisticados como os nossos, mas têm os seus métodos Fui também com uma grande ajuda do professor Bento Valente que é um antigo diretor e responsável pela formação do Sporting que trabalha no 1º de Agosto e já me conhece há muitos anos, desde a minha entrada para o Sporting. Ele também me ajudou a vir para aqui».

Novo ano, nova vida no Girabola que começou a rolar em fevereiro. Diogo Rosado tem sido titular, já marcou um golo ao 1º de Maio de Benguela e é líder destacado ao fim de cinco jornadas. «Já marquei um golo e podia ter marcado mais. Anularam-me outros que em Portugal eram limpos, mas está a correr bem. Estamos em primeiro neste momento», comenta. Um futebol com diferença acentuadas em relação à Europa. «É um futebol difícil de se adaptar. Primeiro eles correm muito, mais do que deviam, às vezes correm sem necessidade. É um futebol muito físico mesmo, metem o pé onde se mete a cabeça, vão com tudo, é muito duro. Temos altas temperaturas em todo o lado, a maior parte dos campos não têm iluminação e os jogos têm de se realizar às três da tarde, sob este sol muito forte». Mas há mais. «Depois têm aquele futebol de rua, com muita qualidade técnica, mas falta-lhe cultura e disciplina tática. É o único problema deles, porque no geral o jogador angolano é um bom jogador. Não há muita informação aí em Portugal, mas têm aqui bons jogadores, o problema é que não têm bases para serem disciplinados taticamente». No plantel do 1º de Agosto, Diogo Rosado é o único português. «Têm o Rambé, um cabo-verdiano que já jogou em Portugal no Belenenses, na equipa B do Braga, no Feirense e também esteve no Vitória de Setúbal. Tem um nigeriano que é o Ibukun que passou pelo Farense. E tem o Bombó, um internacional congolês».

Diogo Rosado acaba por ser um privilegiado por jogar na equipa dos militares. «Viajamos sempre num avião militar. Mas as outras equipas viajam de autocarro. O ano passado andei sempre de avião, mas há equipas que chegam a fazer dez horas de autocarro só para irem ao jogo. O futebol aqui não é tão profissional como em Portugal, ainda está a crescer. A parte da crise também não ajuda nada em termos de condições para os mais pequenos, mas eu aqui, no 1º Agosto, tenho as condições todas. São muito mais organizados e têm mais condições do que a maioria dos clubes pequenos e médios em Portugal».

Diogo Rosado vive agora «mesmo no centro de Luanda», uma cidade de fortes contrastes. «Notam-se muito no dia-a-dia. Tem muita pobreza mesmo. O que me custa mais ver é tantas crianças sem condições, mas por outro lado, eles vivem um dia de cada vez com muita alegria, como se não tivessem dificuldades, mas na verdade têm. Esse foi o maior choque para mim, principalmente quando cheguei e fui para uma província (Lunda Sul) que ainda é bem pior do que Luanda. Mas já passou essa fase e agora já estou habituado», conta.

Afinal de contas, Diogo Rosado já está em Angola há quase um ano. «Só para terem uma noção, no balneário fazem uma chamada e temos de apresentar as caneleiras, a camisola, ver se as unhas estão grandes, se temos anéis. Coisas que em Portugal não existem». Mas há problemas mais graves. «O grande problema no futebol aqui são os campos. Nas províncias os relvados são autênticos batatais, cheios de buracos. Até existem poucas lesões tendo em conta a qualidade dos campos que existem por aqui». O Girabola este ano teve uma estreia negra, marcada pela tragédia no Uíge, que vitimou dezassete adeptos. «Pelo que percebi, venderam bilhetes a mais, ultrapassaram a lotação do estádio. Como havia malta que tinha bilhete e não deixavam entrar, tentaram forçar o portão e deu aquele problema. Morreram dezassete pessoas, por falta de segurança e organização».

«Não estou preocupado em voltar para a minha zona de conforto»

Uma exceção, garante Diogo Rosado, porque os adeptos angolanos são, acima de tudo, «divertidos». «Os adeptos são muito divertidos, muito bem-dispostos, estão sempre à espera de uma finta, de um bom passe ou de um golo. Não vibram só com os golos, fazem do futebol uma festa do primeiro ao último minuto, sempre a cantar, a aplaudir. Também assobiam, é natural, mas no geral são muito divertidos, gostam mesmo de futebol, são apaixonados por futebol».

Diogo Rosado está vacinado para as voltas que a vida lhe deu e, nesta altura, prefere viver um dia de cada vez. «Eu neste momento vivo um dia de cada vez. Amanhã [terça-feira] já vou ter outro jogo. Quero é somar jogos e minutos. Se surgir uma oportunidade, seja para onde for, estou sempre disponível, até porque não tenho ligação com empresários. É uma questão de ver, mas não tenho um sonho ou um desejo de voltar a Portugal de qualquer maneira. Prefiro afirmar-me nestes países assim, não estou preocupado em voltar para a minha zona de conforto. Qualquer um gostava de estar na sua zona, nos seus hábitos, mas isso não me preocupa. Como já vivi em vários sítios, sempre me consegui adaptar e não tive problemas com isso. Se tiver de ficar por aqui por alguns anos, não terei problema algum», conta ainda o tenaz Diogo Rosado.

Sporting

Mais Sporting

Patrocinados