Porque é que, em Hong Kong, se alugam aviões particulares para os animais de estimação

CNN , Lilit Marcus e Ivan Watson
27 fev 2022, 22:00
Animal de estimação

Na Hong Kong de 2022 é possível uma pessoa comum dizer que fretou um avião privado para o seu animal de estimação

“Um avião privado para o seu animal de estimação” é o tipo de frase que podemos esperar ouvir de uma estrela de cinema ou de um magnata dos média.

Mas na Hong Kong de 2022 é muito provável que seja uma pessoa comum a fazer esta despesa invulgar.

Muitas pessoas que se estão a afastar do centro financeiro não conseguiram garantir voos de saída para os seus cães e gatos, o que gerou grupos online de donos desesperados a tentarem juntar dinheiro para cobrir o aluguer de um avião privado.

Hong Kong tem algumas das medidas covid mais restritivas do mundo. Quase todos os não residentes estão impedidos de entrar na cidade, enquanto que os moradores que saem e regressam estão sujeitos a quarentenas de três semanas, que podem ser em hotéis caros ou em instalações de quarentena do estado - mesmo que testem negativo para o vírus várias vezes.

Em resultado disso, cerca de 40% dos expatriados entrevistados em 2021 disseram que estavam a pensar em deixar a cidade de vez e mudar-se permanentemente para outros locais.

Olga Radlynska é a fundadora e diretora da Top Stars Air, uma empresa de aviação privada com sede em Hong Kong. Diz que os negócios da Top Stars passaram a ser menos voos privados para empresários e mais alugueres de grupo para voos de animais de estimação.

“As pessoas têm de se deslocar e precisam de levar os seus animais de estimação”, diz ela. “Às vezes, os donos até já se mudaram, mas os animais de estimação continuam aqui.”

A clientela dessas companhias charter também mudou. Agora, são as pessoas da classe trabalhadora e da classe média que estão desesperadas em busca de opções numa cidade onde o setor da aviação comercial está por um fio.

Radlynska estima que o negócio de transporte de animais de estimação da sua empresa tenha crescido “700%” desde o início da pandemia. Menos de 1% são pessoas que tentam levar os seus animais de estimação para Hong Kong.

E não são apenas cães e gatos. Radlynska diz que a Top Stars também já transportou hamsters e coelhos, enquanto que Jolie Howard, CEO da corretora de charters L'Voyage, diz que a sua empresa respondeu a pedidos de transporte de pássaros e tartarugas.

Esses apelos cresceram depois de mais de 2500 pequenos animais terem sido sacrificados em Hong Kong quando um único caso da variante Delta foi rastreado num hamster de um funcionário de uma loja de animais.

Outra empresa de aviação privada com sede em Hong Kong, a Life Travel, disse à CNN que, atualmente, 98% dos seus voos são de realojamento. Antes da pandemia, a oferta principal da empresa eram os alugueres de e para o Japão. Agora, porém, voltou-se para o negócio do realojamento e opera rotas de um só sentido de Hong Kong para o Japão, para o Reino Unido e para Taiwan.

Enquanto isso, as rotas mais movimentadas da Top Star são, por ordem, Londres, Singapura, Estados Unidos, Canadá e Austrália.

Não são apenas as constantes mudanças nas restrições de viagem da covid a afetarem as viagens dos animais de estimação. Algumas companhias aéreas comerciais têm políticas rígidas sobre como os animais podem viajar - algumas exigem que os animais maiores sejam colocados em canis e/ou transportados como carga, e algumas não querem correr o risco de voar com raças de cães de nariz achatado, como os populares buldogues franceses, devido à maior probabilidade destes em terem problemas de saúde nos ares.

Howard, da companhia L'Voyage, tinha muita experiência a transportar animais de estimação a bordo de aviões particulares, antes da pandemia, mas disse à CNN que os donos dos animais ficaram cada vez mais desesperados à medida que Hong Kong cancelava os voos e bania várias companhias aéreas.

“Os animais de estimação fazem parte da família”, diz ela. “Muitas pessoas esperam 12 meses por um voo. Pelo que percebi, existem alguns milhares de animais (em Hong Kong) à espera de embarcar em voos para regressarem aos seus donos.”

Ela diz que metade dos negócios da L'Voyage, agora, está relacionado com animais de estimação.

Empresas de aviação privada como a L'Voyage trabalham em estreita colaboração com os donos de animais de estimação para garantir que os animais estão microchipados, têm a documentação em ordem, viajam em transportadoras de tamanho correto e certificadas e têm todas as vacinas necessárias para voar.

O processo pode ser assustador, e as companhias aéreas comerciais nem sempre conseguem dar apoio aos clientes.

“Neste momento”, diz Howard, “estamos a fornecer o apoio para preencher as lacunas que a companhias aéreas não conseguem preencher.”

Radlynska diz que, embora esteja feliz por a sua empresa se ter conseguido manter à tona durante um período de grandes desafios para o setor das viagens, não vale a pena tirar proveito dos infortúnios dos outros.

“Em termos de negócios, tem sido muito positivo. Mas, ao mesmo tempo, é devastador ver pessoas que estão basicamente a abandonar Hong Kong com os seus animais de estimação. E essas pessoas querem sair ontem.”

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